Mohamed Mursi, presidente do Egito: a única certeza é que as garantias democráticas para o referendo caíram consideravelmente (Alberto Pizzoli/AFP)
Da Redação
Publicado em 14 de dezembro de 2012 às 16h22.
Cairo - O referendo que o Egito realizará no sábado e no dia 22 sobre a nova Constituição, apoiado em bloco pelas forças islamitas e rejeitado pela oposição laica, representa o primeiro grande desafio que o presidente Mohammed Mursi terá que enfrentar perante o povo egípcio.
A ausência de enquetes e a extrema polarização da sociedade fazem com que seja impossível prever um resultado, embora a mobilização islamita e a ânsia de muitos egípcios pela estabilidade parecem dar tom à aprovação da nova Carta Magna, criticada por seu suposto corte de liberdades e direitos.
O projeto de Constituição foi redigido por uma Assembleia Constituinte dominada pelas forças de tendência religiosa e boicotada pelos opositores e amplos setores da sociedade civil.
Embora a minuta tenha ficado livre das propostas mais radicais que os salafistas pretendiam impor, o referendo não julgará o seu conteúdo.
A decisão de Mursi de blindar a assembleia perante os tribunais e a apressada finalização da minuta para ser submetida o mais rápido possível ao referendo fizeram com que milhares de egípcios saíssem às ruas das principais cidades do país para protestar.
No entanto, longe da praça Tahrir e do Palácio Presidencial - núcleos dos protestos -, a Irmandade Muçulmana e os salafistas realizaram um consciente trabalho de base para convencer a população de que o referendo é o ponto de partida para o decolagem econômica do Egito.
A oposição, apesar de estar unida contra Mursi, segue mantendo grandes diferenças e não decidiu, até o último momento, se irá boicotar a convocação ou pedir o "não".
Essa indecisão e sua incapacidade para chegar às camadas mais populares da sociedade colocaram em risco suas possibilidades de êxito, porque o cenário parece muito aberto.
A única certeza é que as garantias democráticas para o referendo caíram consideravelmente depois que as eleições presidenciais e legislativas foram celebradas em um entorno de uma limpeza mais do que aceitável.
Nesta referendo, não haverá observação internacional, os jornalistas ainda não foram credenciados e existem sérias dúvidas sobre a transparência na qual que será realizado por conta de duas datas de votação, 15 e 22 de dezembro, separadas por uma semana.
A partilha do plebiscito em dois dias foi necessária por conta do boicote de um grande número de juízes, que têm a missão de supervisionar a votação.
A vigilância e a segurança do referendo são, de novo, responsabilidades do Exército, como em todas as disputas eleitorais até o momento, embora algumas vozes da oposição alertaram sobre a possibilidade de explosões de violência.
Esse risco de enfrentamentos entre seguidores de Mursi e opositores foi posto em evidência em Alexandria, nesta sexta, onde pelo menos dez pessoas ficaram feridas em choques entre manifestantes de ambos os bandos nessa cidade litorânea.
O Ministério do Interior do Egito assinalou nesta sexta-feira, em comunicado, que tomou as medidas necessárias para garantir o processo e que manterá a segurança desde o exterior dos colégios eleitorais, em coordenação com as Forças Armadas, em um dia em que foi declarado feriado para que os funcionários possam comparecer às urnas.
Enquanto isso, no Cairo milhares de pessoas da Irmandade Muçulmana, salafistas e clérigos defenderam a Carta Magna no distrito de Medinat Nasser, onde reinava um clima de confiança com relação aos resultados do plebiscito.
Por seu lado, os opositores se concentraram em frente ao Palácio Presidencial e na Praça Tahrir, embora em menor número do que em outras ocasiões.
A doutora Nadia Fahmy explicou à Agência Efe que se aproximou da Praça Tahrir por conta de sua rejeição à minuta constitucional "porque não garante os direitos e a liberdade", e, segundo sua opinião, "não foi redigido com consenso".
"Se no começo da revolução estávamos otimistas, agora vemos que há um grupo que quer monopolizar o poder e, por isso, queremos o fim da Irmandade Muçulmana", disse.