Muro no México: declarações de Trump levaram a uma queda sem precedentes das detenções de imigrantes (Jose Luis Gonzalez/Reuters)
EFE
Publicado em 19 de junho de 2017 às 18h01.
Washington - O muro na fronteira com o México e os obstáculos impostos aos imigrantes por Donald Trump tiveram um efeito imediato na fronteira: nos primeiros três meses do seu mandato, o número de detidos pela Patrulha de Fronteiras dos Estados Unidos caiu a níveis mínimos.
Em janeiro foram capturados 43.000 imigrantes em toda a fronteira com o México, de 3.185 quilômetros, enquanto em fevereiro foram menos de 24.000.
Em março a cifra não chegou a 17.000, quando no verão de 2014 tinham sido alcançados recordes de 60.000 pessoas ao mês.
No refúgio mexicano Senda de la Vida, no alto de uma colina às margens do Rio Grande (chamado de Bravo pelos mexicanos) que permite ver com clareza o lado americano, os imigrantes buscam comida e abrigo, principalmente os centro-americanos, que conseguiram evitar a morte no caminho.
Após cruzar o rio, o mais provável é ser capturado pela Patrulha de Fronteiras americana, que espera do outro lado com uma forte presença de agentes motorizados, lanchas e sensores infravermelhos. Trump prometeu contratar 5.000 novos agentes.
Entre 2014 e 2016, quando se multiplicou a chegada de indocumentados de El Salvador, Honduras e Guatemala, os detidos eram libertados se fizessem parte de famílias com crianças ou a estadia em centros de detenção se prolongava.
No centro de Cáritas na cidade de McAllen (Texas), dirigido pela irmã Norma Pimentel, eles recebiam comida, banho, uma cama e pouco depois uma passagem de ônibus para encontrar-se com seus familiares nos EUA, onde iniciavam uma vida na clandestinidade.
Mas, neste ano, os anúncios do novo presidente americano de que serão multiplicados os recursos para a Patrulha e não se permitirá a liberdade humanitária de pessoas sem documentos, além da conclusão do muro que já percorre parte da fronteira, levaram a uma queda sem precedentes das detenções de imigrantes.
"A queda foi incrível. Não chegam mais de uma ou duas famílias por dia", relatou Pimentel em conversa por telefone com a Agência Efe.
O debate sobre o muro e a linha dura contra os indocumentados dissuadiu muitos, enquanto que, nas paróquias de Texas, Washington e Califórnia, os padres advertem dos perigos de se cair nas mãos das máfias, uma mensagem que termina chegando aos familiares na América Central.
A mesma mensagem é transmitida pela Patrulha de Fronteiras. "Os 'coiotes' não se importam com a vida ou a saúde dos demais, para eles (os migrantes) só significam mais dinheiro", disse um dos agentes em uma recente simulação em Laredo (Texas) para a qual convidaram jornalistas.
Nas regiões próximas à fronteira, os imigrantes chegam a caminhar até três dias em temperaturas superiores a 45 graus Celsius no verão.
Os traficantes não hesitam em abandoná-los à própria sorte, sem água nem comida, quando não podem seguir no grupo e se transformam em uma carga. A desorientação acaba na morte de muitos deles.
Na simulação em Laredo, os agentes da Patrulha recriaram um caso prático real: o resgate em terra de um migrante que tinha sido deixado para trás após quebrar um tornozelo ao cair de um morro de sete metros de altura.
"Houve muitos resgates neste ano fiscal (desde outubro do ano passado), tivemos mais de 700 resgates. Podem ser no morro, de calor, de frio, na água, resgates nos carros, em caminhões, tratores", detalhou à Efe o agente Enrique Martínez, chefe adjunto da Divisão de Ação da Patrulha no setor de Laredo, onde o rio é a barreira física que separa os dois países.
Para a organização não governamental Anistia Internacional (AI), a possibilidade de um muro, que alguns na Patrulha tampouco veem como uma barreira útil que ofereça maior segurança, terá o efeito de enriquecer as organizações criminais dedicadas a extorquir os imigrantes no lado mexicano.
"Com um muro será muito mais difícil cruzar e os imigrantes terão que recorrer às máfias para poder chegar aos EUA. Já estamos vendo as tarifas dos 'coiotes' se duplicarem em alguns pontos", disse à Efe Madeleine Penman, pesquisadora sobre imigração da AI.
O próprio Departamento de Segurança Nacional, do qual depende a Patrulha, informou no último mês de março que os "coiotes" tinham aumentado suas tarifas em 130%: de US$ 3.500 a US$ 8.000 para levar imigrantes do México aos EUA.
As redes de tráfico que conseguem burlar a Patrulha Fronteiriça abandonam os imigrantes à própria sorte em Houston ou arredores. Em algumas ocasiões, os amontoam em casas abarrotadas, replicando assim o modus operandi que utilizam no México.
Luisa Zwick, fundadora de Casa Juan Diego, o albergue de imigrantes mais antigo de Houston, afirmou à Efe que há mulheres que chegam grávidas, dão à luz e mesmo assim têm negado o direito a registrar seu bebê como cidadão americano.
Outros esperam apenas alguns dias no refúgio até que conseguem um trabalho na sombra e desaparecem.