Novo surto de coronavírus na China: Pequim aumenta as restrições para conter avanço da covid-19 (Noel Celis/AFP)
Janaína Ribeiro
Publicado em 19 de junho de 2020 às 19h15.
Última atualização em 19 de junho de 2020 às 19h29.
O vírus está vencendo. Isso é certo depois de mais de seis meses de uma pandemia que matou mais de 454.000 pessoas no mundo todo, ganha terreno em vários países e transformou a vida das pessoas de Wuhan a São Paulo.
Embora projetos promissores e rápidos de vacinas estejam em andamento na China, Europa e Estados Unidos, apenas os mais otimistas esperam que uma vacina eficaz esteja pronta para a distribuição global ainda em 2020.
Se, como a maioria dos especialistas acredita, uma vacina eficaz só estará disponível ao longo de 2021, todos nós coexistiremos com o coronavírus pelo próximo ano ou mais sem uma bala mágica. E essa próxima fase da crise pode exigir que redefinamos nossas expectativas e conscientização e mudemos nosso comportamento, de acordo com profissionais de saúde pública.
Na visão deles, o sucesso não é definido como voltar à vida de 2019. Em vez disso, trata-se de ganhar tempo e convocar a persistência e a flexibilidade política para limitar a capacidade destrutiva de uma pandemia em expansão, o que pode resultar em mais de 1 milhão de mortes globais, de acordo com uma estimativa, até que existam ferramentas médicas para tratar e imunizar efetivamente contra o vírus.
“As pessoas estão cansadas. Elas acreditam erroneamente que as coisas vão passar”, disse Cameron Wolfe, médico especialista em doenças infecciosas e professor associado de medicina da Universidade Duke. “Vamos ter de descobrir uma maneira de viver com isso.”
Para complicar, a ameaça percebida varia de bairro para bairro, e muito menos de país para país. Depende muito da gravidade dos surtos locais e da eficácia dos testes, rastreamento de contatos, distanciamento social, sistemas hospitalares e mensagens de saúde pública livres de obscuridade política.
Líderes como o presidente americano Donald Trump, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, ou o presidente Jair Bolsonaro viram suas taxas de aprovação nas pesquisas desmoronar pelo menos em parte devido às altas taxas de infecção e mortes por covid-19. Em muitos casos, as mensagens de líderes parecem conflitar com o conselho de especialistas ou se sobrepor às diretrizes das agências governamentais. Isso criou confusão e desconfiança e levou pessoas a olhar informações de saúde pública por meio de uma lente partidária.
Nem todas as notícias são sombrias. Na primeira metade do ano, governos no mundo todo recorreram a medidas de emergência, como fechamento de empresas, regras para ficar em casa e proibições de grandes reuniões. As medidas reduziram os casos, salvaram vidas e deram aos líderes tempo para estocar equipamentos e suprimentos médicos.
No entanto, esse avanço ocorreu às custas da retração econômica, aumentando o desemprego e com a injeção de trilhões de dólares em medidas de estímulo fiscal e monetário. É provável que governos relutem em recorrer a grandes paralisações novamente em algo que não seja uma catástrofe.
“Entendo que há uma percepção da necessidade de equilibrar essas considerações econômicas”, disse Ada Adimora, epidemiologista e professora de medicina em doenças infecciosas da Escola de Medicina da Universidade da Carolina do Norte. “Mas, à medida que abrimos a sociedade e temos pessoas que vão a restaurantes — você não pode usar uma máscara enquanto come —, não estamos realmente trabalhando para controlar a ameaça do vírus.”
A capacidade de coexistir com o SARS-CoV-2, como o vírus é conhecido, dependerá cada vez mais da maneira como os indivíduos avaliam riscos e tomam decisões.