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Mundo caminha para 'guerra mais ampla', alerta secretário-geral da ONU

Guerra na Ucrânia, crise climática, pobreza extrema: "iniciamos o ano de 2023 com uma convergência de desafios nunca vistos nas nossas vidas", advertiu Guterres

Gutierres: "Sem as reformas fundamentais, os países e indivíduos mais ricos continuarão acumulando riquezas e deixando apenas migalhas às comunidades e países do sul" (Anadolu Agency/Getty Images)

Gutierres: "Sem as reformas fundamentais, os países e indivíduos mais ricos continuarão acumulando riquezas e deixando apenas migalhas às comunidades e países do sul" (Anadolu Agency/Getty Images)

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AFP

Publicado em 6 de fevereiro de 2023 às 15h33.

O mundo se dirige, "com os olhos bem abertos", para uma "guerra mais ampla" ante os crescentes "riscos de escalada" na Ucrânia – alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres, na Assembleia Geral da organização, onde se fez um minuto de silêncio pelas vítimas do terremoto na Turquia e na Síria, nesta segunda-feira (6).

Guterres expressou sua "profunda tristeza" com a notícia do número de mortos no terremoto e enfatizou que a ONU está "profundamente comprometida a apoiar a resposta" para ajudar as vítimas. Mais de 2.300 pessoas perderam a vida no tremor que atingiu a Turquia e a Síria.

Guerra na Ucrânia, crise climática, pobreza extrema: "iniciamos o ano de 2023 com uma convergência de desafios nunca vistos nas nossas vidas", advertiu Guterres, que também citou o conflito entre israelenses e palestinos, passando pela situação em Afeganistão, Mianmar, Sahel e Haiti.

"Temo que o mundo esteja avançando, como um sonâmbulo, para uma guerra mais ampla e temo que esteja fazendo isso de olhos bem abertos", afirmou, em um discurso particularmente sombrio, no qual detalhou suas metas para 2023.

"Precisamos acordar e pôr mãos à obra" porque "o preço da inação excede em muito o preço da ação", reagiu, ao apresentar uma lista de questões urgentes.

No topo da lista, está a guerra da Ucrânia.

"As perspectivas de paz não param de diminuir. Os riscos de uma escalada e de mais uma carnificina não param de aumentar", disse.

O secretário-geral denunciou a ausência de "visão estratégica" e o "viés" de curto prazo dos líderes políticos e econômicos, o que não é apenas "profundamente irresponsável, mas também imoral".

"Se todos os países cumprissem as obrigações que emanam da Carta (das Nações Unidas), o direito à paz estaria garantido", insistiu.

Em relação à crise climática – recordou o secretário-geral –, o grupo de cientistas que monitoram o Relógio do Juízo Final estimou, recentemente, que a humanidade nunca esteve tão perto do fim do mundo.

- "Migalhas" para os pobres -

Guterres também destacou a necessidade de se pensar nas gerações futuras, relembrando seu apelo por uma "transformação radical" da arquitetura financeira mundial.

"Existe algo fundamentalmente perverso no nosso sistema econômico e financeiro", continuou, ressaltando a responsabilidade pelo aumento da pobreza e da fome, da desigualdade entre ricos e pobres ou do peso da dívida dos países em desenvolvimento.

"Sem as reformas fundamentais, os países e indivíduos mais ricos continuarão acumulando riquezas e deixando apenas migalhas às comunidades e países do sul", disse.

Em setembro de 2022, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento concluiu que o mundo havia regredido em cinco anos em termos de desenvolvimento humano (saúde, educação, padrão de vida).

"As metas de desenvolvimento estão desaparecendo no espelho retrovisor", lamentou, em referência aos 17 objetivos estabelecidos em 2015 para eliminar a pobreza, garantir a segurança alimentar para todos ou o acesso a energias limpas a preços acessíveis até 2030.

"Temos a oportunidade de salvá-los", disse o secretário-geral da ONU, que está organizando uma cúpula em Nova York em setembro para avaliar as metas de desenvolvimento.

Guterres também pediu ao G20 que adote medidas de apoio aos países emergentes e suas responsabilidades na luta contra o aquecimento global.

A ambição climática também será o tema central de outra cúpula em setembro em Nova York, para a qual foram convidados altos dirigentes mundiais, "com condições".

"Mostrem-nos ações aceleradas para esta década e novos planos ambiciosos de neutralidade de carbono, ou, por favor, não venham!", disse ele, também enviando uma mensagem especial aos produtores de petróleo: "se não são capazes de estabelecer um caminho plausível para zerar as emissões líquidas de energia (...), não deveriam estar no negócio".

"Precisamos de uma revolução nas energias renováveis, não de um ressurgimento autodestrutivo dos combustíveis fósseis", assegurou.

Da mesma forma, considerou que os direitos das mulheres sofrem um "revés intenso" no Afeganistão, embora não só neste país. "Metade da humanidade enfrenta as violações de direitos humanos mais estendidas de nosso tempo", finalizou.

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