Mundo

Mundo árabe sob a tensão de um efeito dominó

A queda de Mubarak e a crise de seu modelo político abrem um período de instabilidade não só para os egípcios, mas para o já conturbado Oriente Médio

Egípcia chora ao vivenciar momento histórico de seu país nesta sexta-feira (Getty Images)

Egípcia chora ao vivenciar momento histórico de seu país nesta sexta-feira (Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 11 de fevereiro de 2011 às 19h36.

São Paulo - A renúncia do presidente do Egito, Hosni Mubarak, representa o fim de um regime forte e ditatorial, mas que garantia grande parte da estabilidade do conturbado Oriente Médio. Com a queda do ditador nesta sexta-feira, abre-se um período de incertezas para a região. Outros países, como Síria, Argélia, Jordânia, Marrocos, podem aderir ao levante em efeito dominó já iniciado na Tunísia. São países com governo forte, ditatorial e centrado no Exército. “Esse modelo está em crise de legitimidade”, diz Edgard Leite, especialista em Oriente Médio da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

O levante da sociedade civil egípcia ratifica a insatisfação que começou na Tunísia, país que esteve mergulhado em protestos no último mês. Diante da impossibilidade de participar da vida política do país e sofrendo com os problemas de corrupção, pobreza e desemprego, a população se organizou e foi às ruas pedindo o fim deste padrão de governo.

Ibrahim Moheildeen, chefe do setor da América na Liga Árabe, ouvia a população gritar “Liberdade, liberdade!” nas ruas do Cairo enquanto conversava com a reportagem do site de VEJA. Ele falou sob condição de cidadão egípcio, não sendo a opinião dele necessariamente o que expressa a organização. Moheildeen acredita que cada país tem sua própria dinâmica, mas afirma que o que aconteceu nesta sexta-feira ainda será visto em muitos lugares. “A Tunísia foi o primeiro passo. Tenho certeza que muitas pessoas estão assistindo à televisão, vendo o que está acontecendo no Egito e se perguntando quando isso acontecerá com eles”, afirma.

Se, por um lado, a população alcança seus direitos democráticos, por outro, a situação de instabilidade se complica. “Há aqueles que vêem isso com muito otimismo, porque a forma como a sociedade civil se posicionou e não pode ser calada foi importante para redundar em uma democracia egípcia. Mas há os que vêem com preocupação, já que o fim de um regime forte no Egito pode complicar a situação de instabilidade no Oriente Médio", avalia.

Moheildeen acredita que independente do rumo que a oposição ou um novo regime dê ao país, as pessoas terem saído às ruas e conseguido o que pleiteavam já é motivo de comemoração. “Essa revolução foi feita pelo povo, não há líderes. Os egípcios escolheram a democracia e, definitivamente, o impacto disso em muitos outros países que ainda não a alcançaram será imenso”. Nas relações comerciais, sociais e diplomáticas ele também vê avanços. “Acho que agora haverá mais respeito dos outros países, haverá uma nova visão sobre o Egito porque escolhemos um modelo democrático”, diz.

EUA e Israel – Enquanto o modelo democrático de fato não chega, duas questões importantes não só para o Egito, mas para os países da região, podem determinar o futuro de muitos. São os acordos que o Egito mantém com Estados Unidos e Israel. Nesse sentido, é provável que o regime fixado por Mubarak ainda sobreviva. “Não será como foi até agora, mas vai sobreviver”, aposta Leite.

Isso porque, à parte da controversa Irmandade Muçulmana – maior e mais antiga organização islâmica do país –, a oposição sabe que a vida financeira do Egito está atrelada ao apoio dos Estados Unidos através do acordo comercial. E também sabe que uma indisposição com Israel seria suicida. “A aliança entre Egito e Israel é estabilizadora da região, e Mubarak foi sempre seu fiador. Mas é um acordo de sistemas, não de pessoas. Não creio que haja ruptura. Isso explodiria o Oriente Médio, poderia conduzir a uma nova guerra entre os dois”, diz Leite. "De todo modo, por algum tempo os riscos de uma mudança radical vão continuar assombrando o horizonte.”

Acompanhe tudo sobre:ÁfricaEgitoOriente MédioPolítica no BrasilProtestos

Mais de Mundo

Missão da SpaceX foi ao resgate de astronautas presos na ISS

Após morte de Nasrallah, Netanyahu afirma que “trabalho ainda não está concluído”

Bombardeio israelense atinge arredores do aeroporto de Beirute

Morte de Nasrallah é golpe contra Hezbollah, mas impactos são incertos