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Multidão de nicaraguenses desafia presidente Ortega nas ruas

Manifestações começaram contra uma reforma do sistema de aposentadorias e após pressão se estenderam à exigência de saída do poder do presidente

Nicarágua: governo de Ortega considera os manifestantes opositores como "criminosos", "golpistas" e "terroristas" (Oswaldo Rivas/Reuters)

Nicarágua: governo de Ortega considera os manifestantes opositores como "criminosos", "golpistas" e "terroristas" (Oswaldo Rivas/Reuters)

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AFP

Publicado em 12 de julho de 2018 às 20h15.

Debaixo de sol ou da chuva, segurando bandeiras da Nicarágua, milhares de opositores marchavam nesta quinta-feira (12) em Manágua para exigir a saída do poder do presidente Daniel Ortega, desafiando temores de intensificação da violência que deixa mais de 260 mortos em três meses de protestos.

"Nem um passo atrás!", "Justiça!", "Vá embora!", gritava a multidão de azul e branco, que avançava sem incidentes em seu percurso de sete quilômetros por vias estratégicas do sudeste da capital. A chuva que caiu em um trecho da rota não afugentou os manifestantes.

Carolina Aguilar, de 52 anos, disse marchar porque está "cansada de um governo que mata impunemente". "Não podemos viver com um assassino, com um escorpião que dia a dia está nos matando. Daria o meu sangue para que isso acabasse. Se é o que quer: me mate! Mas deixe o povo livre", declarou à AFP.

A opositora Aliança Cívica pela Justiça e Democracia, que reúne grupos da sociedade civil, aumentou com esse protesto a pressão, que inclui uma greve nacional na sexta-feira (a segunda durante a crise) e uma caravana no sábado pelos combativos bairros orientais de Manágua.

As manifestações começaram em 18 de abril contra uma reforma do sistema de aposentadorias, mas após a pressão se estenderam à exigência de saída do poder de Ortega, que governa desde 2007 pelo terceiro mandato consecutivo, e que é acusado de criar uma ditadura junto com sua esposa e vice-presidente, Rosario Murillo.

"Tiramos Somoza, vamos tirar Ortega"

Para responder à estratégia opositora, o governo fará na sexta-feira, dia da greve, a chamada "retirada", uma caravana que anualmente Ortega lidera por esta data até Masaya, 30 quilômetros ao sul de Manágua, para recordar um gesto da Revolução Sandinista de 1979.

O anúncio do governo colocou em alerta máximo o aguerrido bairro indígena de Monimbó, no sul de Masaya, onde seus moradores se mantêm entrincheirados atrás de grandes barreiras de pedras.

"Nunca vão entrar, a menos que matem todos", assegurou à AFP em uma dessas barricadas um homem com o rosto coberto, de gorro e camisa verde oliva.

Ortega, ex-guerrilheiro sandinista de 72 anos que lutou na insurreição popular para derrubar o ditador Anastasio Somoza, intensificou nos últimos dias as operações nas quais policiais e paramilitares derrubam os bloqueios de vias, agravando a violência.

"Estamos demostrando ao regime que não temos medo. Tiramos Somoza e vamos tirar Ortega. Temos que tirá-lo porque este homem disparou contra o povo que o elegeu", expressou Fernando Callejas, médico de 67 anos.

Um dia antes da marcha, o secretário executivo da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), Paulo Abrão, pediu ao governo, ao apresentar um relatório ante o conselho permanente da OEA em Washington, para "garantir protestos pacíficos" e que "acabe com a repressão".

O governo de Ortega considera os manifestantes opositores como "criminosos", "golpistas" e "terroristas". O chanceler Denis Moncada qualificou o relatório da CIDH de "apressado", "preconceituoso e carente de objetividade".

Diálogo: o caminho

A fim de encontrar uma saída à crise, a Igreja propôs adiantar as eleições de 2021 a 2019 na mesa de negociação entre o governo e a Aliança Cívica. Mas, no sábado, o presidente rechaçou essa iniciativa.

Após a negativa de Ortega e uma violenta incursão policial e paramilitar no domingo nas cidades de Diriamba e Jinotepe, no sudoeste do país, que deixou 20 mortos, a Igreja colocou em dúvida a continuidade do diálogo.

Mas na terça-feira, decidiu permanecer como mediadora das conversas, inclusive depois de uma agressão sofrida na segunda-feira por uma comitiva de bispos e sacerdotes, com a irrupção de grupos pró-governo em igrejas católicas de Diriamba e Jinotepe.

O Vaticano anunciou nesta quinta que não fará um protesto formal ao governo da Nicarágua depois da agressão a seu núncio apostólico, Stanislaw Waldemar Sommertag, que liderava a missão com o cardeal nicaraguense Leopoldo Brenes.

"O núncio soube gerir muito bem a situação. Não protestaremos", explicou o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, em declarações ao canal católico italiano TV 2000.

Os bispos nicaraguenses anunciaram que convocarão sessões plenárias nos próximos dias por considerar que o diálogo é a única via para resolver a grave crise, que também provocou uma abrupta e descomunal queda da economia deste país da América Central.

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