John Kerry, Enviado Presidencial Especial para o Clima dos Estados Unidos - na COP27 - Sharm El Sheikh /Egito - 2022 - UNFCCC Foto: Leandro Fonseca Data: 11 / 2022 (Leandro Fonseca/Exame)
Editor de Macroeconomia
Publicado em 16 de julho de 2023 às 11h59.
Última atualização em 16 de julho de 2023 às 12h14.
O emissário do governo dos Estados Unidos para o Clima, John Kerry, desembarcou neste domingo, 16, em Pequim com a ambição de retomar o diálogo sobre a luta contra o aquecimento global, um tema crucial para os dois maiores poluidores do planeta. Para quem se preocupa com o combate às mudanças climáticas, prestar atenção aos desdobramentos dessa visita é essencial.
Kerry, que faz a terceira viagem à China desde que assumiu o cargo em 2021, chegou ao país no momento em que o impacto da mudança climática é especialmente notório, com ondas de calor em muitas regiões do hemisfério norte.
A China não é exceção e sua capital, Pequim, registra temperatura próxima a 40 graus.
John Kerry permanecerá na China até quarta-feira e deve se reunir com seu homólogo Xie Zhenhua.
A partir de segunda-feira, "China e Estados Unidos terão conversas profundas" sobre questões climáticas, anunciou, sem revelar detalhes, o canal estatal CCTV ao anunciar a chegada de Kerry a Pequim.
Nos últimos meses, vários funcionários de alto escalão do governo americano viajaram à China para reforçar a relação bilateral. O secretário de Estado Antony Blinken visitou o país em junho e no início de julho foi a vez da secretária do Tesouro, Janet Yellen.
Estados Unidos e China são os dois maiores poluidores do planeta e as principais economias do mundo. Representam 12,5% (EUA) e 32,93% (China) do CO2 lançado na atmosfera, segundo o modelo EDGAR desenvolvido pela União Europeia.
Ou seja, Washington e Pequim são essenciais a qualquer avanço na agenda de descarbonização e combate às mudanças climáticas. Apesar disso, os países não têm uma reunião bilateral sobre a mudança climática há quase um ano.
Nesse período, as negociações entre os dois maiores poluidores do planeta ficaram suspensas enquanto os impactos do aquecimento global se intensificaram na forma de ondas de calor mortais, secas, inundações e incêndios florestais.
Com a ida de Kerry a Pequim, o objetivo é reiniciar as negociações climáticas com o governo chinês. O desafio -- e a missão -- é encontrar maneiras de trabalhar juntos para combater as mudanças climáticas, apesar das tensões entre os dois países em relação ao comércio, direitos humanos e outros assuntos.
A reunião é crucial porque os Estados Unidos e a China são as maiores economias do mundo, os maiores investidores em energia renovável e, mais importante, os maiores poluidores de combustíveis fósseis.
Em outras palavras, a velocidade -- e o comprometimento -- com que esses países reduzem as emissões e ajudam outras nações a fazer a transição para energias limpas determinará se o planeta pode evitar as consequências mais catastróficas das mudanças climáticas.
Em suma, as nações estão em dos piores momentos de sua relação diplomática com tensões exacerbadas em torno de outros temas, como a Guerra da Ucrânia, Taiwan e políticas comerciais -- como a produção de microchips. Finalmente, os líderes das duas superpotências voltaram a conversar.
Como observa o jornal americano New York Times, a relação entre os Estados Unidos e a China, no entanto, tem sido instável, com vários incidentes que prejudicaram a retomada das negociações climáticas.
Agora, o governo Biden está buscando estabilizar o relacionamento por meio de visitas de vários secretários de gabinete à China. A esperança é que as negociações climáticas possam ser separadas do conflito geopolítico entre os dois países.
Tanto os Estados Unidos quanto a China já fizeram esforços para lidar com as mudanças climáticas. O Acordo de Paris, de 2015, existe em boa medida porque os Estados Unidos e a China fizeram um acordo. Ambos os países têm metas de redução de emissões, mas também enfrentam desafios significativos.
Os Estados Unidos estão investindo em energia limpa e regulamentações para reduzir a poluição, mas ainda estão aprovando novos projetos de petróleo e gás e não cumpriram suas promessas de ajudar países mais pobres em sua transição para energia limpa.
A China lidera a produção global de veículos elétricos -- cujas empresas estão de olho no Brasil -- e energia solar, mas seu consumo de carvão continua aumentando perigosamente.
De acordo com dados do Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo (CREA, na sigla em inglês), a China acelerou significativamente a concessão de licenças, o início da construção e os anúncios de novos projetos de usinas a carvão em 2022. As novas licenças alcançaram o nível mais alto desde 2015, e a capacidade de usinas a carvão que começaram a ser construídas na China foi seis vezes maior do que no resto do mundo combinado.
Em 2022, foram iniciados 50 GW de capacidade de usinas a carvão na China, um aumento de mais de 50% em relação a 2021. Muitos desses projetos tiveram suas licenças aceleradas e foram movidos para a construção em questão de meses, ressalta o CREA.
Segundo o New York Times, o que os Estados Unidos desejam com a reunião trabalhar em questões como a redução de metano, o desmatamento e a diminuição do consumo de carvão na China. Além disso, pressionam a China para estabelecer metas climáticas mais fortes.
Por outro lado, a China quer focar nas metas e políticas já estabelecidas, mostrando seu progresso em termos de aumento do uso de energias renováveis.
O gigante asiático também deseja que as ações no campo do clima ajudem a aliviar as tensões em outras áreas, como o comércio.
No entanto, as expectativas para essa reunião são baixas, e os especialistas acreditam que o resultado mais provável será o acordo de reuniões regulares entre os dois países sobre mudanças climáticas, pavimentando o caminho para a cúpula climática da ONU em novembro.
É um pequeno primeiro passo na retomada de uma agenda mais ambiciosa.
(Com AFP)