Dados vem do World Weather Attribution (WWA), que estuda casos meteorológicos extremos (AFP/AFP Photo)
AFP
Publicado em 5 de outubro de 2022 às 20h17.
Última atualização em 5 de outubro de 2022 às 20h20.
As mudanças climáticas aumentaram o risco de seca em "ao menos 20 vezes" durante o verão passado no hemisfério norte, segundo um relatório científico publicado nesta quarta-feira (5).
A seca, que afetou vastas regiões de Europa, China e Estados Unidos, corre o risco de acontecer agora a cada 20 anos com o clima atual, ao invés de a cada 400 anos ou inclusive prazos mais longos, como acontecia no passado, segundo o relatório do World Weather Attribution (WWA).
O WWA é uma rede de cientistas que estuda a relação entre episódios meteorológicos extremos e o aquecimento global.
As consequências dessa seca impactaram o setor agrícola em dezenas de países, com colheitas em baixa e dificuldades que repercutiram nos mercados mundiais.
Esta situação também favoreceu os incêndios florestais e prejudicou a geração de eletricidade, em particular a de origem hídrica e nuclear.
Por causa das ondas de calor no hemisfério norte (fora das regiões tropicais), a probabilidade de seca se multiplicaram em um fator de "ao menos 20", detalha o texto.
Isto significa que a um metro de profundidade, os solos florestais e agrícolas sofrem uma carência de água que afeta as raízes das plantas de forma acentuada.
"Os números exatos são incertos", admitem estes cientistas, que trabalham em institutos ou organismos de prestígio.
"A verdadeira influência das atividades humanas é provavelmente mais elevada", avalia o WWA.
A temperatura média do planeta aumentou 1,2ºC desde a era pré-industrial, segundo os estudos dos climatologistas.
Os especialistas do Centro Comum de Pesquisa europeu tinham calculado que no verão passado a seca havia sido "a pior dos últimos 500 anos".
"O verão de 2022 demonstrou como as mudanças climáticas causadas pelo homem aumentam os riscos de seca agrícola e ecológica em regiões agrícolas e densamente povoadas do hemisfério norte", destacou Sonia Seneviratne, professora do Instituto para a Ciência Climática e Atmosférica em Zurique, coautora do estudo.
Nos Estados Unidos, a seca afetou o Lago Mead, que fornece energia hidrelétrica a algumas regiões do Arizona, Califórnia e Nevada (Fonte: AFP)
"Temos que parar de queimar combustíveis fósseis se quisermos estabilizar as condições climáticas e evitar que estes episódios voltem a se agravar. Serão cada vez mais frequentes e intensos com o aumento do aquecimento", alertou.
Na Europa central e ocidental, a probabilidade de seca é inferior: entre 5 e 6 vezes menos importante, segundo os cálculos.
Esta variabilidade se deve apenas à extensão do território e aos dados analisados.
"Habitualmente, os sinais relativos às mudanças climáticas são mais importantes em regiões maiores", explicou Friederike Otto, do Imperial College de Londres, outra coautora do estudo, ao apresentá-lo a jornalistas.
"Quando analisamos regiões menores, encontramos mais variações diárias da meteorologia nos dados", mas esse efeito "se atenua" quando são estudadas regiões mais vastas, explicou.