O anúncio das novas lideranças da divisão de foguetes, um ramo independente das Forças Armadas chinesas (Paul Yeung/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 2 de agosto de 2023 às 13h11.
A China anunciou, no começo desta semana, dois novos líderes de sua Força de Foguetes do Exército, uma mudança surpreendente que coloca em xeque o funcionamento interno no topo do ramo militar que supervisiona o poderoso arsenal de mísseis nucleares e balísticos do país. Na segunda-feira, a mídia estatal nomeou Wang Houbin como comandante da Força de Foguetes, e Xu Xisheng como seu comissário político.
O anúncio das novas lideranças da divisão de foguetes, um ramo independente das Forças Armadas chinesas, foi feito na segunda-feira de maneira indireta pela mídia estatal do país, que não citou o antecessor de Wang, Li Yuchao, um veterano da força que servia como comandante desde o início do ano passado. Também não houve qualquer menção oficial ao comissário anterior, Xu Zhongbo, que ocupava o cargo desde julho de 2020.
A última vez que Li e Xu Zhongbo foram citados pela imprensa estatal chinesa foi em abril, quando participaram de uma cerimônia de colocação de coroas de flores na cidade de Suzhou. De acordo com o Financial Times, autoridades estrangeiras acreditam que os dois generais estão sendo investigados por supostamente vazar segredos militares.
A substituição de duas figuras importantes da Força de Foguetes é um movimento incomum, segundo especialistas. E acontece dias depois de o chanceler chinês, Qin Gang, que também não era visto em público há um mês, ter sido substituído por seu antecessor, Wang Yi.
A remodelação também ocorre em um momento de grande importância para o setor, que controla o arsenal de mísseis balísticos, tanto nucleares quanto convencionais, de curto alcance usados para intimidar o governo autônomo de Taiwan.
Wang e Xu têm experiência na Marinha e na Força Aérea, respectivamente, e suas nomeações contrariam a política de longa data da China de colocar a força de mísseis estratégicos do país sob o comando de oficiais com experiência específica na função.
"A mudança é bastante significativa", disse à CNN Yun Sun, diretora do programa para a China do Stimson Center, centro de estudos com sede em Washington. "Especialmente em um momento em que a China está tentando construir seu arsenal nuclear para impedir uma possível intervenção dos EUA na disputa com Taiwan, a reorganização pode aumentar o ceticismo sobre a capacidade da força de realizar a missão de forma confiável e com sucesso".
Para Taylor Fravel, professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e especialista sobre os militares chineses, a decisão de nomear oficiais de fora da Força de Foguetes sugere que os problemas identificados com Li foram graves e reflete a importância da força, à medida que ela passa por uma ampliação significativa em meio à deterioração das relações com os Estados Unidos.
Desde que assumiu, em 2012, Xi comandou uma ampla reforma contra a corrupção nas Forças Armadas, expurgando vários comandantes de alta patente, dentre eles o ex-chefe do Departamento do Estado-Maior Conjunto Fang Fenghui, sentenciado à prisão perpétua em 2019.
A Força de Foguetes controla os programas de mísseis terrestres convencionais e nucleares da China, incluindo mísseis balísticos intercontinentais capazes de alcançar o território dos Estados Unidos. Nos últimos anos, Pequim acelerou o desenvolvimento de armas nucleares e caminha para ter cerca de 1,5 mil ogivas nucleares operacionais até 2035, de acordo com um relatório do Pentágono no ano passado.
De acordo com estimativas do Pentágono, o arsenal atual inclui 1.200 mísseis balísticos de curto alcance, 200 a 300 mísseis balísticos convencionais de médio alcance e um número desconhecido de mísseis balísticos convencionais de alcance intermediário, bem como entre 200 e 300 mísseis de cruzeiro lançados do solo.
O país também construiu vastos campos de silos de mísseis em sua região desértica ocidental para mísseis balísticos intercontinentais e hoje possui mais lançadores desses mísseis do que os EUA, segundo relatório encaminhado por militares americanos ao Congresso.
O sigilo sobre a vida pessoal e a saúde de altos funcionários está arraigado no Partido Comunista Chinês (PCC). Em uma das ausências mais notáveis e ainda inexplicadas dos últimos tempos, Xi desapareceu abruptamente da vista do público por duas semanas, pouco antes de assumir o poder em 2012, perdendo uma reunião com a então secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton.