Protesto: governador não conseguiu acalmar os ânimos e em novembro foi acusado de blasfêmia (Beawiharta/Reuters)
AFP
Publicado em 2 de dezembro de 2016 às 09h43.
Última atualização em 2 de dezembro de 2016 às 14h36.
Mais de 200.000 muçulmanos protestaram nesta sexta-feira em Jacarta, após uma convocação de organizações islamitas radicais, para exigir a detenção do governador cristão da capital da Indonésia, acusado de blasfêmia.
A multidão se reuniu no grande parque do monumento nacional, no centro da capital, na presença de um importante dispositivo de segurança - 22.000 policiais e militares - para evitar os atos violentos registrados em um protesto anterior, no dia 4 de novembro.
O governador de Jacarta, Basuki Thahaja Purnama, conhecido como Ahok, gerou uma onda de repúdio no país muçulmano de maior população do mundo por declarações polêmicas sobre o Islã em plena campanha para tentar a reeleição, em fevereiro de 2017.
Procedente de duas minorias - cristã e chinesa - Ahok afirmou no fim de setembro que as interpretações por determinados ulemás (teólogos muçulmanos) de um versículo do Alcorão segundo o qual um muçulmano só pode votar em outro muçulmano estavam equivocadas.
Este caso é considerado por vários analistas um teste sobre a tolerância religiosa na Indonésia, país do sudeste asiático cuja reputação de pluralismo diminuiu com o recente aumento de ataques contra minorias, sobretudo cristãs.
Após a polêmica provocada por suas palavras, o governador pediu desculpas, mas não conseguiu acalmar os ânimos e em novembro foi acusado de blasfêmia.
O governador, que era o grande favorito antes da polêmica, perdeu parte de sua popularidade e agora aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto para as eleições.
"A única coisa que queremos é justiça e com isto quero dizer a detenção de Ahok", declarou Ricky Subagia, manifestante que viajou de Garut, cidade a 200 km de Jacarta.
Vários manifestantes exibiram cartazes com a frase "Ahok na prisão". As ruas de Jacarta foram tomadas a partir da madrugada, com milhares de pessoas caminhando em direção ao parque nacional.
"Parem toda forma de blasfêmia e coloquem na prisão todos os infratores", disse Rizieq Shibab, diretor da organização radical Frente de Defensores do Islã (FPI) para a multidão, em um sermão pronunciado antes da grande oração de sexta-feira.
O presidente Joko Widodo, aliado de Ahok, se reuniu nos últimos dias com dirigentes religiosos para reduzir a tensão e se uniu aos manifestantes durante a oração do meio-dia. Ele agradeceu o fato de o protesto ter sido pacífico.
Antes da manifestação, oito pessoas suspeitas de traição foram detidas pela polícia, que não revelou detalhes. A imprensa informou que entre elas está a irmã de um ex-presidente e um general da reserva, suspeitos de tentar aproveitar o protesto para desestabilizar o governo.
Os organizadores prometeram uma manifestação pacífica, depois que o primeiro protesto de 4 de novembro terminou em confrontos: uma pessoa morreu após uma crise de asma e mais de 100 ficaram feridas.
No dia seguinte, o presidente indonésio afirmou que o protesto havia sido manipulado para a campanha eleitoral de fevereiro e disse que "líderes políticos" estavam por trás dos incidentes.
Ahok pode ser julgado em breve por insultos ao islã, um crime que pode resultar em pena de até cinco anos de prisão.