Islã: os fiéis em Meca também realizaram hoje o ritual do apedrejamento "do diabo" (Saleh Salem/Reuters)
EFE
Publicado em 1 de setembro de 2017 às 11h56.
Riad - Milhões de muçulmanos celebram nesta sexta-feira o primeiro dia da Festa do Sacrifício, a principal comemoração do Islã, que neste ano está marcada pelos conflitos na Síria e Iraque, onde os domínios do Estado Islâmico (EI) estão diminuindo.
Nesta festa, conhecida como "Eid al-Adha" em árabe, os muçulmanos degolam cordeiros - e outras cabeças de gado - ao amanhecer para relembrar a passagem bíblica segundo a qual Abraham ofereceu a Deus a vida do seu filho primogênito, que segundo a tradição islâmica não era Isaac, mas Ismael e de cujo grupo acredita-se que seja descendente de árabes.
A comemoração, como a cada ano, coincide com o final da maior peregrinação à Meca, na qual participam 2,3 milhões de fiéis procedentes de todo o mundo, segundo os últimos números oferecidos pelas autoridades sauditas.
Em Mina, perto da cidade santa do Islã, os fiéis assistiram ao sacrifício de cerca de meio milhão de cabeças de gado, entre elas cordeiros, vacas e camelos.
O sacrifício, que é realizado para se aproximar de Deus ou como penitência, é um dever para os peregrinos que têm a capacidade financeira para pagar e os mais pobres, como alternativa para poder jejuar.
As autoridades sauditas estabeleceram 32 pontos de inspeção para verificar quais as cabeças de gado estão sãs e são compatíveis com os critérios sanitários e cinco unidades para os sacrifícios, com uma capacidade total de 500 mil cabeças.
Os fiéis em Meca também realizaram hoje o ritual do apedrejamento "do diabo", consistente em jogar sete pedras nas três colunas que representam as três aparições do demônio a Abraham.
Após cumprir esse rito, para o qual existe um prazo máximo de três dias, os fiéis se barbeiam, trocam de roupa e retornam à Grande Mesquita da Meca para dar sete voltas em torno da Caaba e dar por finalizada a peregrinação, que é obrigatória uma vez na vida para todo muçulmano que possa custear a viagem.
O "Eid al-Adha" foi vivido com especial ênfase no Iraque após os últimos avanços na ofensiva contra o grupo terrorista Estado Islâmico (EI), que perdeu o controle de praticamente todas as cidades que controlava, entre elas Mossul, a grande cidade do norte do país, que foi libertada em julho.
Entre os escombros do casco antigo, a parte mais castigada da cidade pelos combates e bombardeios, os habitantes de Mossul tiveram sua primeira comemoração da Festa do Sacrifício em três anos.
Os habitantes de Mossul recuperaram tradições proibidas pelos jihadistas nesta festa, desde o sacrifício até algumas orações específicas que não se ajustam às suas regras radicais do Islã.
Na Síria o presidente, Bashar Al-Assad, se serviu do "Eid al-Adha" para celebrar os avanços contra o EI, pelo qual se deslocou à região da Al-Qalamoun, cerca de 100 quilômetros ao norte de Damasco, para realizar as tradicionais rezas do amanhecer nesta zona, onde foi expulso o grupo jihadista no começo desta mesma semana.
No Egito, país com maior população muçulmana do mundo, são realizados sacrifícios de gado em todas as cidades, especialmente no Cairo, em cujas ruas estão incontáveis currais improvisados nos quais os cordeiros aguardam o sacrifício.
Os animais, marcados para o sacrifício com pintura vermelha, são degolados em plena rua aos gritos de "em nome de Deus, Deus é grande".
No bairro cêntrico Zamalek, foram formadas longas filas frente aos locais nas ruas onde os açougueiros tosam com um machete os cordeiros e também vacas.
Amr Nabil, um dos jovens que presenciam os sacrifícios, contou à Agência Efe que toda a carne é dada aos pobres. "É melhor dar comida do que dinheiro", assevera.
Outro egípcio, que não se identifica, diz que não gosta que os sacrifícios sejam gravados, porque segundo ele "há gente mal-intencionada", que os compara com as execuções feitas pelo EI.
"Põem o vídeo de um sacrifício à esquerda e outro de execuções do Daesh à direita ", diz.