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‘Morte Digna’: Uruguai pode aprovar projeto que descriminaliza eutanásia

Canadá, Espanha e outros países já permitem procedimento com regulamentação

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Agência de notícias

Publicado em 15 de outubro de 2025 às 12h28.

Após duas décadas sofrendo de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), Beatriz Gelós está confiante de que o Senado uruguaio colocará fim a anos de idas e vindas parlamentares nesta quarta-feira, 15, para transformar em lei um projeto sobre eutanásia que enfrenta resistência.

Apelidada de "Morte Digna" e promovida pela Frente Ampla (a esquerda governante), a iniciativa descriminaliza a morte assistida sob certas condições.

A Câmara dos Deputados a aprovou preliminarmente em agosto e, no Senado, a Frente Ampla tem a maioria necessária para transformá-la em lei.

"Me daria uma paz incrível se fosse aprovada. É uma lei compassiva, muito humana, muito bem escrita", disse Gelós à AFP dias antes da votação.

Regras e requisitos para eutanásia

Se seu desejo for atendido, o Uruguai se juntará a um pequeno grupo de países que permitem o procedimento, incluindo Canadá, Países Baixos, Nova Zelândia e Espanha. Na América Latina, a Colômbia descriminalizou a eutanásia em 1997 e o Equador aderiu no ano passado.

Ser maior de idade, ser cidadão ou residente e estar mentalmente apto em fase terminal de uma doença incurável ou que cause sofrimento insuportável, com grave deterioração da qualidade de vida, são alguns dos requisitos. O paciente também deve passar por várias etapas antes de deixar seus desejos por escrito e na presença de testemunhas.

“Chegou a hora”

Gelós, de 71 anos, convive com a ELA desde os 52, uma doença neurodegenerativa que causa paralisia muscular progressiva até levar à morte. Em uma cadeira de rodas e com a voz embargada, ela está confiante de que "chegou a hora" de encerrar o debate.

E para aqueles que se opõem à eutanásia, ela diz: "Vocês não têm ideia de como é viver assim". Amante da leitura, fiel ao seu passado como professora e avó de duas crianças pequenas, ela quer "ter a opção" de dizer chega.

Ativismo e regulamentação

Para a ativista Florencia Salgueiro, do grupo Empathy, a chave para a regulamentação é o respeito ao desejo do adulto de acabar com seu sofrimento. Florencia testemunhou a luta de seu pai para receber assistência para acabar com a própria vida quando a ELA tornou seus dias insuportáveis. Pablo Salgueiro morreu aos 57 anos sem realizar seu desejo.

Os defensores do projeto de lei afirmam que sua redação oferece garantias e representa a história de um país acostumado a aprovar leis liberais, como a regulamentação do mercado da cannabis, o casamento homoafetivo e o aborto.

Opinião pública e resistência

Segundo uma pesquisa apresentada em maio pela consultoria Cifra, 62% dos uruguaios são favoráveis à legalização da eutanásia e apenas 24% se opõem ao projeto.

A Igreja Católica expressou "tristeza" com a votação positiva na Câmara dos Deputados. A resistência ao projeto de lei se estendeu para além dos círculos religiosos. Mais de uma dúzia de organizações e dezenas de indivíduos rejeitaram o projeto por considerá-lo "deficiente e perigoso".

"As pessoas mais vulneráveis estão sendo deixadas desprotegidas", disse Marcela Pérez Pascual, uma das signatárias da carta, à AFP.

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