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Morte de Fidel destaca lacuna entre gerações em Cuba

Os cubanos mais velhos se lembram da pobreza antes da revolução, os jovens apreciam a saúde e a educação gratuitas, mas temem estar ficando para trás

Cuba: "Depois que a guerra terminou, não havia uma criança em Cuba que não tinha uma escola para ir", afirmou ele (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

Cuba: "Depois que a guerra terminou, não havia uma criança em Cuba que não tinha uma escola para ir", afirmou ele (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

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Reuters

Publicado em 2 de dezembro de 2016 às 21h35.

Santa Clara/Havana - A morte de Fidel Castro ressaltou uma grande lacuna geracional entre cubanos mais velhos que se lembram da pobreza cruel antes da revolução de 1959 e jovens que apreciam a saúde e a educação gratuitas, mas temem estar ficando para trás no século 21.

Julio Lopez, 77 anos, pertence decididamente ao primeiro grupo. Ele era um menino de 14 anos faminto e de pés descalços em 1956, quando conheceu Fidel, que estava apenas começando a sua revolução nas montanhas de Sierra Madre.

Para Lopez, que mora na cidade de Santa Clara, no centro do país, e veste um velho uniforme verde oliva cheio de medalhas, Fidel é uma figura como Cristo, que deu significado e dignidade a uma vida marcada por privações.

"Nós éramos 12 irmãos, dormíamos no chão de terra, aquecido pelo fogo. Não tínhamos remédio, era pobreza extrema", afirmou Lopez sobre a sua vida antes de se juntar aos combatentes de Fidel na guerra contra o homem-forte, apoiado pelos Estados Unidos, Fulgencio Batista.

Analfabeto até Ernesto Che Guevara o ensinar a escrever o nome, Lopez foi em frente e estudou para mecânico.

"Depois que a guerra terminou, não havia uma criança em Cuba que não tinha uma escola para ir", afirmou ele, que viajou o mundo, lutou com aliados de esquerda de Cuba em Angola e trabalhou no Irã, na Líbia e no Vietnã.

Desde a morte de Fidel na sexta passada, jovens e velhos têm elogiado os êxitos dele em proporcionar educação e saúde gratuitas para todos após a revolução.

No entanto, enquanto que para veteranos como Lopez essas conquistas tornam o legado de Fidel indiscutível, para "millennials" cubanos como Ivan Garcia Milan, de 30 anos, formado em Direito, mas que faz consertos em equipamentos eletrônicos, é hora de a ilha comunista adotar mudanças econômicas profundas.

Cuba produz bem mais graduados do que pode empregar. Reformas adotadas pelo presidente Raúl Castro criaram algumas oportunidades no setor privado, mas as mudanças são lentas, e jovens cubanos estão bastante cientes do que estão perdendo.

Na casa da sua família no centro de Havana, consertando um par de fones de ouvido, Garcia disse que Cuba deveria evoluir assim como o mundo evolui.

"Fidel é uma figura respeitada, uma bússola política. Mas você não pode mudar as coisas se você coloca a política antes da economia. Não queremos terminar como a Coreia do Norte", afirmou.

"Eles dizem que alguém somente se liberta quando o pai morre. Bem, o pai morreu."

A maior parte dos cubanos somente conheceu uma economia confusa por uma mistura de políticas socialistas e um embargo econômico norte-americano de décadas.

Diferentemente de gerações anteriores, jovens cubanos têm sido provocados nos últimos anos pela possibilidade de mudanças.

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