Ativista em apoio a Mohamed Mursi: presidente deposto ressurge diante de uma situação dramaticamente transformada nos últimos quatro meses (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 13 de novembro de 2013 às 17h11.
Cairo - O presidente egípcio deposto Mohamed Mursi acusou de traição o comandante militar que o derrubou em julho e afirmou que o Egito não conseguirá retornar à estabilidade até que o golpe militar que o derrubou seja revertido e os responsáveis, julgados. As afirmações foram feitas em uma mensagem lida hoje por seus advogados.
Mursi vem tentando mobilizar seus simpatizantes desde seu recente reaparecimento depois de ter passado meses em uma prisão militar secreta onde era mantido desde o golpe de 3 de julho e não tinha nenhum tipo de contato com o mundo exterior.
O líder deposto foi transferido para uma penitenciária civil de segurança máxima na última semana, depois da primeira seção de seu julgamento por incitação ao assassinato. Lá ele teve seu primeiro encontro prolongado com um time de advogados da Irmandade Muçulmana e outros aliados e aproveitou para ditar a "mensagem ao povo egípcio" divulgada nessa quarta-feira.
O presidente deposto ressurge diante de uma situação dramaticamente transformada nos últimos quatro meses. Nesse meio tempo, a Irmandade Muçulmana tornou-se alvo de uma repressão feroz das forças de segurança, milhares de integrantes foram presos e centenas de seguidores, assassinados. O grupo foi colocado na ilegalidade por uma ordem judicial e um comitê formado pelo governo está analisando seus ativos financeiros com o objetivo de confiscá-los.
O novo governo, apoiado pelos militares, está forçando um plano de transição, apontando para novas eleições parlamentares e presidenciais do próximo ano.
Sob repressão, os protestos de apoio a Mursi tem diminuído e se reduziram a pequenos encontros em universidade ou mobilizações em alguns bairros. Contudo, oficiais de segurança temem que as movimentações ganhem novo fôlego com a retirada, prevista para amanhã, do estado de emergência e do toque de recolher impostos há três meses.
À frente da reabertura, o governo informou em nota que revisou o plano de segurança que será colocado em ação, o que inclui um aumento do efetivo policial, com postos de controle fixos e móveis nas ruas.
"Qualquer tentativa de desestabilizar o país ou minar a segurança do Estado e dos cidadãos será tratada firmemente de acordo com as leis", dizia o anúncio.
Já a declaração de Mursi elogiava os participantes dos protestos e prometia que o golpe seria revertido. "O golpe começa a desmoronar, face à firmeza do povo egípcio", disse a mensagem do líder deposto. Seus advogados afirmaram que tomaram nota das falas de Mursi e escreveram o texto que foi divulgado em público.
O presidente deposto também teria afirmando que o ministro da Defesa, general Abdel-Fattah el-Sissi, que lidera o exército, teria violado seu juramento de lealdade e cometido uma "traição contra Deus" e "contra toda a nação, dividindo o povo do Egito".
Com 62 anos de idade, o líder egípcio destituído também deu a primeira explicação sobre sua detenção. Ele afirmou que foi "sequestrado contra a própria vontade" no dia 2 de julho, véspera do anúncio de um novo presidente interino, feito por al-Sissi. Ele contou que foi mantido em uma instalação da Guarda Republicana e depois foi levado para uma base naval.
Militares e oficiais de segurança se recusavam a divulgar onde Mursi era mantido até o início de seu julgamento, alegando questões de segurança. O presidente deposto também afirmou que não encontrou nenhum líder militar durante sua detenção.
Durante o julgamento, Mursi tem-se recusado a aceitar representação legal, insistindo que ainda é o presidente eleito e que o tribunal que o acusa não tem legitimidade. Na primeira seção, ocasião na qual ele também foi visto pela primeira vez após a derrubada, o político egípcio falou de maneira desafiadora.
A transmissão ao vivo não foi permitida na corte, assim como o uso de dispositivos de gravação. A única imagem que veio a público foi um breve vídeo sem áudio, transmitido em canais estatais e independentes, onde Mursi estava com uma aparência saudável e vestia um terno escuro, saindo de um micro-ônibus para a sala de audiências.
O advogado Mohammed el-Damati, que atua como porta-voz para a equipe de defensores da Irmandade Muçulmana, disse hoje em uma conferência para a imprensa que nada mudou após o encontro com o presidente no dia anterior. Seria "muito cedo" para afirmar se Mursi irá aceitar um advogado, decisão que ele só precisa tomar na próxima audiência, dia 8 de janeiro.
De acordo com el-Damati, o grupo de advogados irá começar a buscar medidas legais contra o golpe de estado e seus responsáveis. Quando questionado sobre quais seria essas medidas legais, ele respondeu que "estas são questões espinhosas". Uma possibilidade seria fazer uma reclamação ao procurador geral, pois "o que aconteceu foi um crime". Outra possibilidade seria entrar com processo nas cortes administrativas, argumentando que as decisões tomadas por el-Sissi são "nulas e inválidas". Fonte: Associated Press.