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Modelo pacifista alemão é interrompido pela guerra na Ucrânia

Marcada pelos horrores cometidos durante o nazismo, a Alemanha por muito tempo manteve uma doutrina pacifista

Chanceler alemão, Olaf Scholz, em Berlim, em 15 de fevereiro de 2023 (Céline LE PRIOUX/AFP)

Chanceler alemão, Olaf Scholz, em Berlim, em 15 de fevereiro de 2023 (Céline LE PRIOUX/AFP)

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Agência de notícias

Publicado em 19 de fevereiro de 2023 às 12h48.

O chefe de governo alemão, Olaf Scholz, demorou apenas alguns dias para proclamar, há um ano, uma mudança estratégica para a Alemanha após a invasão russa da Ucrânia, mas essa mudança ainda é difícil de implementar.

Uma declaração do chanceler na Conferência de Segurança de Munique neste fim de semana dá uma ideia do alcance da mudança.

Ao entregar armas à Ucrânia, "assumimos a responsabilidade que um país com o tamanho, status e poder econômico da Alemanha deve assumir em tempos como este", disse Scholz a outros líderes ocidentais.

Marcada pelos horrores cometidos durante o nazismo, a Alemanha por muito tempo manteve uma doutrina pacifista.

Seduzido pelo sonho da harmonia e reunificação germano-russa pós-Guerra Fria, o país deixou desmoronar suas capacidades militares e contentou-se em ser a maior economia da Europa, sem assumir a responsabilidade pela segurança global.

"Acreditávamos que só poderia haver segurança com a Rússia, não contra ela. Foi um erro", disse à AFP Rolf Nikel, vice-presidente do think tank berlinense DGAP.

"Não tínhamos um plano B"

Todas essas certezas ruíram com a invasão russa da Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022.

Três dias depois, Scholz anunciou "uma nova era" e desbloqueou um fundo de 100 bilhões de euros (pouco mais de 100 bilhões de dólares, cerca de R$ 516 bilhões) para modernizar o exército.

A Alemanha também prometeu destinar a cada ano mais de 2% de seu Produto Interno Bruto (PIB) à sua defesa.

O modelo energético alemão, crucial para sua economia, também foi abalado. Antes da guerra, a indústria do país era abastecida 55% por gás e 35% por petróleo da Rússia.

O gás russo, a bom preço, permitiu passar por um período de transição enquanto se desenvolviam as energias renováveis, depois de a Alemanha ter decidido eliminar gradualmente a energia nuclear após a catástrofe de Fukushima em 2011.

"Achávamos que era uma dependência dupla: sim, dependíamos do fornecimento da Rússia, mas assumimos que a Rússia também dependia [da Alemanha] como vendedor. Não tínhamos um plano B", resumiu Nikel.

Para substituir os gasodutos russos, a Alemanha teve que estender a operação de suas usinas nucleares por alguns meses, reativar temporariamente usinas movidas a carvão e abrir terminais para importar gás natural liquefeito (GNL).

Independente

Um ano após o início da ofensiva russa, a Alemanha é "independente do gás russo", disse Scholz.

Na realidade, a Alemanha não teve escolha, pois a Rússia reduziu gradualmente as entregas por meio dos gasodutos Nord Stream. Em setembro, uma explosão de origem desconhecida cortou permanentemente o fluxo.

Sem o gás russo, a Alemanha agora compra GNL a preços muito mais altos, o que pode enfraquecer a competitividade de alguns setores industriais.

A virada estratégica e militar também se dá com dificuldades.

A forte impressão causada pelo discurso de Scholz em 27 de fevereiro "desapareceu com o passar dos meses" porque "a Alemanha demorou muito para começar realmente a apoiar a Ucrânia, inclusive com material militar e armas", disse Marie-Agnès Strack-

Zimmermann, do partido liberal FDP, membro da coalizão governamental.
Scholz foi criticado pela lentidão, inclusive na entrega de artilharia e tanques de combate.

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