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Ministros tunisianos renunciam após manifestações

Novo governo não foi reconhecido pelos manifestantes por manter ministros do regime anterior

Tunisianos expatriados protestam contra clima de tensão no país (Franck Prevel/Getty Images)

Tunisianos expatriados protestam contra clima de tensão no país (Franck Prevel/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 14 de junho de 2011 às 19h59.

Túnis - Quatro ministros do governo de união nacional tunisiano renunciaram nesta terça-feira, no dia seguinte a sua formação, depois que milhares de manifestantes protestaram contra a manutenção desta equipe de membros do antigo regime.

Ao mesmo tempo, o movimento islâmico Ennahda (Renascimento), perseguido pelo regime do presidente Zine El Abidine Ben Ali, anunciou sua intenção de pedir sua legislação e participar das eleições legislativas previstas para antes de meados de julho.

Em Túnis, manifestantes foram dispersos pela polícia no centro da cidade cercado pelas tropas de ordem, e que, pela manhã, revistavam pedestres e carros.

Três ministros que renunciaram pertencem à União Geral dos Trabalhadores Tunisianos (UFTT) e o quarto integrava o Foro Democrático para o Trabalho e as Liberdades (FDLT).

"Nós nos retiramos do governo a pedido de nosso sindicato", declarou à AFP Houssine Dimassi, nomeada segunda-feira ministra da Formação e do Emprego.

Os outros dois ministros, segundo Dimassi, são Abdeljelil Bédoui (ministro sem pasta) e Anouar Ben Gueddour (ministro do Transporte e Equipamentos).

O UGTT, potência central sindical, desempenhou um papel crucial nas manifestações que provocaram a queda do presidente Ben Ali, que fugiu do país no dia 14 janeiro após 23 anos no poder. Ele está refugiado na Arábia Saudita.

Os atos de violência que acompanharam a "Revolução do Jasmim" fizeram 78 mortos e 94 feridos, segundo autoridades.

O UGTT anunciou igualmente que o partido não reconhecia o novo governo do primeiro-ministro Mohammed Ghannouchi, cuja maioria dos membros pertence à União Constitucional Democrática (RCD), partido do presidente deposto Ben Ali.

Ghannouchi formou o gabinete de 24 membros, com três figuras de oposição legal, mas também - além do presidente do conselho - sete ministros do antigo regime.

Esses ministros conservaram as pastas-chave, como Interior, Defesa, Relações Exteriores e Finanças.

Ainda restam dirigentes que serviram durante a presidência de Ben Ali a alimentar a ira de milhares de tunisianos que manifestaram no centro de Túnis e em outras regiões, como Sfax (centro-leste), segunda maior cidade do país.

Na capital, a polícia reprimiu violentamente a multidão de manifestantes, que também englobava islâmicos.

"RCD assassino", entoavam os militantes. "Podemos viver só com água e pão, mas nunca com o RCD", gritavam.

A polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo e usou cassetetes para dispersar os manifestantes que, em seguida, se reagruparam para novos confrontos com as forças de ordem.

Outras manifestações ocorreram em Sidi Bouzid (centro-oeste), Regueb e Kasserine, três bastiões da "Revolução do Jasmim".

O primeiro-ministro Ghannouchi tentou justificar sua escolha nesta terça-feira na rádio francesa Europe 1, garantindo que os ministros mantidos em seu governo têm "as mãos limpas" e "uma grande competência".

Em Paris, o partido Ennahda anunciou que iria participar das eleições legislativas previstas para daqui a seis meses pelo primeiro-ministro de transição. No entanto, a formação não apresentará candidato às presidenciais.

O Ennahda, desmantelado após as eleições de 1991 quando obteve 17% dos votos, apresenta-se como um partido reformista, defendendo um islã moderado e que se diz próximo ao AKP turco, partido islâmico conservador no poder em Ancara.

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