Mauro Vieira participa de audiência na Comissão de Relações Exteriores (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Agência de notícias
Publicado em 14 de março de 2024 às 09h07.
A posição do governo brasileiro sobre o conflito entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas e a ausência de uma condenação, pelo Brasil , aos abusos cometidos pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, estão entre os temas a serem abordados, nesta quinta-feira, pelo chanceler Mauro Vieira, em uma reunião com senadores. Vieira foi convidado a participar de uma audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado.
A justificativa para o convite é que, no início de cada sessão legislativa, o ministro das Relações Exteriores comparece ao colegiado para prestar contas sobre sua pasta. O mesmo ocorre com o ministro da Defesa — que hoje é José Múcio.
Contudo, a despeito da parte burocrática da comissão, a expectativa é que os senadores explorem bastante a presença de Vieira.
Em viagem à África em fevereiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou a morte de civis na Palestina com a matança de judeus pelos nazistas e as mortes de palestinos civis na Faixa de Gaza, durante uma viagem à África, no mês passado.
Embora Lula tenha chamado os ataques de terroristas e feito vários apelos pela libertação dos reféns israelenses que estão nas mãos do grupo, o presidente sempre repete que considera um genocídio o que Israel tem feito em Gaza.
No mês passado, para demonstrar descontentamento com a forma como o embaixador do Brasil em Tel Aviv, Frederico Meyer, foi tratado pelo chanceler israelense, Israel Kratz, após a declaração de Lula, Mauro Vieira chamou de volta o embaixador. Meyer foi convocado para ir a uma reunião no Museu do Holocausto, em Jerusalém, e, de acordo com o próprio Vieira, recebeu um tratamento "inaceitável".
Outro fator que afeta a imagem de Lula é sua aproximação com o ditador venezuelano Nicolás Maduro. Na semana passada, ao lado do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, Lula provocou a reação da principal opositora de Maduro, María Corina Machado, impedida de concorrer à eleição, prevista para o próximo mês de julho, pela Suprema Corte venezuelana — que é alinhada com o mandatário.
Questionado sobre as eleições na Venezuela, Lula respondeu:
"Eu fui impedido de concorrer as eleições de 2018. Ao invés de ficar chorando, eu indiquei um outro candidato e disputou as eleições. Na Venezuela, está marcada as eleições para o dia 28 de julho, é o que eu fiquei sabendo ontem e hoje pela manhã. Agora, a pergunta de vocês é se as eleições vão ser honestas ou não. O que eu posso esperar? Que haja as eleições para a gente saber se foram democráticas ou não", disse o presidente. María Corina Machado, escolhida por uma coalizão de partidos de oposição como candidata, usou uma rede social para rebater a declaração de Lula.
"Eu chorando, presidente Lula? Você está dizendo isso porque sou mulher? Você não me conhece. Estou lutando para fazer valer o direito de milhões de venezuelanos que votaram em mim nas primárias e dos milhões que têm o direito de fazê-lo em eleições presidenciais livres nas quais derrotarei Maduro. Você está validando os abusos de um autocrata que viola a Constituição".
Segundo interlocutores do governo brasileiro, é fundamental que o acordo firmado entre governo e oposição da Venezuela, no fim do ano passado, seja cumprido. O combinado é que as eleições sejam livres, justas e transparentes. Nesse contexto, a saída encontrada para que o processo transcorra sem problemas é pelo diálogo.
Outros pontos que devem ser levantados pelos senadores são a guerra na Ucrânia, o aquecimento global, o acordo comercial em negociação entre o Mercosul e a União Europeia e o Brasil na presidência do G20. A expectativa é que Vieira faça um balanço sobre o que foi feito até o momento na política externa brasileira e depois responda as perguntas dos parlamentares.