A ministra da Transição Ecológica e Desafio Demográfico da Espanha, Teresa Ribera Rodriguez (Benjamin Legendre/AFP Photo)
Agência de notícias
Publicado em 14 de fevereiro de 2024 às 14h49.
Se Donald Trump for reeleito presidente dos Estados Unidos e continuar a se opor às negociações sobre o clima, o mundo terá um "enorme problema", advertiu Teresa Ribera, ministra da Transição Ecológica e do Desafio Demográfico da Espanha, em entrevista à AFP.
Ribera chefiou a delegação europeia na COP28, a conferência sobre o clima realizada em Dubai em dezembro, e disse que o acordo assinado na ocasião para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis deve ser acompanhado por uma "aceleração" do financiamento verde e uma saída para a pobreza global.
Ao mesmo tempo, ela diz que a questão de como financiar a transição, o tema central da COP29 a ser realizada no final deste ano em Baku, no Azerbaijão, precisa do apoio dos Estados Unidos, "o principal agente das finanças globais".
Os EUA, assim como a UE nas eleições [em junho], precisam fazer as perguntas certas: como podemos melhorar nossa vida cotidiana se não prestarmos atenção à agenda climática? Há uma espécie de ceticismo em relação a essa agenda, nós a transformamos em um bode expiatório, mas isso não corresponde à realidade. Votar sem querer ouvir essas questões seria um erro capital.
Se Donald Trump for eleito, veremos até que ponto a Lei de Redução da Inflação [uma lei de 2022 que destinou US$ 370 bilhões (1,8 trilhão de reais) para energia limpa] criou um espaço bastante sólido para o engajamento das empresas americanas.
Se Trump se opuser à agenda climática, haverá um grande problema nos EUA, mas também no resto do mundo: as decisões nas COPs da ONU são tomadas em torno da mesma mesa, há poucas questões globais em que isso acontece. Sem os americanos, isso será um problema significativo.
A China está cada vez mais convencida, assim como a UE e os EUA, de que a matriz econômica precisa ser alterada e que a cooperação sobre implicações industriais e comerciais é necessária.
A China sempre manteve sua posição comprometendo-se menos do que pode fazer. E, se for coerente, irá além de seus compromissos. Mas ela também precisa resolver as contradições persistentes sobre carbono ou práticas comerciais.
Chegar a um acordo sobre a transição para longe dos combustíveis fósseis na COP28 foi muito importante. Precisamos acrescentar mais metas quantificadas sobre energias renováveis, eficiência energética e metano.
E precisamos evitar um enfraquecimento da mensagem: o setor petrolífero, incluindo o setor petrolífero europeu, diz que ainda quer investir em combustíveis fósseis. Essa estratégia de comunicação agressiva é provavelmente a prova de que acertamos.
Precisamos avançar mais rapidamente no financiamento climático. Essa será uma das questões em Baku, mas não pode se limitar à definição de um valor, que seguirá os US$ 100 bilhões (R$ 497 bilhões, na cotação atual) [ajuda anual dos países desenvolvidos, um compromisso a ser reavaliado na COP29].
Um terceiro elemento, no centro da COP30 no Brasil, será a questão social: a meta de "emissão líquida zero" é obviamente boa, mas as pessoas também precisam de "pobreza líquida zero".
Na COP30, em Belém, todos os países terão que apresentar seus planos atualizados de redução de gases de efeito estufa. Nós, europeus, já começamos, mas o resto do mundo não está vendo muita coisa.
A COP29 será mais uma vez presidida por um grande país produtor de petróleo e gás com poder autoritário. Isso tem credibilidade?
Nós, europeus, temos que ter cuidado, pois somos especialistas em dizer ao resto do mundo o que não fazer, e esquecemos que às vezes temos problemas aqui para promover a agenda verde e apoiar as políticas sociais. O Azerbaijão tem instituições fortes o suficiente para facilitar um acordo muito ambicioso? Parece que eles terão de fazer um grande esforço, além de seu peso no cenário internacional. Mas, nesse processo, todos são importantes, grandes e pequenos.