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'Mimados': Trump volta a atacar Japão e ameaça tarifas de 35% contra o país

Escalada nas tensões pode afetar o Nikkei 225 e custar 1,2% do PIB japonês; Tóquio hesita em ceder a exigências dos EUA

Donald Trump e Shigeru Ishiba: presidente dos EUA ameaça impor tarifas de 35% contra o Japão, enquanto primeiro-ministro mantém postura 'amigável'. (AFP)

Donald Trump e Shigeru Ishiba: presidente dos EUA ameaça impor tarifas de 35% contra o Japão, enquanto primeiro-ministro mantém postura 'amigável'. (AFP)

Estela Marconi
Estela Marconi

Freelancer

Publicado em 2 de julho de 2025 às 08h57.

Última atualização em 2 de julho de 2025 às 10h29.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a elevar o tom e intensificar tensões comerciais contra o Japão, ameaçando impor tarifas de até 35% sobre produtos japoneses, ultrapassando os 24% pré-definidos para o dia 9 de julho.

“Eles deveriam pagar 30%, 35% ou o número que decidirmos, porque também temos um grande déficit comercial com o Japão”, disse Trump. “Não sei se vamos fechar um acordo. Duvido, porque o Japão é muito duro. São muito mimados.”

Analistas, no entanto, acreditam que algum tipo de acordo deve ser firmado, embora exista a preocupação sobre a postura 'amigável' que o primeiro-ministro Shigeru Ishiba esteja adotando. “Há risco de um surto dos EUA que resulte em medidas punitivas ainda mais duras”, disse Kurt Tong, ex-diplomata americano na Ásia. “Se isso acontecer, o Japão pode não ter alternativa a não ser retaliar.”

Segundo reportagem da Bloomberg, Trump tem usado uma estratégia de aumentar a pressão drasticamente para forçar concessões urgentes, assim como fez com a China. Agentes do mercado avaliam ainda há cenários nos quais as negociações possam fracassar. Mesmo com poucos especialistas apostando em um colapso no mercado acionário japonês, há projeções de que o índice Nikkey 225 possa cair para a faixa dos 38.000 pontos - uma queda de mais de 4% - em vez de superar os 40.000 pontos com um eventual acordo.

O Nikkei 225 chegou a recuar 0,6% nesta quarta-feira, 2, enquanto o iene perdeu 0,3%, negociado a 143,88 por dólar.

Para o Japão, nenhum acordo é melhor que um 'acordo ruim'

Tóquio, contudo, parece estar resistindo a ideia de impor tarifas recíprocas, como fez a China anteriormente. O Japão exige que todas as condições de Trump sejam retiradas, inclusive sobre setores como automóveis, aço e alumínio. De acordo com a reportagem, as tarifas sobre veículos estão afetando o japão de maneira dura, considerando que o setor responde por quase 10% do PIB e emprega em média 8% da força de trabalho japonesa.

“O Japão é o maior investidor global nos EUA e o maior gerador estrangeiro de empregos lá. Isso nos torna diferentes de outros países”, disse o primeiro-ministro, que afirmou preferir nenhum acordo a um acordo ruim.

Entretanto, diplomatas e especialistas acreditam que ainda é necessário que o Japão imponha mais concessões. “Temos que trabalhar diretamente com Trump para tentar evitar essas tarifas a partir de 9 de julho”, afirmou Ichiro Fujisaki, ex-embaixador japonês nos EUA à Bloomberg.

Para ele, Tóquio ainda não colocou o suficiente na mesa. Fujisaki lembrou que, embora o Japão não disponha de commodities estratégicas como terras raras, metade dos materiais usados na fabricação de semicondutores vem da indústria japonesa, o que poderia servir como ponto de pressão.

Possíveis impactos da tarifa de 35% na economia japonesa

Segundo a Bloomberg Economics, caso o Japão seja forçado a pagar as tarifas de 35% de Trump, o impacto poderia ser relevante, com queda estimada de 1,2% no PIB no médio prazo - o dobro do efeito previsto sob a tarifa atual de 10%.

Para Phillip Wool, da Rayliant Global Advisors, Trump está usando o curto prazo de 9 de julho para pressionar e conseguir concessões. “Há muito teatro político aqui. Trump quer parecer duro para os eleitores, mas em algum momento precisará de um acordo que salve as aparências para evitar destruição mútua e tarifas permanentemente altas.”

Apesar das incertezas, o consenso é que um acordo será fechado, ainda que o Japão precise ceder mais terreno. “Se for concluído, não acho que será um acordo ganha-ganha”, disse Fujisaki. “Talvez seja uma 'VITÓRIA’ em maiúsculas para os EUA e uma 'vitória’ em minúsculas para o Japão.”

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