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Milhares protestam contra a 'austeridade' na França em meio a controvérsia orçamentária

Milhares de franceses protestam contra a austeridade e exigem maior taxação dos ricos, em meio a uma crise política e econômica crescente no governo de Macron

AFP
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Agência de notícias

Publicado em 18 de setembro de 2025 às 15h43.

Centenas de milhares de pessoas se reuniram nesta quinta-feira, 18 de setembro, em diversas cidades francesas para protestar contra as políticas de "austeridade" implementadas pelo governo e exigir uma maior taxação dos super-ricos.

A manifestação foi convocada por sindicatos e visou pressionar o novo primeiro-ministro, Sébastien Lecornu, a abandonar o plano orçamentário de 2026, que prevê cortes significativos e medidas fiscais impopulares.

Protestos contra a política fiscal e o governo de Macron

Os manifestantes expressaram sua insatisfação com o presidente Emmanuel Macron e com as políticas fiscais que, segundo eles, favorecem os mais ricos à custa da população em geral. “Quando vemos os mais ricos enchendo seus bolsos às custas do povo e se pede às classes populares que apertem ainda mais o cinto, chega um momento em que não aguentamos mais”, declarou Paul, um mecânico de bicicletas de 29 anos, durante a manifestação em Paris.

Os protestos foram desencadeados pelo plano orçamentário do ex-primeiro-ministro François Bayrou, que, com seu projeto para 2026, propôs cortes de 44 bilhões de euros (aproximadamente R$ 276 bilhões) e a supressão de dois feriados. Embora Bayrou tenha sido derrubado na semana passada, seu sucessor, Lecornu, ainda enfrenta resistência da população, que exige mudanças substanciais.

Participação e demandas dos manifestantes

De acordo com as autoridades, cerca de 500 mil pessoas participaram dos protestos, enquanto o sindicato CGT elevou esse número para mais de um milhão. A líder sindical da CFDT, Marylise Léon, afirmou que a mobilização foi um “aviso muito claro” para o governo de Lecornu.

O movimento também exigiu a implementação de uma "taxa Zucman", que propõe tributar em 2% ao ano os patrimônios superiores a 100 milhões de euros (aproximadamente R$ 627 milhões). Segundo uma pesquisa recente, 86% dos franceses apoiam essa medida de justiça fiscal.

Impactos da greve e repressão policial

O dia de protestos começou com greves e bloqueios em diversos setores, incluindo transporte público e escolas. Mais de 80 mil policiais e gendarmes foram mobilizados para manter a ordem, com confrontos esporádicos em cidades como Paris, Nantes e Rennes. Até o final da tarde, 181 pessoas haviam sido detidas, conforme o Ministério do Interior.

Em um protesto simbólico, manifestantes invadiram o Ministério das Finanças por 20 minutos, pedindo que o governo "procure o dinheiro onde está: nos bolsos dos mais ricos", como declarou Fabien Villedieu, do sindicato SUD Rail.

Desafios políticos para Lecornu e Macron

Lecornu, que assumiu o cargo em meio a uma crise política, já rejeitou a implementação da "taxa Zucman" devido à oposição de seus aliados conservadores e à pressão do setor empresarial e da extrema direita. No entanto, ele se mostrou "disposto" a discutir questões de "justiça fiscal" com os sindicatos.

A crise política se intensificou com o rebaixamento da nota da dívida soberana francesa pela agência Fitch e com o aumento das manifestações de descontentamento com o governo. Lecornu deverá apresentar o projeto de orçamento em meados de outubro, em um momento de crescente pressão para reduzir o déficit fiscal e a dívida pública, que está em 114% do PIB.

Enquanto isso, o líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, declarou que a crise atual é resultado da "ação caótica" de Macron, e pediu sua renúncia, ecoando os chamados presentes nas manifestações.

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