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Milhares de manifestantes tomam as ruas de Bangkok contra o governo

População exige mais democracia, a renúncia do primeiro-ministro e até mesmo uma reforma da monarquia

Bangkok: manifestação contra o governo (SOPHIE DEVILLER/AFP)

Bangkok: manifestação contra o governo (SOPHIE DEVILLER/AFP)

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AFP

Publicado em 19 de setembro de 2020 às 15h58.

Bangkok neste sábado(19) para exigir mais democracia, a renúncia do primeiro-ministro e até mesmo uma reforma da monarquia, um assunto tabu na Tailândia

A manifestação começou no campus da faculdade Thammasat, cenário em 1976 de um massacre no qual dezenas de estudantes pró-democracia foram mortos pelas forças de ordem, apoiadas por milícias ultramonárquicas.

Neste sábado, os manifestantes marcharam em direção à icônica Praça Sanam Luang, em frente ao famoso Grande Palácio, onde alguns devem passar a noite.

No domingo, uma nova caminhada está planejada no centro da capital.

No final da tarde, a polícia anunciou a presença de mais de 15.000 manifestantes, enquanto os organizadores mencionaram "dezenas de milhares de pessoas".

"É a maior manifestação desde o golpe de 2014", que levou ao poder o primeiro-ministro Prayut Chan O Cha, legitimado desde então por eleições polêmicas, disse Parit Chiwarak, uma das figuras do movimento.

“É uma virada na história do país”, disse Patipat, um professor de 29 anos.

Os protestos, que tomam as ruas quase todos os dias desde o verão boreal, reúnem principalmente jovens, estudantes e trabalhadores.

Outros militantes pertencentes ao movimento dos camisas "vermelhas", apoiadores do ex-primeiro-ministro no exílio Thaksin Shinawatra, também aderiram ao movimento.

"A juventude deste país não vê futuro", disse Thaksin Shinawatra, derrubado em um golpe há 14 anos, em um comunicado neste sábado, sem endossar explicitamente os manifestantes.

No centro de suas demandas estão o fim do "assédio" aos adversários políticos, a dissolução do parlamento com a renúncia de Prayut Chan O Cha e a revisão da Constituição de 2017, elaborada na época da junta e considerada muito favorável ao Exército.

Parte dos manifestantes vai mais longe, ousando enfrentar a realeza. Algo nunca antes visto no país onde, apesar das sucessivas derrubadas de regimes (12 golpes desde 1932), a monarquia permaneceu até agora intocável, protegida por uma das mais severas leis de lesa-majestade do mundo. 

Suas demandas não são menos audaciosas, pois exigem a não ingerência do rei nos assuntos políticos, a revogação da lei sobre lesa-majestade e a devolução dos bens da Coroa ao Estado.

O soberano tailandês, além de seu status como monarca constitucional, tem uma influência considerável que ele exerce na maioria dos casos nas sombras.

O atual monarca, Maha Vajiralongkorn, que assumiu o trono em 2016 após a morte de seu pai, o venerado Rei Bhumibol, é uma personalidade controversa.

Em poucos anos, ele reforçou a autoridade de uma monarquia já muito poderosa, assumindo diretamente o controle da fortuna real. Suas frequentes viagens à Europa, mesmo em meio à pandemia de coronavírus, também levantam questões.

O primeiro-ministro alertou contra essas manifestações, chamando-as de uma possível ameaça de uma nova onda de infecções na Tailândia.

Até agora, o país registrou apenas 3.500 casos e 58 mortes por covid-19. Isso pode “destruir a confiança dos investidores” e prejudicar o país, já atingido pela crise econômica ligada à pandemia, afirmou.

As manifestações se desenvolveram até agora de forma pacífica em um país acostumado a protestos sangrentos, como em 1973, 1976, 1992 e 2010.

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