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Milhares de intocáveis protestam contra agressões na Índia

Manifestações ocorrem após supostos grupos radicais indianos causarem a morte de um jovem da casta na segunda-feira

Índia: comunidade dalit é ainda vítima do abuso e do desprezo dos mais extremistas dentro das castas superiores na Índia (Shailesh Andrade/Reuters)

Índia: comunidade dalit é ainda vítima do abuso e do desprezo dos mais extremistas dentro das castas superiores na Índia (Shailesh Andrade/Reuters)

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EFE

Publicado em 3 de janeiro de 2018 às 13h50.

Nova Délhi - Milhares de intocáveis ou dalits, membros da casta mais baixa do sistema hindu, se manifestaram nesta quarta-feira no estado de Maharashtra, no oeste da Índia, para protestar contra as agressões de supostos grupos radicais indianos que na segunda-feira causaram a morte de um jovem da comunidade.

Na metrópole de Bombaim, capital de Maharashtra e centro financeiro da Índia, a situação foi "tensa" durante a maior parte do dia, com queima de veículos e interrupção de vias, declarou à Agência Efe um porta-voz da polícia da cidade, que pediu anonimato.

Para diminuir o efeito dos congestionamentos, a polícia de Bombaim foi informando durante todo o dia em sua conta do Twitter sobre estradas e vias interrompidass, além das possíveis rotas alternativas para evitar os manifestantes.

Sidesh Sawant, porta-voz da polícia de Maharashtra, explicou à Agência Efe que no resto do estado a situação também era "ruim", com a interrupção de estradas e "veículos danificados".

Grupos dalits (termo que substitui o mais pejorativo "intocável") em Maharashtra convocaram ontem mobilizações em todo o Estado para protestar pelas agressões sofridas na segunda-feira de grupos radicais indianos nas proximidades da localidade de Bhima Koregaon, cerca de 300 quilômetros ao sul de Bombaim.

Nessa cidade, os dalits celebravam o 200° aniversário da batalha de Koregaon, um importante evento para o "orgulho dalit", já que foi nessa disputa em que soldados intocáveis, às ordens dos britânicos, derrotaram um Exército formado por membros da comunidade maratha, de status social superior aos intocáveis e majoritária na região.

O nacionalismo hindu vê essa batalha como uma traição ao interesse da Índia.

"Este ano era o 200° aniversário da batalha, mas alguns grupos radicais indianos atacaram as pessoas com pedras. O Governo tampouco está fazendo nada contra eles. Por isso protestamos", disse à Efe Pravin S. Jadhao, porta-voz do partido dalit Bharipa Bahujan Mahasangha (BBM), impulsor do protesto.

Hemant Gaikwad, porta-voz do grupo de intocáveis Samta Sinik Dal (SSD), explicou à Efe que desde sua formação também pediram a todos seus seguidores que apoiem as mobilizações.

"É um protesto pacífico em todo Maharashtra", assegurou Gaikwad.

O chefe de Governo de Maharashtra, Devendra Fadnavis, escreveu ontem no Twitter que tinha ordenado uma investigação sobre os distúrbios e a morte do jovem, além de uma compensação de 1 milhão de rupias (US$ 15 mil) para sua família.

O rebuliço chegou inclusive ao Parlamento em Nova Délhi, onde hoje foi preciso cancelar a sessão em várias ocasiões por protestos da oposição indiana sobre a suposta inação do Governo para pôr fim aos ataques a intocáveis.

A comunidade dalit é ainda vítima do abuso e do desprezo dos mais extremistas dentro das castas superiores na Índia, que os veem muitas vezes como agentes contaminantes da pureza hindu, apesar de a legislação e Constituição do gigante asiático possuírem numerosos parágrafos que os protege e apoia.

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