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Milei tem semana difícil: desencontro com Trump, derrota no Congresso e disparada do risco-país 

Presidente argentino busca apoio do republicano para obter novo empréstimo bilionário do FMI

Javier Milei, durante cerimônia em 2 de abril (Luis Robayo/AFP)

Javier Milei, durante cerimônia em 2 de abril (Luis Robayo/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 6 de abril de 2025 às 06h00.

O presidente argentino Javier Milei teve vários desafios na última semana, que terminaram com maus resultados. Ele teve uma derrota no Congresso, foi até a Flórida se encontrar com o líder americano Donald Trump, mas não foi recebido, e viu os indicadores econômicos do país piorarem.

Na quinta-feira, 3, o Senado argentino rejeitou as candidaturas de dois juízes indicados por decreto por Milei para integrar a Suprema Corte de Justiça. O governo precisava do apoio de dois terços da Casa, onde conta com apenas sete senadores próprios, mas as indicações foram rejeitadas por ampla maioria.

"Pela primeira vez na história, o Senado rejeitou indicações propostas por um presidente por motivos meramente políticos e não por questões de idoneidade, o que evidencia mais uma vez que a Câmara Alta é o refúgio da casta política no Congresso", disse o governo, em nota.

Enquanto o Senado debatia as nomeações, Milei viajou para os Estados Unidos, com a expectativa de se reunir com Trump. Ele foi até a Flórida, onde o republicano passa os momentos de folga, para encontrá-lo em um evento, mas os dois não se viram, mesmo tendo estado no mesmo local com pouco tempo de diferença.

As causas deste desencontro ainda estão sendo esclarecidas. Segundo o jornal Clarín, Milei participou de um evento na noite de quinta, no qual recebeu um prêmio, e, depois, se encontraria com Trump. No entanto, o líder americano se atrasou e chegou em Mar-a-Lago às 22h50, sendo que Milei e sua comitiva haviam deixado o local às 22h30. Em uma das versões, o presidente argentino teria se cansado de esperar e decidiu ir embora, pois seus auxiliares não teriam conseguido confirmar se Trump iria de fato encontrá-lo.

Há, ainda, relatos de que o Serviço Secreto considerou que o salão do evento não estava em condições de segurança de receber Trump, e o presidente foi orientado a apenas saudar os presentes de uma sacada do local, sem se demorar, ainda conforme o Clarín.

Outra frustração da equipe de Milei é que a diplomacia argentina não conseguiu marcar uma visita oficial do líder argentino à Casa Branca, sendo que o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, será recebido em Washington, no dia 14 de abril.

Acordo com o FMI

Milei espera que Trump o ajude a fechar um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) algo fundamental para que seu plano de recuperação da economia argentina possa avançar. Se o país ficar sem acesso a dólares, sua crise econômica se agravaria de forma severa.

O acordo com o FMI continua sendo debatido e espera-se que envolva um empréstimo de US$ 20 bilhões. Um dos pontos em debate é quando seria liberada a primeira parcela e seu valor. Quanto maior a quantia e mais rápido o pagamento, melhor para Milei. A demanda argentina é que a primeira parcela possa ser de US$ 8 bilhões.

O líder argentino tem pedido ajuda de Trump para liberar o dinheiro porque os EUA são os maiores financiadores do FMI. A gestão do republicano, no entanto, tem sinalizado que quer uma contrapartida: que a Argentina reveja sua relação com a China, o maior parceiro comercial atual dos argentinos. Além disso, autoridades do FMI estariam pedindo mais esclarecimentos sobre os planos econômicos de Milei.

Conforme as negociações se estendem, a tensão aumenta no mercado argentino, que tem visto a cotação paralela do dólar, o "blue", subir. Na sexta, estava na faixa de 1.300 pesos por dólar, enquanto a cotação oficial, de acesso controlado, era de 1.095 pesos. Em janeiro, o Blue estava na faixa de 1.200 pesos. O risco-pais da Argentina, índice calculado pelo banco JP Morgan que mede a capacidade nacional de honrar suas dívidas, subiu de 570 pontos no começo do ano para 925 na última sexta.

A economia argentina tem se mostrado mais estável sob Milei, que conseguiu baixar a inflação de 200% ao ano para 66%, embora o poder de compra no país tenha caído. Além da expectativa de acordo com o FMI, a Argentina tem risco de ver as coisas piorarem com as medidas protecionistas de Trump e o pessimismo que derrubou as bolsas pelo mundo na quinta e na sexta-feira passadas.

Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial da Argentina, e as novas taxas poderão impactar o equivalente a US$ 1,8 bilhão em mercadorias, segundo a consultoria Empiria. Na quinta, Milei disse que a Argentina iria ajustar regulações para cumprir com as novas tarifas americanas, durante seu discurso em Mar-a-Lago. Ele foi aplaudido pela plateia, mas Trump não estava lá para ouvi-lo.

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