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Milei: 'Mercosul não pode continuar sendo uma cortina de ferro'

Em cúpula do Mercosul, presidente argentino defendeu mais liberdade econômica e novas parcerias internacionais

Javier Milei defende maior abertura econômica e flexibilidade nas regras do Mercosul. (Emiliano Lasalvia / AFP)

Javier Milei defende maior abertura econômica e flexibilidade nas regras do Mercosul. (Emiliano Lasalvia / AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 3 de julho de 2025 às 11h12.

Em seu discurso de encerramento da presidência pro tempore da Argentina no Mercosul, o presidente do país, Javier Milei, deixou claro que o principal interesse de seu governo no bloco é a abertura de novos mercados para as exportações argentinas.

Milei pediu mais liberdade econômica dentro do Mercosul, mais flexibilidade das regras internas do bloco, e assegurou que ele não pode continuar sendo “uma cortina de ferro” para seus membros.

Negociações e parcerias internacionais

O presidente argentino celebrou o encerramento das negociações com a União Europeia (UE), com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), bloco econômico formado por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein, e defendeu o avanço das conversas com Israel, Emirados Árabes Unidos, El Salvador e Panamá.

Caso a agenda prioritária da Argentina não seja compartilhada pelos demais sócios do bloco, frisou o presidente argentino, “o faremos juntos ou sozinhos”.

Liberdade econômica e urgência para a Argentina

— A Argentina não pode esperar, precisamos de mais liberdade de forma urgente. Deixamos para trás décadas de estagnação. Os sócios do Mercosul devem decidir se querem ajudar no caminho que iniciamos. O faremos juntos ou sozinhos — declarou Milei, num discurso que leu, sem improvisações e com uma expressão séria.

Conciliação com o Brasil e foco no Mercosul

Antes do início do encontro, os presidentes tiraram uma foto no Palácio San Martin, sede da chancelaria argentina, na qual Lula esteve ao lado do anfitrião.

Os dois presidentes não trocaram muitas palavras, apenas um cumprimento formal. Como era esperado, a visita do presidente brasileiro à ex-presidente argentina, nesta quinta, não foi comentada pelos argentinos. Milei focou seu discurso nos dois pontos que mais interessam à Argentina quando o assunto é Mercosul: comércio e segurança.

— Temos de deixar de pensar o Mercosul como um escudo que nos proteja do mundo, e sim como uma lança que nos permita entrar em mercados globais — assegurou o presidente argentino.

Defesa da soberania e críticas à Venezuela

Num momento conciliador de seu discurso, Milei agradeceu o apoio dos demais países do bloco à demanda da Argentina pela soberania das ilhas Malvinas, uma luta dos argentinos que todos os governos brasileiros, de todas as cores políticas, sempre apoiaram. Mas a maior parte do discurso do presidente argentino foi dedicada a deixar claro que seu país quer um Mercosul aberto ao mundo, com total liberdade econômica, o que implicaria modificar muitas de suas regras originais.

Nos seis meses de sua presidência pro tempore, a Argentina conseguiu vitórias nesse sentido, ampliando exceções da Tarifa Externa Comum (TEC, que taxa produtos de fora do bloco), e encerrando as negociações com a EFTA. Mas Milei quer mais, e disse esperar que o Brasil, que nesta quinta assumiu a presidência do bloco, “dê continuidade ao que nós começamos”.

Posição sobre a Venezuela e segurança regional

O governo argentino tentou emplacar uma declaração sobre a Venezuela que, segundo fontes oficiais brasileiras, continha uma linguagem dura, na avaliação de outros países do bloco.

O Brasil poderia aceitar um texto sobre Venezuela, inclusive na declaração final de presidentes, sempre e quando, disse uma das fontes consultadas, além de condenar a violação dos direitos humanos, também fossem condenadas as sanções contra o país. A negociação não avançou, e não haverá, sequer, uma declaração separada sobre o assunto.
Porém, em seu discurso, Milei condenou a situação no país:

— Condenamos os casos de detenções ilegais na Venezuela, onde as pessoas são presas e seus direitos são violados. Voltamos a reclamar a liberação do policial militar Nahuel Gallo — afirmou Milei.

Combate ao crime organizado e futuro do Mercosul

O presidente defendeu a proposta de seu país de criar uma agência de combate ao crime organizado no Mercosul para conter o avanço de grupos como o Comando Vermelho na região. No final, Milei pediu que “as forças dos céus nos acompanhem”, expressão frequente em seus discursos, que faz referência ao Livro dos Macabeus, onde se diz que "a vitória na batalha não depende do número de soldados, mas das forças que vêm do céu”.

Neste caso, talvez pela plateia de diplomatas e presidentes, o presidente argentino evitou seu famoso grito de guerra, "Viva la libertad carajo" (viva a liberdade, caralho, em tradução livre).

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