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Mídia mexicana está viciada em dinheiro político

O governo federal gastou cerca de US$ 540 milhões em publicidade, embora tenha reduzido o investimento em educação e o apoio aos agricultores

Cidade do México, capital do país: governo federal cortou investimentos em educação, mas gastou mais que o dobro do orçamento em publicidade (Wikimedia Commons/Reprodução)

Cidade do México, capital do país: governo federal cortou investimentos em educação, mas gastou mais que o dobro do orçamento em publicidade (Wikimedia Commons/Reprodução)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 5 de novembro de 2017 às 06h00.

Última atualização em 5 de novembro de 2017 às 06h00.

O México é um lugar perigoso para os jornalistas, que muitas vezes são alvo de cartéis do narcotráfico. No entanto, existe também outra ameaça mais insidiosa para a liberdade de imprensa — uma ameaça que pode influenciar quem ganhará o poder nas eleições do próximo ano.

Ela vem dos políticos e do dinheiro deles. A quantidade de propagandas financiadas pelo dinheiro público aumentou na última década. O governo federal gastou mais que o dobro de seu orçamento de publicidade no ano passado, e essa conta chegou a cerca de US$ 540 milhões, embora tenha reduzido o investimento em educação e o apoio aos agricultores.

Além disso, existem canais extraoficiais para garantir notícias positivas na imprensa — descritos em entrevistas com funcionários públicos atuais e antigos e profissionais da mídia. O espaço da primeira página de alguns jornais é negociável. Vozes populares, mas críticas, foram demitidas do rádio. Na TV, personagens da novela interrompem as intrigas românticas para destacar o bom trabalho que as autoridades locais fizeram para melhorar a iluminação das ruas.

O México tem uma mídia “viciada em dinheiro público”, disse Carlos Ugalde, que costumava dirigir a agência eleitoral do país.

‘Você vai me pagar’

Isso vai muito além dos gastos oficiais. O que mais está acontecendo? Ugalde explica: “Se você é um candidato e eu sou o dono de uma estação de rádio, você me pagará 15.000 pesos por uma entrevista”, disse ele. “Você vai me pagar em dinheiro, é claro.”

Os preços são mais altos a nível nacional, esfera em que o México realizará a eleição presidencial em julho. O atual presidente, Enrique Peña Nieto, não pode concorrer de novo e é profundamente impopular. Ainda assim, os analistas não descartam seu partido, o PRI, da disputa, e um dos motivos disso é o alcance que ele tem na mídia.

“O governo terá uma vantagem em termos da capacidade de influenciar o eleitorado”, inclusive através da mídia, disse Carlos Bravo, cientista político do Centro de Pesquisa e Docência Econômicas, da Cidade do México. Ugalde disse que todos os partidos políticos estão comprando a imprensa, mas o PRI — que também possui o maior número de governos estaduais — dispõe de mais recursos.

As assessorias de imprensa da presidência e do PRI afirmaram, em respostas enviadas por e-mail a perguntas, que respeitam plenamente a liberdade de imprensa como um pilar da democracia mexicana. O PRI afirmou que tem direito legalmente a mais tempo no ar por ser o maior partido e não obtém nenhum privilégio especial além disso.

Ainda assim, vários críticos proeminentes de Peña Nieto e do PRI perderam o emprego. Em 2015, a personalidade do rádio Carmen Aristegui foi demitida de seu programa “Noticias MVS” depois de apresentar uma reportagem sobre a esposa do presidente, que comprou uma casa de luxo de uma empreiteira federal. A MVS negou haver sido pressionada pelo governo, e um inspetor nomeado pelo governo não encontrou nenhuma irregularidade por parte da primeira-dama.

Jornalistas disseram à Bloomberg News que autoridades federais usaram meios sutis e não tão sutis para moldar o conteúdo da imprensa, que vão desde ameaçar retirar anúncios até pedir uma cobertura personalizada, incluindo fotos, na primeira página de um jornal.

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