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Mianmar aceita depoimento de policial sobre repórteres da Reuters

Juiz declarou como crível uma testemunha que disse que os repórteres acusados de possuírem segredos de Estado foram incriminados pela polícia

Wa Lone: repórteres investigavam o assassinato de dez homens e meninos muçulmanos rohingyas em um vilarejo de Rakhine (Ann Wang/Reuters)

Wa Lone: repórteres investigavam o assassinato de dez homens e meninos muçulmanos rohingyas em um vilarejo de Rakhine (Ann Wang/Reuters)

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Reuters

Publicado em 2 de maio de 2018 às 09h28.

Yangon - Um juiz de Mianmar declarou nesta quarta-feira como crível uma testemunha que disse que dois repórteres da Reuters acusados de possuírem segredos de Estado foram incriminados pela polícia, impondo uma derrota à equipe de acusação do que se tornou um caso emblemático sobre a liberdade de imprensa.

Em uma decisão descrita pelos advogados de defesa como crucial a favor dos repórteres, o juiz aceitou o depoimento do capitão de polícia Moe Yan Naing, segundo o qual uma autoridade superior ordenou que a polícia "armasse uma cilada" contra um dos dois jornalistas presos em dezembro.

O advogado de defesa Khin Maung Zaw disse que o juiz ordenou à polícia que leve Moe Yan Naing à próxima audiência do dia 9 de maio, depois que um policial disse ao tribunal que ele não estava presente por ter sido condenado na semana passada a um ano de prisão por violar a Lei Disciplinar da Polícia.

"Precisamos interrogá-lo mais", disse o juiz Ye Lwin ao capitão de polícia Myo Lwin, um dos agentes que escoltaram os dois jornalistas à corte, ao final dos procedimentos.

Os procuradores haviam convocado Moe Yan Naing para depor contra Wa Lone, de 32 anos, e Kyaw Soe Oo, de 28, mas na semana passada pediram à corte que o declarasse uma testemunha indigna de confiança depois que seu depoimento sobre a "armação" contra os repórteres pareceu minar seu caso.

"Hoje o tribunal provou ser um tribunal de justiça", disse o advogado de defesa Khin Maung Zaw aos repórteres ao final da audiência, acrescentando que a decisão foi um "grande passo" porque o depoimento de Moe Yan Naing confirmou os relatos dos repórteres.

O procurador principal, Kyaw Min Aung, não respondeu a um pedido de comentário após a audiência.

O porta-voz do governo civil de Mianmar, Zaw Htay, tampouco quis comentar porque o caso ainda está em andamento. O porta-voz da polícia, coronel Myo Thu Soe, disse não estar ciente dos eventos na corte e não quis comentar.

Ao deixar o tribunal, Wa Lone disse a repórteres: "A injustiça que eles nos fizeram será revelada em breve".

A corte de Yangon vem realizando audiências desde janeiro para decidir se os jornalistas da Reuters serão acusados de acordo com a Lei de Segredos Oficiais dos tempos coloniais, que acarreta uma pena máxima de 14 anos de prisão.

Na ocasião de suas prisões, os repórteres investigavam o assassinato de dez homens e meninos muçulmanos rohingyas em um vilarejo de Rakhine, Estado do oeste de Mianmar. As mortes ocorreram durante uma operação de repressão do Exército que agências da Organização das Nações Unidas (ONU) disseram ter levado quase 700 mil pessoas a fugirem para Bangladesh.

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