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México receberá secretários dos EUA para tentar diminuir a tensão

A visita dos secretários americanos de Estado e de Segurança Nacional, Rex Tillerson e John Kelly, tentará criar uma relação "respeitosa e construtiva"

Peña Nieto: desde que Trump chegou à Casa Branca, os dois vizinhos atravessam uma crise diplomática (Tomas Bravo/Reuters)

Peña Nieto: desde que Trump chegou à Casa Branca, os dois vizinhos atravessam uma crise diplomática (Tomas Bravo/Reuters)

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AFP

Publicado em 22 de fevereiro de 2017 às 10h50.

O México recebe nesta quinta-feira os secretários americanos de Estado e de Segurança Nacional, Rex Tillerson e John Kelly, e deseja transformar a tensão entre os dois países em uma relação "respeitosa e construtiva", embora esteja determinado a não permitir que a soberania nacional seja abalada.

Os secretários do presidente americano, Donald Trump, se reunirão com o líder mexicano, Enrique Peña Nieto, e com seus secretários de Relações Internacionais, Interior, Finanças, Defesa e Marinha, informou na terça-feira o Departamento de Estado.

Os principais temas da agenda, segundo Washington, serão segurança fronteiriça, cooperação policial e comércio. O objetivo, afirma o México, é trabalhar "em favor de uma relação respeitosa, próxima e construtiva".

Desde que Trump chegou à Casa Branca, há um mês, os dois vizinhos atravessam uma crise diplomática.

Durante a campanha, o magnata já começou a tensionar as relações com sua particular retórica, referindo-se aos mexicanos como "homens maus", delinquentes e estupradores.

Após a posse, ordenou a construção de um grande muro na fronteira e insistiu que seja pago pelo México. Em reação, Peña Nieto cancelou a viagem a Washington que planejava para 31 de janeiro.

Trump também prometeu deportações maciças de imigrantes ilegais, que nas últimas semanas se traduziram em inúmeras detenções de migrantes.

E ameaçou impor tarifas às importações mexicanas, bloquear as remessas e renegociar, ou inclusive revogar, o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), cujos termos considera muito favoráveis ao México.

Ainda assim, o chanceler mexicano, Luis Videgaray, insiste que os dois países estão trabalhando em um entendimento desde que ele mesmo viajou a Washington há 15 dias para se reunir com Tillerson, um diplomata discreto com quem também se encontrou há alguns dias no G20 em Bonn.

"O México é um país que quer construir pontes, que não deseja construir muros", afirmou Videgaray na Alemanha.

"Temos divergências públicas, notórias, que ainda não resolvemos, há posições nas quais o México naturalmente não está disposto a ceder nenhum milímetro, mas em outros muitos temas estamos abertos a construir através do diálogo", disse.

Negociação longa e complexa

Videgaray advertiu que a reunião de quinta-feira será apenas mais uma de uma longa lista.

Buscando impedir que Washington imponha condições que atentem contra a soberania nacional, o Senado mexicano elaborará um decreto legislativo que defina e limite os termos da negociação.

Ele incluirá, explicou aos jornalistas o presidente da Junta de Coordenação política do Senado, Fernando Herrera, as cinco questões chave desta crise: migração, direitos humanos, comércio e economia, segurança na fronteira e a construção do muro.

"É preciso negociar com firmeza, com inteligência, preservando nossa soberania e com a dignidade à qual todos os mexicanos estão se referindo", acrescentou, em alusão aos protestos que nos últimos dias exigiram firmeza do governo de Peña Nieto.

Segundo um relatório do BBVA Research, "a incerteza em torno das políticas econômicas da nova administração americana", em particular a renegociação do NAFTA, já está afetando a confiança das empresas no México e fará os investimentos caírem.

Primeiro sócio comercial do México, os Estados Unidos recebem 80% das exportações mexicanas.

Assim, o serviço de estudos do banco espanhol prevê que a economia mexicana crescerá 1% em 2017, contra 2% em 2016.

Neste contexto, o secretário mexicano de Economia, Ildefonso Guajardo, deu a entender que, se Washington quiser impor condições comerciais inaceitáveis, o México pode interromper sua cooperação em outros campos.

"Fomos um grande aliado na luta contra os problemas de migração, narcóticos", afirmou no sábado ao jornal canadense The Globe and Mail.

Mas, "se em algum momento a relação for mal administrada, diminuirão os incentivos para que o povo mexicano siga cooperando em questões que estão no coração da segurança" americana, acrescentou.

Segundo os especialistas, a insegurança na fronteira ligada ao narcotráfico e à entrada de ilegais nos Estados Unidos diminuiu consideravelmente nos últimos anos graças à cooperação das autoridades mexicanas.

Em 2016, o México deportou 147.370 migrantes, contra 80.900 em 2013, segundo números governamentais.

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