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Mexicanos ricos fogem para Miami e enviam dinheiro para exterior

Fuga de capitais remontam ao período anterior à vitória de Obrador nas eleições de 2018 e aumentaram depois das novas leis contra sonegação de impostos

Miami: os mexicanos colocaram quase quatro vezes mais recursos em portfólios no exterior no ano passado do que em 2018 (Biscayne Boulevard/Getty Images)

Miami: os mexicanos colocaram quase quatro vezes mais recursos em portfólios no exterior no ano passado do que em 2018 (Biscayne Boulevard/Getty Images)

Janaína Ribeiro

Janaína Ribeiro

Publicado em 19 de julho de 2020 às 09h03.

Última atualização em 19 de julho de 2020 às 09h04.

Dois anos depois de sua campanha para combater a sonegação e a corrupção desenfreadas no México, o presidente Andrés Manuel López Obrador está assustando os ricos, que agora enviam dinheiro para o exterior.

Os primeiros sinais dessa fuga de capitais remontam ao período anterior à vitória de López Obrador nas eleições de 2018, e aumentaram depois que o presidente mexicano implementou novas leis contra a sonegação de impostos no fim do ano passado, segundo entrevistas com gestores, consultores tributários e banqueiros. Agora, a resposta do presidente à pandemia - na qual tem se recusado a fornecer estímulo fiscal para sustentar a economia e intensificou ataques retóricos a mexicanos ricos vinculados a administrações passadas - tem aumentado o êxodo.

“O telefone não para de tocar com ligações do México”, disse Philippe Stiernon, fundador da ROAM Capital, com sede em Miami, que ajuda empresas de private equity dos EUA a captar recursos na América Latina. “Todo dia você ouve falar de uma nova família mexicana se mudando para Miami.”

Embora muitas das evidências tenham como base relatos, existem vários dados que destacam o escopo da tendência: os mexicanos colocaram quase quatro vezes mais recursos em portfólios no exterior no ano passado do que em 2018; os preços de imóveis em bairros ricos da capital caíram neste ano; e o investimento doméstico teve queda em 17 dos últimos 18 meses - uma tendência alarmante para uma economia que precisará de capital para se recuperar do vírus.

De muitas maneiras, a cruzada de López Obrador faz sentido. O México é um dos países mais corruptos e desiguais do mundo e possui a menor taxa de arrecadação de impostos de todas as 37 nações da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. As pessoas relutaram em falar de seus temores, mas, ao ouvir consultores de patrimônio, a preocupação não é tanto que seus clientes ricos terão que pagar impostos mais altos, mas que o presidente recorra à campanha para usá-los como alvo injustamente.

“Alguns de meus clientes eram grandes partidários da oposição”, disse David Lesperance, consultor tributário e de imigração da Polônia que ajuda pessoas ricas a fugir de regimes que visam suas fortunas. “Eles estão preocupados com as represálias dos cães de ataque” do presidente na agência tributária do país.

A assessoria de imprensa de López Obrador não respondeu a pedidos de comentários, nem a Secretaria da Fazenda.

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