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Mesmo provocado por parlamentares, Cachoeira silencia

Com ar irônico, ele chegou a lembrar que seus advogados pediram que o depoimento fosse marcado para outra data, mas os membros da CPI insistiram em convocá-lo

Empresário envolvido com a exploração de jogos ilegais Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira durante depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (Agência Brasil)

Empresário envolvido com a exploração de jogos ilegais Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira durante depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 22 de maio de 2012 às 22h58.

Brasília - O empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, se recusou a responder perguntas nesta terça-feira durante as mais de duas horas em que esteve na CPI que investiga suas relações com agentes públicos e privados, e a sessão acabou sendo encerrada pelos membros da comissão.

"Estou aqui como manda a lei para responder o que for necessário e, constitucionalmente, eu fui advertido pelos advogados para não dizer nada", afirmou Cachoeira logo no início da sessão. O empresário está preso há três meses acusado de chefiar uma rede de jogos ilegais.

Sentado ao lado de seu advogado, o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, Cachoeira se recusou a responder as perguntas feitas, alegando que só colaboraria com a CPI após prestar depoimento em um processo ao qual responde na Justiça de Goiás.

Com ar irônico, ele chegou a lembrar que seus advogados pediram que o depoimento fosse marcado para outra data, mas os membros da CPI insistiram em convocá-lo para esta terça-feira.


"Eu não falarei nada aqui, somente depois da audiência que nós vamos ter no juiz que, se por ventura achar que eu deva contribuir, pode me chamar que eu virei para falar", disse. "Quem forçou isto (o depoimento) foram os senhores."

Essa provocação e o ar irônico de Cachoeira provocou irritação nos membros da CPI, que por vezes optaram por provocá-lo para tentar arrancar alguma resposta ou reação.

"O que estamos fazendo aqui diante de um marginal, que sai da Papuda (penitenciária onde Cachoeira está preso em Brasília) e aqui mantém-se com a arrogância dos livres?", questionou o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), pedindo ainda o encerramento do depoimento.

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), tentou mexer com a família do contraventor. "E se convocarmos a sua ex-mulher? Será que ela pode nos ajudar a responder o que o senhor não responde?", questionou. "E se chamarmos a sua mulher?", prosseguiu o parlamentar.

"Apesar de silêncio, esse silêncio não é o dos inocentes", disse o deputado Silvio Costa (PTB-PE). Para ele, Cachoeira pautou o depoimentos dos demais depoentes ao não responder os questionamentos dos parlamentares. "Tomara que a gente tenha talento para mudar isso", disse.

Mesmo diante das provocações, Cachoeira apenas repetia: "vou manter meu direito de ficar calado".

Os parlamentares chegaram a propor que a sessão fosse fechada para que o empresário respondesse às perguntas, mas o empresário manteve sua posição de seguir a orientação de seus advogados.


Um dirigente do PSDB disse que a sessão desta terça não passou de um concurso "para mostrar quem demonstrava maior indignação", disse pedindo para não ter seu nome revelado.

Nova convocação

Cachoeira deve ser novamente reconvocado para prestar esclarecimentos à CPI, em uma sessão no mês de junho, após a audiência da Justiça de Goiás que vai colher o depoimento dele entre os dias 31 de maio e 1o de junho no processo que corre em segredo de Justiça.

A expectativa do relator da CPI, Odair Cunha (PT-MG), é que, após a audiência, Cachoeira responda aos questionamentos da comissão.

"Não se pode esperar de um chefe de quadrilha, um bandido bem informado, bem orientado pelos seus advogados, um depoimento que colabore com uma investigação que o incrimina", disse o relator a jornalistas após o fim da sessão.

"A expectativa é de que, como ele mesmo disse, numa próxima oitiva ele possa colaborar com o nosso trabalho", acrescentou. "Mas eu não sei se posso acreditar", disse à Reuters mais tarde.

Advogado de Cachoeira, Thomaz Bastos, no entanto, disse a jornalistas após o depoimento que, para que Cachoeira fale à CPI, outras duas etapas precisam ser vencidas, além a da Justiça de Goiás.

O ex-ministro disse que a defesa ainda não teve tempo de analisar todos os documentos das operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal, que são matéria-prima da CPI, e que seu cliente deve esperar uma decisão sobre um pedido de habeas corpus em que se alega que as provas contra Cachoeira foram coletadas em desacordo com a lei.


"Ele vai contribuir com a CPI desde que preenchidos os requisitos indispensáveis a que ele fale", disse Thomaz Bastos, que foi incisivo ao negar a existência de impedimento para que defenda Cachoeira, por conta de ter sido ministro da Justiça durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Eu passei 45 anos da minha vida como advogado. Fiquei quatro anos no Ministério da Justiça. Faz 5 anos que saí de lá. Então eu não tenho nenhum impedimento, e você (dirigindo-se ao autor da pergunta) não pode pré-julgar o meu cliente. Desculpa, mas ele só vai ser considerado culpado depois que ele for condenado por um juiz."

O presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), afirmou que a CPI terá acesso ao depoimento de Cachoeira à Justiça e isso deve colaborar com os trabalhos da comissão.

"Papel ridículo"

Cachoeira, preso desde fevereiro acusado de comandar uma rede de jogos ilegais, motivou a CPI mista instalada no mês passado e seu depoimento estava sendo aguardado desde a semana passada.

O empresário deveria ter ido à CPI no dia 15, mas o depoimento foi suspenso após decisão liminar do Supremo Tribunal Federal (STF), que atendeu a um pedido da defesa que argumentou não ter tido acesso ao material sobre Cachoeira.

O relator da CPI abriu mão nesta terça-feira de interrogar Cachoeira, alegando que, diante da negativa do empresário em responder, não daria munição à defesa do acusado.

Apesar de vários parlamentares continuarem fazendo perguntas, alguns membros da CPI passaram a defender o fim da sessão, e alguns se irritaram com a situação.

"Estamos fazendo um papel ridículo para um cidadão que está nos tratando como idiotas. Está aqui como uma múmia", reclamou irritada a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) durante a sessão.

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