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Mesmo com recorde de mortes, parte dos russos reluta em tomar a vacina

Com maior contagem diária de mortes de covid-19 registrada nesta sexta, Rússia lida com ceticismo de parte da população como empecilho para a vacinação

Rússia: os líderes da Rússia veem a vacina Sputnik V como um exemplo do poder científico local (FW1F/Tim Heritage/Reuters)

Rússia: os líderes da Rússia veem a vacina Sputnik V como um exemplo do poder científico local (FW1F/Tim Heritage/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 11 de dezembro de 2020 às 15h38.

A Rússia relatou sua maior contagem diária de mortes de covid-19 nesta sexta-feira, 11, com 613 vítimas de coronavírus nas últimas 24 horas. A marca ocorre no momento em que certo ceticismo de parte da população russa aparece como empecilho para a vacinação. Agora, o número de falecimentos chegou a 45.893 e o de casos ultrapassou 2,5 milhões.

Os motivos do ceticismo estão ligados ao histórico de autoridades russas, teorias da conspiração difundidas na internet e negacionistas da pandemia - refletindo motes antivacinas semelhantes nos Estados Unidos e Alemanha.

As autoridades russas também não ajudaram ao divulgar mensagens confusas sobre se os vacinados precisam evitar o álcool por semanas. Durante o verão, a empresa de pesquisas Ipsos descobriu que os russos são mais céticos em relação a uma vacina contra o coronavírus do que o público em qualquer outro lugar nos 27 países investigados. Apenas 27% dos russos confiam nos dados oficiais sobre o coronavírus, de acordo com o Levada, um instituto russo de pesquisas.

O comparecimento menos entusiasmado pode apenas significar cautela inicial, até que mais informações venham do ensaio da fase 3. Mas se o desprezo durar meses, pode ser um grande revés nos esforços da Rússia para controlar a pandemia em um país de 140 milhões de habitantes.

Falta gente disposta a ser vacinada

Sergei Dolya, 47, ficou entediado com seu negócio de atacado de equipamentos de áudio 15 anos atrás e o vendeu para se tornar um blogueiro de viagens com seu próprio programa de TV de viagens. Ele está desesperado para obter a vacina para poder voltar à estrada. O problema é que ele não é médico nem professor.

Mas ele se inscreveu no site oficial de vacinação, notou que havia muitos horários vagos e escreveu uma carta de aparência oficial, declarando-se Sergei Dolya, empregado de Sergei Dolya e carimbando-o com seu selo comercial oficial. No posto de vacinação, uma enfermeira perguntou se ele era médico ou professor. "Eu disse: 'Dou palestras para crianças em idade escolar'", falou ele, citando suas aparições ocasionais na escola.

Isso foi o suficiente. Ninguém nem pediu a carta. "Eles estavam dizendo que esperavam muito mais gente e que deveríamos trazer nossos amigos porque há muitas vacinas, mas não há gente suficiente disposta a tomar."

Governo tenta convencer a população a tomar a vacina

Nos esforços para promover a vacina ao público, o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, o prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin, e membros do Conselho de Segurança da Rússia já a tomaram. O presidente Vladimir Putin não poderia tomar a vacina como voluntário no teste e faria um anúncio antes de receber a injeção, disse o porta-voz Dmitry Peskov.

A capital russa deve se tornar uma grande produtora da Sputnik V e uma planta que produz cerca de 10 milhões de doses por mês será inaugurada nas próximas semanas.

Projeção

Os líderes da Rússia veem a vacina Sputnik V como um exemplo do poder científico local, acompanhando o ritmo das vacinas desenvolvidas nos Estados Unidos, Europa e China.

O Fundo Russo de Investimento Direto, que investiu na vacina, diz que mais de 40 países demonstraram interesse e há pedidos globais de 1,2 bilhão de doses. O primeiro-ministro Mikhail Mishustin previu uma demanda global "explosiva" pelo Sputnik V na quarta-feira. O país já vacinou mais de 150 mil pessoas, de acordo com autoridades locais.

"As vacinas produzidas na Rússia são geralmente vacinas estrangeiras. Por outro lado, esta é uma das primeiras concebidas exclusivamente na Rússia, é um orgulho nacional", diz Jean de Gliniasty, especialista russo do instituto IRIS e ex-embaixador da França em Moscou.

"Isso simboliza o retorno da Rússia ao grupo dos grandes da matéria farmacêutica. Eles vão tentar aproveitar ao máximo os benefícios em termos de soft power (poder brando)". Depois dos hidrocarbonetos, armas e energia atômica, Moscou quer adicionar a vacina ao seu arsenal de influência econômica e diplomática e garantir uma fatia do mercado dos países em desenvolvimento.

 

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