O Brasil, sexta maior economia do mundo, acusa os países ricos de gerar um "tsunami monetário" (Roberto Stuckert Filho/PR)
Da Redação
Publicado em 5 de março de 2012 às 23h35.
Hannover - A chefe do governo alemão, Angela Merkel, respondeu nesta segunda-feira à presidente Dilma Rousseff, que havia criticado um "protecionismo" dos países ricos através do câmbio, afirmando que se o Brasil está preocupado com o "tsunami monetário", os países desenvolvidos estão preocupados com as "medidas protecionistas".
Dirigindo-se à presidente Dilma, convidada para a abertura da feira de alta tecnologia Cebit de Hannover (noroeste), Merkel declarou: "discutiremos a crise e as preocupações que cada um tem. A presidente falou de um 'tsunami de liquidez' que a preocupa. Da nossa parte, olhamos para onde estão as medidas protecionistas".
Nesta segunda-feira, em declarações à imprensa, Dilma havia denunciado como "protecionismo" a política de países ricos de inundar o mercado com dinheiro barato para fazer frente à crise, e advertiu que o país tomará mais medidas para se proteger dessa prática.
A presidente insistiu que as economias desenvolvidas estão "desvalorizando artificialmente" suas moedas e prejudicando países emergentes como o Brasil, que sofre com uma forte apreciação de sua moeda em relação ao dólar e ao euro, o que tira competitividade de suas indústrias.
"O que o Brasil quer com isto é mostrar que está em andamento uma forma competitiva de proteção de mercado, que é o câmbio (...). O câmbio é hoje uma forma, uma forma artificial de proteção do mercado", disse Dilma à imprensa.
Este tipo de prática "equivale a uma barreira tarifária. Então, todo o mundo se queixa da barreira tarifária, do protecionismo. Isso é uma forma de protecionismo", enfatizou.
O Brasil, sexta maior economia do mundo, acusa os países ricos de gerar um "tsunami monetário" ao tentar sair da crise com medidas que inundam os mercados de dinheiro, e prejudicam as economias em desenvolvimento.
Na abertura deste salão de alta tecnologia, do qual o Brasil é convidado oficial, Dilma e Merkel foram acompanhadas de Eric Shmidt, presidente do Conselho de Administração do Google, que fez o discurso inaugural.
O Brasil é apresentado pelos organizadores como um "campeão escondido" do mundo das altas tecnologias. Grandes empresas da economia brasileira, como a construtora aeronáutica Embraer, Stefanini (serviços informáticos) e Telebrás (telecomunicações) estão entre os participantes do salão.
Em seu discurso, Eric Schmidt celebrou os méritos da internet frente à censura.
"Quarenta países instauram hoje uma censura na internet, contra quatro há dez anos", lembrou, assegurando que esta censura não poderá resistir muito tempo frente à informação na web, que é "como água" e se "infiltra por todos lados".
"A web será tudo ou não será nada. Será como a eletricidade", previu.
A chanceler Merkel afirmou por sua vez que enquanto "mais se parecer com a eletricidade, que sai da tomada sem que alguém se pergunte de onde vem, mais a confiança é importante".
No entanto, a presidente Dilma advertiu contra a "exclusão digital", afirmando que os "benefícios (do acesso às novas tecnologias) não dem estar reservados a um pequeno número" de pessoas.
Sob o slogan "Managing Trust - Confiança e Segurança no Mundo Digital", a feira se propôs este ano a enfatizar o "cloud computing", ou a informática em nuvem, com uma ênfase particular na segurança dos dados privados ou profissionais administrados por esta tecnologia.
A informática em nuvem consiste em trabalhar com dados e programas na internet, e não armazenados em um computador.
Este mercado cresce exponencialmente e este ano deverá captar mais de 100 bilhões de dólares, segundo a empresa especializada Gartner.
O desafio para os provedores deste tipo de serviços é a desconfiança que essa tecnologia totalmente virtual provoca, sobretudo entre as pessoas físicas e as pequenas e médias empresas.