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Meritocracia versus tradição na sucessão do FMI

Países emergentes pressionam por candidatos de fora da Europa, mas UE não abre mão de manter o comando do fundo

Dominique Strauss-Kahn, ex-diretor do FMI: briga por sua sucessão  (Getty Images)

Dominique Strauss-Kahn, ex-diretor do FMI: briga por sua sucessão (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 19 de maio de 2011 às 18h45.

Rio de Janeiro - Brasil, China e México - três membros do G20 e algumas das principais potências entre os emergentes - iniciaram uma cruzada para que a próxima eleição do diretor-gerente do FMI seja baseada em méritos e esteja aberta a candidatos de todas as nacionalidades, após a renúncia de Dominique Strauss-Kahn em meio a um escândalo sexual.

Tradicionalmente atribuída a um europeu - assim como a presidência do Banco Mundial é reservada geralmente a um americano - a titularidade do Fundo Monetário Internacional ficou vaga desde a madrugada desta quinta-feira, após a renúncia de Strauss-Kahn, detido nos Estados Unidos e acusado de agressão sexual.

Os países emergentes - que aproveitaram a solidez de suas economias durante a crise financeira que começou em 2008 para impulsionar uma reforma do organismo que foi concluída em novembro - querem fazer valer seu novo status e pedem um processo "transparente" e "aberto" a candidatos de todas as origens.

O Brasil, líder dos emergentes do sul e um dos países que mais lutou por reformas no FMI e para que o Fundo refletisse na prática o novo equilíbrio econômico mundial, foi o primeiro a se manifestar: "Foi-se o tempo em que poderia ser remotamente apropriado reservar esse importante cargo a um cidadão europeu", afirmou o ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, em uma carta enviada na quarta-feira a seus pares do G20.

"Nenhuma nacionaldade deve ser excluída e nenhuma preferência regional pode restringir a eleição do melhor candidato possível", completou Mantega, resumindo posturas similares expressadas por México e China.

Terceiro país contribuinte do organismo depois dos Estados Unidos e Japão, a China pediu nesta quinta-feira para que as "reformas estruturais" prossigam no organismo e também solicitou a "seleção do sucessor (de Strauss-Kahn)" com base no mérito, de maneira transparente e imparcial.

O governo mexicano, por sua vez, também sustentou que deve realizar-se um "processo aberto, transparente e baseado nos méritos dos candidatos, sem privilégios ou critérios de nacionalidade".

Enquanto isso, a Europa, que sempre dirigiu o principal organismo financeiro multilateral, tem tentado chegar num nome consensual para a instiutição. "Devemos apresentar um candidato europeu", afirmou nesta quinta-feira a chanceler alemã Angela Merkel.

É "natural" que os europeus cheguem ao consenso de um "candidato forte e competente", disse o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso.

A União Europeia tentará manter o comando do FMI, que é a mais influente instituição econômica internacional, em um momento em que o continente Europeu atravessa uma crise de confiança internacional devido ao endividamento de vários de seus membros.

"A Zona Euro sem dúvida precisa demonstrar que fez uma mudança fundamental na forma como se comporta, entrando em um novo caminho caracterizado pela adesão à regras (fiscais) estritas (...). E uma das melhores e mais públicas formas para definir o início desta nova era, seria renunciar ao seu injustificado direito de nomear ao titular do Fundo Monetário Internacional", disse em seu artigo de terça-feira no "The Wall Street Journal" o colunista Paul Hannon.

"De fato, o último lugar de onde deveria vir o titular do FMI deveria ser a Europa, justamente porque este continente é a parte da economia global que está na pior situação", concluiu em seu texto amplamente difundido por veículos da América Latina - região que lembra do FMI como o grande vilão da crise da dívida dos anos 80 e 90.

Alguns analistas duvidam que a pressão das nações emergentes termine por impor alguma mudança, que seria algo histórico em uma instituição cujas bases de funcionamento estão arraigadas na divisão do poder entre os vencedores da Segunda Guerra Mundial.

"Não dou uma probabilidade muito alta de que o novo diretor-geral do FMI venha de um país emergente", resumiu em Buenos Aires à AFP o analista Julián Siri, da consultoria Maxinver. "É preciso reconhecer a ascensão das economias emergentes, mas isso não significa que estejam em posição de liderança. (...) De todo modo, não creio que a linha do FMI mude pela designação de um representante de um país emergente", concluiu Siri.

Meritocracia versus tradição: a batalha está plantada e começa a dança dos nomes, sobretudo na imprensa, que especula sobre candidatos em potencial, desta vez não só europeus, mas também chineses, turcos e mexicanos.

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