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Mercado imobiliário da Argentina cresce após fim do controle de aluguéis

Com o fim das regulações de aluguéis, oferta de imóveis aumenta, mas muitos argentinos ainda enfrentam dificuldades com os custos de moradia

Fernando Olivieri
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 26 de setembro de 2024 às 10h13.

Última atualização em 26 de setembro de 2024 às 10h16.

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O mercado imobiliário de Buenos Aires, capital da Argentina, passou por uma transformação significativa desde que o presidente Javier Milei aboliu a lei de controle de aluguéis, parte de uma série de reformas econômicas que visam reestruturar a economia do país. Durante anos, o governo argentino impôs uma das leis de controle de aluguel mais rígidas do mundo, com o objetivo de manter os imóveis acessíveis. Contudo, em vez de estabilizar os preços, a medida contribuiu para um aumento nos valores dos aluguéis e dificultou o acesso à moradia para muitos. A reportagem é do The Wall Street Journal.

A decisão de Milei de acabar com o controle de preços provocou uma expansão no mercado de aluguéis em Buenos Aires. A oferta de imóveis disponíveis para locação aumentou em mais de 170%, segundo dados da consultoria Empiria Consultores. Enquanto os preços dos aluguéis ainda estão elevados em termos nominais, houve uma queda real de 40% nos preços ajustados pela inflação desde outubro do ano passado. Essa mudança reflete um dos principais resultados da chamada "terapia de choque" econômica promovida pelo novo governo.

Aumento na oferta de imóveis

O fim das regulações trouxe de volta ao mercado um grande número de imóveis que estavam fechados ou destinados a aluguéis de curto prazo. Com o controle de preços, muitos proprietários optavam por manter seus apartamentos vazios ou alugá-los para turistas, evitando os contratos de longo prazo que impunham limitações severas no aumento de preços. Agora, com a flexibilização, esses imóveis estão novamente disponíveis para locatários em busca de moradia.

Para pessoas como Aldana Oliver, que passou mais de um ano procurando um apartamento para alugar em La Plata, a mudança foi positiva. Ela finalmente conseguiu alugar um estúdio por cerca de 200 dólares mensais, o que considerou uma boa oferta, comparado aos preços anteriores. Entretanto, a nova realidade do mercado de aluguéis também trouxe desafios. Muitos contratos passaram a permitir aumentos trimestrais nos valores, o que pressionou locatários que já enfrentam o aumento dos preços de alimentos e serviços públicos.

Políticas econômicas e controvérsias

A decisão de Javier Milei de desregular o mercado de aluguéis faz parte de uma estratégia mais ampla de liberalização da economia. Além de eliminar os controles sobre os aluguéis, o governo também retirou as restrições sobre o preço de produtos básicos como leite e açúcar, além de suspender controles de exportação de carne e simplificar as regras para a importação de aço, com o objetivo de reduzir os custos de construção.

Contudo, as reformas não foram recebidas de forma unânime. Críticos apontam que as medidas de Milei, embora destinadas a impulsionar a economia, estão exacerbando as dificuldades da classe trabalhadora. Com o aumento do custo de vida, muitos argentinos estão recorrendo a iniciativas de apoio social, como cozinhas comunitárias, que registraram um aumento na demanda. Amalia Roggero, que coordena uma dessas cozinhas em La Plata, afirmou que o aumento de pessoas buscando assistência reflete o impacto das políticas econômicas nas comunidades mais vulneráveis.

Consequências para o mercado imobiliário

Antes da revogação da lei de aluguéis, aprovada em 2020 durante o governo de Alberto Fernández, os contratos de locação eram de três anos, com aumentos anuais controlados pelo Banco Central, que levava em conta a inflação e os salários dos trabalhadores. A inflação desenfreada, porém, levou muitos proprietários a inflar os valores iniciais dos contratos para se proteger da desvalorização do peso, o que tornava os aluguéis proibitivos para muitos.

Com o fim dessas restrições, muitos proprietários voltaram a alugar seus imóveis de forma legal, e a prática de contratos informais diminuiu. Ainda assim, o impacto total das reformas no mercado imobiliário permanece incerto. Enquanto alguns locatários estão se beneficiando da maior disponibilidade de imóveis e da queda real dos preços, outros ainda enfrentam dificuldades para se ajustar às novas regras de mercado, especialmente em um cenário de inflação persistente.

A abertura do mercado também gerou discussões sobre a eficácia de políticas de controle de aluguéis em economias instáveis. O economista Federico González Rouco alerta que, embora as intenções por trás das regulações possam ser boas, as forças de mercado têm sua própria dinâmica, e mudanças abruptas nem sempre resultam em benefícios imediatos para a população.

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