Kim Jong-Nam: autoridades ainda não comentaram nada sobre morte de irmão do ditador (Foto/AFP)
AFP
Publicado em 14 de fevereiro de 2017 às 10h17.
Última atualização em 14 de fevereiro de 2017 às 14h22.
Agentes norte-coreanas usando agulhas envenenadas assassinaram o meio-irmão do líder da Coreia do Norte, Kim Jong-Un, na Malásia, informou a imprensa sul-coreana nesta terça-feira.
As autoridades de Seul e Kuala Lumpur não puderam confirmar até o momento a morte de Kim Jong-Nam, que no passado já foi considerado o provável herdeiro do Norte.
No entanto, a polícia da Malásia informou que um coreano não identificado foi encontrado passando mal no Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur e logo depois faleceu.
Se for confirmada, a morte de Kim Jong-Nam será a de mais alto escalão sob o regime de Kim Jong-Un desde a execução do tio do líder, Jang Song-Thaek, em dezembro de 2013.
Kim Jong-Un tem tentado fortalecer seu poder diante da crescente pressão internacional pelos programas nucleares e de mísseis da Coreia do Norte. Ele teria organizado uma série de execuções.
O mais recente lançamento de mísseis, realizado no último domingo, gerou a condenação do Conselho de Segurança da ONU e a ameaça de uma forte resposta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A agência de notícias sul-coreana Yonhap citou uma fonte segundo a qual agentes da agência de espionagem do Norte, o Escritório Geral de Reconhecimento, realizaram o assassinato na segunda-feira se aproveitando de um vácuo de segurança entre os guarda-costas de Jong-Nam e a polícia malaia no aeroporto.
O homem de 35 anos teria sido morto por duas agentes não identificadas que utilizaram agulhas envenenadas no aeroporto, segundo a emissora sul-coreana TV Chosun.
De acordo com a rede de televisão, as duas mulheres chamaram um táxi e fugiram logo depois.
Na Malásia, o chefe de polícia responsável pelo Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur, o comissário-adjunto Abdul Aziz Ali, declarou à AFP que um coreano de cerca de quarenta anos foi encontrado passando mal no aeroporto na segunda-feira.
As autoridades aeroportuárias o levaram ao hospital, mas ele morreu no caminho, disse o chefe da polícia.
"Não posso informar isso", afirmou quando perguntado se o nome da pessoa morta era Kim Jong-Nam.
"O corpo está no hospital Putrajaya. O caso está sendo investigado", acrescentou.
Kim Jong-Nam, filho mais velho de Kim Jong-Il, já foi considerado o provável herdeiro da Coreia do Norte, mas perdeu o favoritismo de seu pai após uma tentativa frustrada em 2001 de entrar no Japão com um passaporte falso para visitar a Disneyland.
Desde então, viveu em um virtual exílio, principalmente no território chinês de Macau.
Kim Jong-Un assumiu o poder como líder norte-coreano após a morte de seu pai, em dezembro de 2011.
Kim Jong-Nam, conhecido como um defensor da reforma no Norte, disse certa vez a um jornal japonês que se opunha às transferências dinásticas de poder que ocorrem na Coreia do Norte.
Ele teria sido próximo de seu tio Jang Song-Thaek, que atuou como o número dois não-oficial do governo e o mentor político do atual líder, antes de ser morto pelo regime.
Cheong Seong-Jang, pesquisador sênior do think tank Sejong Institute de Seul, disse que Jong-Nam vivia quase em um exílio, o que tornava improvável que Jong-Un o encarasse como uma potencial ameaça ao seu poder.
"Mas se Jong-Nam cometeu um ato para prejudicar a autoridade de Jong-Un, acho que é possível que o Escritório Geral de Reconhecimento tenha realizado diretamente o assassinato sob as ordens de Jong-Un, uma vez que ele era o responsável por observar Jong-Nam de perto", acrescentou.
Jong-Nam já havia se tornado um alvo no passado. Em outubro de 2012, promotores sul-coreanos informaram que um norte-coreano detido como espião admitiu ter participado de um complô para encenar um acidente de carro na China em 2010, tendo como alvo Kim Jong-Nam.
Em 2014, foi informado que Jong-Nam estava na Indonésia - foi visto em um restaurante italiano em Jacarta - e aparentemente estava vivendo entre Cingapura, Indonésia, Malásia e França.
Em 2012, um jornal de Moscou relatou que Jong-Nam estava tendo problemas financeiros depois de ter sido desvinculado do Estado estalinista por ter criticado sua política de sucessão.
O semanário Argumenty i Fakty informou que foi expulso de um hotel de luxo em Macau por uma dívida de 15.000 dólares.
No ano passado, a Coreia do Sul alertou sobre possíveis tentativas de assassinato norte-coreanas em seu território. Lembrou tentativas anteriores de assassinar Hwang Jang-Yop, ideólogo-chefe do Norte e antigo tutor de Kim Jong-Il, que desertou para o Sul em 1997 e morreu de causas naturais em 2010.
Jong-Nam nasceu do relacionamento extra-conjugal de seu pai com Sung Hae-rim, uma atriz de origem sul-coreana que morreu em Moscou.