Mundo

Meghan é vítima de racismo? A questão que cria mal-estar no Reino Unido

Debate foi aberto após o anúncio do príncipe Harry e de sua esposa de sua retirada das obrigações reais

Megan Markle: casal se afastará de obrigações reais (Toby Melville/Reuters)

Megan Markle: casal se afastará de obrigações reais (Toby Melville/Reuters)

A

AFP

Publicado em 14 de janeiro de 2020 às 13h32.

Última atualização em 14 de janeiro de 2020 às 13h34.

São Paulo — Para seus apoiadores nos Estados Unidos, a questão é clara: Meghan foi vítima de racismo desde sua chegada à família real britânica, precipitando sua decisão de se retirar de seu convívio. Uma ideia que o Reino Unido tem problemas para engolir.

O debate foi aberto após o anúncio do príncipe Harry e de sua esposa de sua retirada das obrigações reais. E a ideia de que o "Megxit" tem a ver com racismo cria muito desconforto.

No entanto, desde o início do relacionamento, em novembro de 2016, o príncipe Harry divulgou um comunicado à imprensa denunciando "o tom racista de comentários" na imprensa e o "sexismo aberto e racismo das redes sociais" contra aquela que ainda era apenas sua namorada.

E ninguém esquece a postagem no Twitter por um apresentador da BBC, logo após o nascimento do filho do casal Archie em maio, da foto de um casal segurando um chimpanzé, sob o título "O bebê real deixou o hospital".

Danny Baker foi demitido por ter cometido "um grave erro de julgamento".

"DNA exótico"

Também foi perturbador o comentário da irmã do primeiro-ministro conservador Boris Johnson, Rachel, no Mail on Sunday em novembro de 2016 de que Meghan era "geneticamente abençoada" e traria "DNA rico e exótico" para a família "pálida" de Windsor.

Entre a família Windsor, a princesa de Kent usou um broche antigo em forma de cabeça de negro, uma joia que lembra o passado colonial e escravagista, durante uma refeição de Natal com o jovem casal no Palácio de Buckingham em 2017. A princesa então se desculpou categoricamente.

No entanto, o contra-ataque foi rápido: Priti Patel, ministra do Interior oriunda de uma família de imigrantes, garantiu na segunda-feira à BBC que o racismo não havia tido papel na retirada do casal.

Patel disse que "não viu nada do tipo" na cobertura da mídia e que neste "grande país (...) pessoas de todas as origens podem progredir em suas vidas".

Outro tipo de resposta: lembrar que outras mulheres da família real, começando por Lady Diana, também foram vítimas de assédio pela mídia, sendo o sexismo o principal argumento.

"Infelizmente, a imprensa usa a raça de Meghan para criticá-la", admitiu na sexta-feira o especialista em etiqueta e editorialista do Mail on lineWilliam Hanson.

Mas ele se apressou a acrescentar: "assim como eles (a mídia) usaram a classe social para rebaixar Catherine", a esposa do príncipe William.

"Toxicidade" dos tabloides

No entanto, os tabloides rapidamente se uniram contra Meghan, batizando-a de sua "duquesa caprichosa" logo após seu casamento com Harry.

E o tratamento que infligiram a ela excedeu em muito a ferocidade reservada a Kate Middleton, agora adornada de todas as virtudes.

Um deles, o The Sun, o mais vendido do país, abriu suas páginas nesta terça-feira para um comentarista que rejeitou ferozmente a ideia de que "o Megxit" está ligado ao racismo, sob o título "nenhuma prova de racismo na imprensa".

Tom Slater denuncia uma ideia vinda da "esquerda liberal" que "odeia o Brexit, que odeia o povo e que acabou amando a partida dos membros de nossa família real".

No outro extremo do espectro, o The Guardian, de centro-esquerda, lamentou, em um comentário de Nesrine Malik, que a questão do racismo tem se imposto sobre uma celebridade, em detrimento do debate sobre a questão dos privilégios.

Sem dar tempo para "debater seriamente a toxicidade única da cultura dos tabloides" ou a "guinada à direita da nossa cultura política e dos sucessivos governos conservadores que sempre jogaram a favor da rejeição da imigração".

Acompanhe tudo sobre:Família real britânicaReino Unido

Mais de Mundo

Domo de Ferro, Arrow, C-Dome e Patriot: Conheça os sistemas de defesa aérea utilizados por Israel

Smartphones podem explodir em série como os pagers no Líbano?

ONU diz que risco de desintegração do Estado de Direito na Venezuela é muito alto

Quem é Ibrahim Aqil, comandante do Hezbollah morto em ataque de Israel a Beirute