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Medvedev discorda abertamente de Putin sobre a Líbia

Presidente russo acredita que nunca é aceitável que se utilize expressões que provoquem um choque de civilizações, como fez o premiê do país

Dmitri Medvedev, presidente da Rússia, e o primeiro-ministro Vladimir Putin (ao fundo) (Ivan Sekretarev/AFP)

Dmitri Medvedev, presidente da Rússia, e o primeiro-ministro Vladimir Putin (ao fundo) (Ivan Sekretarev/AFP)

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Da Redação

Publicado em 21 de março de 2011 às 14h45.

Moscou - O presidente russo, Dmitri Medvedev, criticou os comentários do primeiro-ministro Vladimir Putin sobre a ação militar na Líbia nesta segunda-feira, classificando-os como "inaceitáveis", na que está sendo considerada disputa pública mais aberta entre os dois até hoje.

Nesta segunda-feira, em uma das mais virulentas alfinetadas no Ocidente em anos, Putin criticou a resolução da ONU que autorizou o uso da força na Líbia, comparando-a ao "apelo medieval às Cruzadas".

"Sob nenhuma circunstância é aceitável a utilização de expressões que apenas provocam um choque de civilizações, como 'Cruzada' e por aí vai", condenou Medvedev, citado pelas agências russas.

"Isto é inaceitável. Do contrário, tudo poderia terminar muito pior em comparação com o que está acontecendo agora. Todos devem se lembrar disso", destacou o presidente russo, defendendo a opção da ONU.

Medvedev expressou apoio à resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre a Líbia, em declarações que certamente o ajudarão a angariar mais simpatia dos países ocidentais na disputa com Putin para concorrer nas eleições presidenciais russas, em 2012.

A Rússia, no entanto, não vetou a proposta de ação militar na Líbia apresentada no Conselho de Segurança, abstendo-se da votação e permitindo sua aprovação.

"Não acredito que esta resolução seja um erro. Acredito que também reflita como um todo nossa compreensão dos eventos que estão acontecendo na Líbia", disse Medvedev, citado pelas agências.


"Mas não em tudo", ponderou. "Foi por isso que não usamos nosso direito de veto, foi uma recusa qualificada do veto, com consequências bem claras".

"Agimos desta forma conscientemente, de acordo com instruções dadas por mim ao ministério das Relações Exteriores".

Os comentários de Medvedev entram, então, em contradição com as declarações de Putin, para quem a resolução é "falha".

"É evidente que (a resolução) autoriza todo o mundo a fazer tudo, independentemente da ação contra um Estado soberano. Isto me faz pensar nas convocações às Cruzadas da época da Idade Média, quando as pessoas eram chamadas para ir a algum lugar e libertá-lo", afirmou Putin nesta segunda-feira, referindo-se à resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU, aprovada na semana passada.

Putin denunciou ainda o uso da força contra outros países - o que, segundo ele, constitui uma tendência marcada dos Estados Unidos.

"O que me preocupa é a rapidez com que hoje são tomadas as decisões no que diz respeito ao uso da força nos assuntos internacionais", completou, acrescentando que "isto vem se tornando uma tendência marcada e uma constante na política dos Estados Unidos".

Medvedev chegou ao Kremlin em 2008, sucedendo a Putin na presidência após dois mandatos de oito anos. Mas isto não o afastou do poder: imediatamente, Putin tornou-se um poderoso primeiro-ministro, participando ativamente do processo decisório do governo.

Desde então, Putin e Medvedev agem em conjunto, raramente discordando em público - e talvez tenha sido esta a primeira vez com este nível de crítica.

Analistas especulam que os Estados Unidos teriam, ao longo dos últimos anos, desenvolvido uma preferência por Medvedev em detrimento de Putin.

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