Mundo

Medida de Trump sobre mineração pode diminuir dependência dos EUA em relação à China, diz Eurasia

Consultoria avalia que nova política para o setor mineral pode auxiliar os EUA a depender menos do suprimento vindo do país asiático

A ordem que Trump assinou exige que agências federais, sobretudo o Pentágono, identifiquem terras do governo onde projetos de mineração poderiam vingar (Andrew Harnik/AFP)

A ordem que Trump assinou exige que agências federais, sobretudo o Pentágono, identifiquem terras do governo onde projetos de mineração poderiam vingar (Andrew Harnik/AFP)

Luiz Anversa
Luiz Anversa

Repórter

Publicado em 29 de março de 2025 às 08h00.

O presidente dos EUA, Donald Trump, assinou recentemente uma ordem executiva sobre mineração que pode abrir portas para mais financiamento governamental e autorizações para explorações no setor. Segundo relatório da consultoria Eurasia, essa nova política move o país numa direção positiva para o suprimento de minerais críticos e pode levar ao "sucesso a longo prazo caso o governo siga colaborando com o Congresso".

"A atenção aos processos governamentais e o foco em toda a cadeia de suprimento de minerais — em vez de apenas na mineração primária — são sinais positivos de que o governo pode enfrentar os verdadeiros riscos à segurança nacional do setor", diz o relatório.

Para a Eurasia, o risco de segurança nacional da indústria dos EUA passa pelo domínio da China no setor midstream, o meio do processo dessa cadeia de mineração. Pequim hoje é dominante no processamento, refino e fundição, algo que é visto com preocupação pelos EUA e aliados.

Em 2023, a China liderou a produção global de minerais refinados essenciais para tecnologias de energia limpa, concentrando a maior parte da oferta de insumos estratégicos usados em baterias e ímãs permanentes.

O país respondeu por 92% da produção de magnetos de terras raras, 91% do grafite natural, 77% do cobalto e 65% do lítio. Também teve participação relevante no cobre (44%) e no níquel (28%).

Membros da OCDE tiveram destaque apenas em três minerais: níquel (5%), lítio (26%) e cobre (8%). Já o restante do mundo liderou apenas em níquel (66%) e cobre (49%).

A medida se aplica a uma variedade de minerais, inclusive aqueles classificados como essenciais para tecnologia militar e energética, e invoca poderes de guerra para ampliar as opções de financiamento federal, o que inclui também o refino e a fundição.

Com a nova política, os EUA farão esforços para encontrar locais que pertencem ao governo federal onde os projetos possam obter aprovações mais rápidas e encontrar maneiras de as agências adquirirem mais suprimentos. Ela define prazos apertados para identificar e agendar revisões rápidas de projetos pendentes importantes.

Trump, em seu primeiro mandato, e Joe Biden demonstraram interesse em construir uma cadeia de suprimentos mais resiliente. Na melhor das hipóteses, domésticas. No pior dos mundos, friendshore. Isso tudo para enfraquecer o poder de fogo da China. Para a Eurasia, a nova ordem de Trump vai exatamente nesse sentido.

Como Trump pode fazer isso

A ordem que Trump assinou exige que agências federais, sobretudo o Pentágono, identifiquem terras do governo onde projetos de mineração poderiam vingar. O prazo inicial é de menos de um mês para identificar possíveis projetos que possam ser acelerados pela lei, com cronogramas etc.

Para a Eurasia, o problema é fazer acontecer diante de muitas demandas reprimidas.

"Centenas de projetos em diversos setores estão tentando chamar a atenção do governo Trump para obter apoio com processos de licenciamento, o que gera o risco de que tantos demandem atenção especial que se torne impossível atender a todos", diz o relatório. "Estabelecer um processo com prazos rigorosos é um passo importante para definir prioridades concretas que o governo possa realmente executar."

Trump também invocou poderes de guerra por meio do Defense Production Act e pediu a várias agências de desenvolvimento, incluindo a US International Development Finance Corporation, para ajudar com o financiamento. Biden e Trump, em seu primeiro mandato, pediram esses poderes de guerra para o mesmo propósito.

A consultoria aponta que os EUA podem ter ganhos caso o Congresso "compre" essa briga e passe a formular mais políticas para esse setor estratégico. O Capitólio teria que aprovar mais recursos para expandir o apoio federal por meio dos veículos de financiamento implantados na ordem de Trump. A Eurasia indica que há um apoio bipartidário "saudável" no Congresso para fazer isso, mas provavelmente não antes de 2026.

O foco republicano em reestrutura da máquina pública e cortes de impostos provavelmente dominará o Congresso por meses. A partir de 2026, provavelmente haverá mais espaço para o Congresso aumentar o financiamento, tentar estimular mais demanda doméstica ou expandir a aquisição de minerais federais e fornecer programas de desenvolvimento, segundo o documento da Eurasia.

Acompanhe tudo sobre:Donald TrumpMineraçãoChina

Mais de Mundo

Em novo ataque à presidência do Fed, Trump diz saber mais sobre juros do que Powell

China cria lista secreta de isenção de tarifas para aliviar guerra comercial com os EUA, diz Reuters

Bebês retirados do Vietnã durante a guerra buscam suas mães 50 anos depois

Trump defende tarifas, política anti-imigração e ataca Biden em discurso de 100 dias de mandato