Agência de notícias
Publicado em 1 de setembro de 2025 às 09h30.
Depois de um ano e meio de impasse, os corredores dos hospitais sul-coreanos começam a voltar à normalidade. Mais de 10 mil médicos — entre internos e residentes — retomaram gradualmente suas funções, colocando fim à mais longa greve da história da medicina no país, em um movimento que paralisou serviços essenciais e deixou sequelas tanto para a categoria quanto para o governo.
A crise teve início em fevereiro do ano passado, quando o então presidente Yoon Suk Yeol anunciou um ambicioso plano de aumentar em 65% as vagas em faculdades de medicina ao longo de cinco anos. A proposta levou estudantes e médicos em formação a abandonar salas de aula e hospitais, em protesto contra uma medida que, segundo eles, não atacava os verdadeiros problemas do sistema de saúde.
Os grevistas argumentavam que a expansão de vagas não resolveria desigualdades internas da profissão, sobretudo em áreas críticas como pediatria e emergência, onde médicos enfrentam jornadas de até 80 horas semanais por salários em torno de US$ 3 mil. Também havia temor de que o aumento acelerado de novos profissionais comprometesse a qualidade do atendimento.
A escalada do conflito colocou o governo contra a categoria. Yoon determinou o retorno imediato dos médicos, ameaçando cancelar licenças e abrir processos judiciais. A maioria resistiu, prolongando a paralisação por 18 meses. Nesse período, cirurgias e tratamentos foram suspensos, enfermeiros assumiram funções médicas e médicos militares foram deslocados para hospitais civis.
A população, por sua vez, demonstrou crescente irritação tanto com o governo quanto com os grevistas, diante do risco imposto aos pacientes.
O desfecho só veio após uma reviravolta política. Em abril, pouco depois de Yoon ser destituído do cargo por decretar lei marcial, o governo recuou, mantendo a cota de admissões em 2026 no patamar original de cerca de 3 mil estudantes e deixando os anos seguintes em aberto para negociação.
Com a posse do novo presidente Lee Jae Myung, o tom mudou. Em agosto, a Associação Médica Coreana aceitou o retorno escalonado de internos e residentes.