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Médicos infectados e falta de recursos agravam coronavírus na Itália

Até o último domingo, a Itália confirmou 5.476 mortes e 59.138 casos de coronavírus

Médicos infectados e falta de recursos agravam surto de coronavírus na Itália (Antonio Masiello/Reuters)

Médicos infectados e falta de recursos agravam surto de coronavírus na Itália (Antonio Masiello/Reuters)

Isabela Rovaroto

Isabela Rovaroto

Publicado em 23 de março de 2020 às 13h02.

Última atualização em 23 de março de 2020 às 15h41.

 No hospital italiano Oglio Po, 25 dos 90 médicos estão infectados com o coronavírus, o que agrava a pressão enfrentada por um sistema de saúde sobrecarregado pelo segundo pior surto do mundo.

Somando-se a isso, enfermeiras, técnicos e outros funcionários, um quinto dos empregados do hospital foi diagnosticado com a doença, disse a diretora Daniela Ferrari.

Eles e agentes de saúde como eles quase certamente disseminaram o vírus involuntariamente antes de precisarem de tratamento ou de se isolarem, disseram pesquisadores e sindicatos.

O quadro é o mesmo em outros hospitais, entre famílias de médicos e em casas de repouso – exacerbado pela falta de máscaras e luvas suficientes quando o surto foi detectado um mês atrás, dizem líderes do setor, sindicatos e médicos.

"Estamos no limite de nossas forças", disse o doutor Romano Paolucci, que abandonou a aposentadoria para ajudar o hospital Oglio Po, próximo de Cremona, uma das cidades mais atingidas da região da Lombardia.

"Não temos recursos suficientes, e especialmente funcionários, porque, além de todo o resto, agora os funcionários estão começando a adoecer."

Na Lombardia, região com o maior número de casos e mortes, ao menos dois hospitais se tornaram focos de contaminação – pacientes contaminaram pessoal médico, que em seguida espalhou a doença ao circular em suas comunidades antes de uma interdição severa ser imposta.

Este é um dos fatores que vêm ajudando o vírus a se disseminar tão rapidamente, disse Giuseppe Remuzzi, diretor do Instituto de Pesquisa Farmacológica Mario Negri.

"Pacientes infectaram outros pacientes e médicos, que depois saíram e contaminaram outros", explicou Remuzzi.

Em nível nacional, 4.268 agentes de saúde – ou 0,4% do total – haviam contraído o vírus até 20 de março, de acordo com o Instituto Nacional de Saúde.

Em Bergamo, cidade do nordeste da Lombardia, 134 de 600 médicos de família – ou 22% – adoeceram ou foram postos em quarentena, disse Guido Marinoni, chefe da associação local de clínicos gerais. Três médicos morreram.

Nas casas de repouso da cidade, a situação é ainda pior, já que 1.464 de 5.805 agentes de saúde adoeceram, disse.

Militares italianos detêm passageiros que querem fugir da covid-19

A polícia e o Exército italianos estão controlando quem procura trens para outras cidades. Decreto do governo do primeiro-ministro, Giusseppe Conte, assinado no sábado (21) impede os deslocamentos entre regiões e cidades.

No domingo, 22, 120 passageiros foram impedidos de embarcar na estação central de Milão, capital da Lombardia e centro da epidemia do coronavírus na Itália. Nesta segunda-feira, militares do Exército controlavam o embarque na Estação Termini, em Roma.

Conte resolveu estreitar ainda mais as regras de fechamento de atividades na Itália depois de ser pressionado pelos governadores de províncias afetadas, como a Lombardia, e por aqueles do Sul do país que ainda temiam uma fuga moradores do norte em direção a áreas ainda menos afetadas pela covid-19.

Além de controlar os deslocamentos, os decretos de fim de semana de Conte mandam fechar até 3 de abril todas as atividades não essenciais na Itália. A Pirelli, por exemplo, fechou; já a Barilla, não. Isso porque toda a indústria automobilística foi paralisada, enquanto a de alimentos pôde permanecer aberta.

Na última semana, o governador Attilio Fontana (Lombardia) havia pedido medidas mais drásticas ao governo italiano. Ele está senso assessorado por médicos chineses que enfrentaram a epidemia de coronavírus com o toque de recolher na China.

Fontana emitiu um decreto que é ainda mais rígido do que o de Conte e determinou o fechamento na região de negócios que haviam passado ilesos nas determinações do primeiro-ministro.

Esses são os casos dos escritórios de advocacia e dos de contabilidade, que fecham na Lombardia enquanto permanecem abertos no restante do país.

Davide Camparini, assessor da região lombarda, criticou o governo Conte: "Disse que deveríamos ter esperado. Aqui se está morrendo. Na Lombardia, os hotéis serão fechados, os escritórios profissionais serão fechados e a desobediência será punida com 5 mil euros de multa", afirmou ao Corriere della Sera.

A Itália havia registrado até domingo 59.138 casos de coronavírus no país, dos quais 5.476 pacientes morreram e 7.024 foram curados. Sozinha, a Lombardia contava no domingo com mais mortos do que a China. Foram 3.456 e 5.865 pacientes curados. Ao todo 17.889 pessoas estavam em tratamento em razão da covid-19 na região. (Com agências internacionais).

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