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Médicos dizem que não acharam veneno em Navalny, opositor russo

Navalny, que vem sendo uma das principais vozes contra o presidente russo Vladimir Putin, está inconsciente. Parentes querem transferi-lo para o exterior

Alexey Navalny: opositor russo está internado em estado grave (Oleg Nikishin/Epsilon/Getty Images)

Alexey Navalny: opositor russo está internado em estado grave (Oleg Nikishin/Epsilon/Getty Images)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 21 de agosto de 2020 às 10h01.

Última atualização em 21 de agosto de 2020 às 12h25.

Os médicos que tratam o opositor russo Alexei Navalny, em cuidados intensivos após passar mal durante um voo ontem, disseram nesta sexta-feira, 21, que não encontraram "nenhum veneno" em seu organismo. Enquanto isso, seus parentes e aliados afirmam que ele foi envenenado com substâncias misturadas em seu chá e tentam transferi-lo para o exterior. 

"Até o momento, nenhum veneno foi identificado no sangue e na urina, não há traços dessa presença", declarou a jornalistas Anatoly Kalinichenko, vice-diretor do Hospital de Emergências nº 1 de Omsk, onde o opositor foi admitido. "Não acreditamos que ele tenha sofrido envenenamento", continuou. Segundo ele, o estado de Navalny é "instável", o que não permite sua transferência para o exterior.

Aos 44 anos, Navalny é um dos principais opositores do governo do presidente russo Vladimir Putin. A família e os aliados de Navalny consideraram a recusa do hospital de liberar sua transferência como uma "ameaça à vida" do opositor. Um avião médico fretado por uma ONG já espera em Omsk, na Sibéria, com a esperança de levá-lo para a Alemanha.

França e Alemanha ofereceram na quinta-feira, 20, "toda ajuda médica" ao opositor e cobraram esclarecimentos sobre as circunstâncias que o levaram à internação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital, em coma e conectado a um respirador artificial.

O chefe do hospital onde está o político, o médico Alexander Murakhovsky, também determinou que a questão da transferência era "prematura" antes de "uma estabilização completa do paciente".

Segundo o médico, a principal hipótese é a de um "desequilíbrio glicêmico, ou seja, um distúrbio metabólico" no opositor, que pode ter sido causado por "uma queda brusca dos níveis de açúcar no sangue".

O hospital também deve resolver "certas questões jurídicas" antes de permitir que os médicos europeus consultem Navalny. Especialistas de Moscou chegaram durante a noite para examiná-lo.

Presidente da Rússia, Vladimir Putin

Presidente da Rússia, Vladimir Putin: nos últimos anos, uma série de figuras de oposição ao governo sofreu ataques (Mikhail Svetlov/Getty Images)

Sem confiança no governo russo

Os médicos que cuidam do caso disseram que os testes continuariam por dois dias. Não houve complicações durante a noite e o estado de saúde do opositor melhorou ligeiramente esta manhã, embora continue inconsciente.

A recusa de transferir Navalny para o exterior foi denunciada por seu braço direito Leonid Volkov como uma "decisão política e não médica". "Eles esperam que as toxinas saiam e deixem de ser detectáveis no corpo. Não há diagnóstico ou análise. A vida de Alexei corre grande perigo", escreveu no Twitter.

O Kremlin, por sua vez, considerou que se trata de uma decisão "puramente médica" e que os médicos russos estão fazendo "todo o possível para apurar as razões do problema de saúde do paciente e para curá-lo".

A porta-voz do opositor, Kira Iarmych, estimou que seria "fatalmente perigoso" deixá-lo no hospital "não equipado" de Omsk. "A recusa da transferência de Navalny só serve para ganhar tempo e esperar até que o veneno não seja mais detectado em seu corpo", garantiu ela no Twitter.

"Não podemos confiar neste hospital e exigimos que nos seja devolvido para que possamos tratá-lo num hospital independente", insistiu a esposa do adversário, Yulia Navalnaïa, que pediu ao presidente Vladimir Putin que permita sua transferência para a Alemanha.

A embaixada americana em Moscou estimou que, se a tese do envenenamento for verdadeira, seria "um momento sério para a Rússia".

"Preocupada", a União Europeia apelou a uma "investigação rápida, independente e transparente" da situação. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos insistiu que o opositor "receba todos os cuidados adequados".

Vítima de outros ataques

Navalny, que é advogado, faz ao longo dos últimos dez anos postagens sobre a corrupção das elites russas. Navalny e seu Fundo de Combate à Corrupção (FBK), criado em 2012, são constantemente perseguidos pelas autoridades e enfrentam multas e buscas seguidas.

Nos últimos dias antes de passar mal, Navalny fez campanha pelos candidatos da oposição para as eleições regionais de setembro. Em 2018, ele próprio tentou se candidatar à eleição presidencial para enfrentar Putin, mas teve a candidatura barrada.

O opositor já sofreu ataques documentados. Em 2017, ele teve queimaduras em um olho quando indivíduos jogaram um líquido desinfetante em seu rosto.

Em julho de 2019, quando cumpria uma breve pena de prisão, também alegou ter sido "envenenado" com um "material químico desconhecido" e foi transferido para um hospital. As autoridades afirmaram que se tratou de uma "reação alérgica" e não encontraram "nenhuma substância tóxica" em seu organismo.

Vários adversários do Kremlin foram envenenados em condições suspeitas nos últimos anos, na Rússia ou no exterior. Em março de 2018, um ex-agente duplo e sua filha, Serguei e Yulia Skripal, foram encontrados inconscientes em um banco em uma pequena cidade no sul da Inglaterra. Londres acusou Moscou de estar por trás de um envenenamento com Novichok, um poderoso agente nervoso fabricado na era soviética, acusações que o Kremlin negou. Este caso provocou uma crise diplomática.

Em 2006, um ex-agente secreto russo no exílio, Alexander Litvinienko, morreu vítima de polônio-210, uma substância radioativa extremamente tóxica. Londres também acusou Moscou.

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