O mediador da ONU para a Síria, Lakhdar Brahimi: ele "ressaltou a urgência de pôr fim ao banho de sangue" (Atta Kenare/AFP)
Da Redação
Publicado em 15 de outubro de 2012 às 18h28.
Damasco - O mediador da ONU para a Síria, Lakhdar Brahimi, pediu nesta segunda-feira uma trégua durante a próxima grande festa muçulmana de Al-Adha, no fim de outubro, no início do vigésimo mês da eclosão de uma rebelião que se transformou em guerra civil.
O apelo de Brahimi, em viagem pela região, é lançado no momento em que os combates entre rebeldes e tropas do governo são cada vez mais intensos no país, onde mais de 33.000 pessoas morreram em 19 meses, civis em sua grande maioria, segundo uma ONG síria.
O Exército síria, que bombardeia diariamente os redutos rebeldes, negou que tenha recorrido a bombas de submunições, como havia acusado a ONG Human Rights Watch.
No momento em que não há solução à vista para o conflito em razão das divergências entre os países ocidentais, de um lado, e Rússia, China e Irã, de outro, a União Europeia reforçou nesta segunda-feira suas sanções contra o regime de Bashar al-Assad.
Durante uma visita a Teerã, um aliado de Assad, Brahimi "pediu que as autoridades iranianas ajudem no estabelecimento de um cessar-fogo na Síria durante o Eid al-Adha" e "ressaltou a urgência de pôr fim ao banho de sangue".
Esta grande festa muçulmana será celebrada este ano, de 26 a 28 de outubro.
Já o Irã propôs a Brahimi um "período de transição incluindo a realização de eleições presidencial e legislativa (...) sob a supervisão do presidente Assad", segundo o vice-ministro iraniano das Relações Exteriores, Hossein Amir-Abdollahian.
No dia 10 de outubro, Damasco havia rejeitado um apelo do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, por um cessar-fogo unilateral.
Depois de Teerã, Brahimi foi nesta segunda-feira a Bagdá, onde o governo evita pedir a saída de Assad.
Ao fim de seus encontros com as autoridades iraquianas, Brahimi declarou ter "falado da Síria, de seus múltiplos problemas e do perigo que isso representa para o povo sírio, para os vizinhos da Síria e para a paz mundial".
O primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, reiterou o "apoio" do Iraque aos esforços do emissário "para que seja alcançada uma solução política para a crise", segundo o seu gabinete.
Brahimi negou que queira pedir o envio de uma força de manutenção da paz à Síria, como havia afirmado um dirigente da oposição síria em Doha.
Depois de ter passado por Arábia Saudita, Turquia, Irã e Iraque, o emissário deve visitar o Egito, aonde ele deverá chegar nesta segunda à noite, segundo uma fonte da Liga Árabe.
No terreno, 80 pessoas morreram nesta segunda-feira em episódios de violência, sendo 39 civis, 12 rebeldes e 38 soldados, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
A violência não poupa nem o patrimônio histórico. Joia histórica da segunda maior cidade da Síria, a Grande Mesquita dos Omíadas de Aleppo ficou muito danificada após combates entre tropas do regime e rebeldes, segundo um correspondente da AFP no local.
Dentro da mesquita construída no século VIII, e depois reconstruída no século XIII, os tapetes estavam queimados e o piso estava coberto de cápsulas de balas e vidros estilhaçados. Relíquias que, segundo a tradição, pertenceram ao profeta Maomé foram roubadas.
No domingo, o Exército retomou o controle total da mesquita, que os rebeldes haviam ocupado na véspera, de acordo com uma fonte militar e uma ONG. Assad, formou nesta segunda-feira uma comissão encarregada de restaurar o local.
No pulmão econômico do país, os rebeldes intensificaram as suas ofensivas, segundo o OSDH.
Damasco nega que utilize bombas de submunições
O Exército realiza um contra-ataque no sul de Aleppo e na região vizinha de Idleb para retomar posições importantes conquistadas pelos insurgentes. A ofensiva terrestre é antecedida por ataques aéreos.
As forças de Assad tentam também combater uma ofensiva rebelde contra a base militar de Wadi Deif, a maior de Idleb. Nesta região, os insurgentes também impediram a chegada de 30 veículos de apoio à Aleppo, segundo o OSDH.
Os rebeldes tomaram o controle em 9 de outubro da cidade estratégica de Maaret al-Nooman, situada em uma rota estratégica para a segunda maior cidade síria, e ainda conseguiam impedir a chegada de reforços militares à cidade.
Em um comunicado divulgado pela agência oficial Sana, o Exército sírio desmentiu que tenha recorrido a bombas de submunições conta os "grupos armados terroristas", acrescentando que "não possui este tipo de armamento".
No domingo, a Human Rights Watch havia indicado que as forças de Assad tinham atacado "zonas habitadas" com bombas de submunições.
O conflito causou uma grande crise com a vizinha Turquia -que apoia a rebelião e abriga mais de 100.000 refugiados sírios- depois da morte de cinco civis turcos na queda de um morteiro sírio perto da fronteira, no dia 3 de outubro.
Alguns dias depois de ter interceptado um avião civil sírio acusado de transportar material militar russo para o regime, a Turquia parou nesta segunda um avião de carga armênio com destino a Aleppo.
Este controle "mostra que levamos muito a sério" as sanções internacionais contra Damasco, principalmente relacionadas ao fornecimento de armas, indicou o vice-primeiro-ministro turco, Bulent Arinç.
Enquanto isso, uma jornalista ucraniana na Síria, que apoiava abertamente o regime de Bashar al-Assad, foi sequestrada por rebeldes sírios, anunciaram nesta segunda-feira as autoridades ucranianas.