Trabalhadores do McDonald's retiram uma lata de lixo de um restaurante da rede na Crimeia, em Simferopol (Reuters)
Da Redação
Publicado em 4 de abril de 2014 às 18h48.
Kiev - O McDonald's anunciou nesta sexta-feira que fechou seus restaurantes na Crimeia, o que provocou o temor de represálias, já que um proeminente político russo pediu que todas as redes de fast food dos Estados Unidos na Rússia sejam fechadas.
A anexação da Crimeia pela Rússia, medida que a Ucrânia e o Ocidente não reconhecem, preocupou as empresas com ativos nessa península do Mar Negro, uma vez que não está claro como a mudança poderá se refletir nos negócios.
Embora o McDonald's não tenha mencionado a situação política na sua declaração, sua decisão de deixar Simferopol, Sebastopol e Yalta pode ser vista como emblemática nas relações Ocidente-Rússia, agora no ponto mais baixo desde o fim da Guerra Fria.
"Como muitas outras empresas multinacionais, o McDonald's está avaliando as potenciais implicações comerciais e regulamentares que podem resultar da evolução da situação na Crimeia", disse a empresa em comunicado.
"Devido à suspensão de serviços financeiros e bancários necessários, não temos opção a não ser fechar os três restaurantes na Crimeia." As lojas da Crimeia não são franquias, pois são operadas pelo próprio McDonald's.
O fechamento se seguiu ao anúncio do Deutsche Post, da União Postal Universal, com sede em Genebra, de que não está aceitando cartas com destino à Crimeia, já que a entrega na região não é mais garantida.
As relações econômicas entre russos e ucranianos têm piorado desde que a Rússia anexou a Crimeia no mês passado, em resposta à destituição do presidente Viktor Yanukovich, apoiado pelo governo russo, depois de meses de protestos de rua em Kiev.
Sanções específicas impostas contra um número determinado de autoridades russas pelos Estados Unidos e a União Europeia vêm alarmando alguns investidores estrangeiros.
A Rússia aumentou na quinta-feira o preço que cobra do gás fornecido à Ucrânia, pela segunda vez nesta semana, quase duplicando o valor em três dias ao cancelar descontos anteriores. Embora possa prejudicar os fornecedores russos, o aumento impõe mais pressão sobre a economia ucraniana, já à beira do colapso.
A Rússia costuma usar a energia como arma política para lidar com os seus vizinhos, e agora seus clientes europeus temem que o país possa novamente cortar sua remessa de gás e petróleo.
O governo ucraniano informou que está procurando alternativas, incluindo a compra de gás de países vizinhos ocidentais, uma opção que implicaria a reversão do fluxo nos dutos transcontinentais.
Pressão Econômica
O governo russo vem aplicando pressão econômica em outras áreas, e a Ucrânia tem respondido a isso.
No mês passado, a polícia antidistúrbios russa assumiu o controle de uma fábrica de doces pertencente a um magnata ucraniano na cidade de Lipetsk, como parte de uma investigação sobre os negócios da empresa, informou o governo ucraniano.
Petro Poroshenko, um oligarca bilionário conhecido como o "rei do chocolate", é o favorito na eleição presidencial da Ucrânia, que está marcada para 25 de maio.
Em resposta, a Ucrânia proibiu temporariamente nesta semana sete empresas russas de alimentos de venderem alguns de seus produtos em território ucraniano.
O McDonald's informou que espera retomar as atividades na Crimeia o mais cedo possível, mas disse que ajudará na recolocação de funcionários no território ucraniano, indicando que não prevê a reabertura dos negócios na Crimeia num curto prazo.
O vice-presidente do Parlamento russo, Vladimir Jirinovsky, conhecido por sua retórica antiocidental, exigiu que o McDonald's se desfaça de todos os seus negócios na Rússia.
O McDonald's, que atualmente opera mais de 400 restaurantes na Rússia, foi a primeira rede internacional de fast food a explorar o mercado russo ao abrir uma unidade na Praça Pushkin, em Moscou, antes do colapso da União Soviética.