Theresa May: era esperado que May vencesse as eleições confortavelmente (Stephane De Sakutin/Reuters)
Reuters
Publicado em 8 de junho de 2017 às 19h57.
Londres - O Partido Conservador da primeira-ministra britânica, Theresa May, não vai conseguir uma maioria parlamentar na eleição desta quinta-feira, de acordo com pesquisa boca de urna, em um resultado surpreendente que coloca a política interna em turbulência e pode atrasar conversas sobre o Brexit.
A pesquisa de boca de urna indica que o partido de May não deve conquistar a maioria dos 650 assentos no Parlamento para assumir o governo sozinho, o que significa que ela terá que formar uma coalizão ou tentar governar com o apoio de outros partidos menores.
De acordo com a pesquisa, os conservadores teriam 314 cadeiras e o Partido Trabalhista 266, o que significa que não há vencedor claro.
Era esperado que May vencesse as eleições confortavelmente.
A pesquisa chacoalhou os mercados financeiros. A libra esterlina caiu mais de dois centavos em relação ao dólar norte-americano.
Foi um fracasso extraordinário para May, que desfrutava uma liderança de 20 pontos ou mais nas pesquisas quando convocou eleições apenas sete semanas atrás.
Mas sua liderança diminuiu gradualmente ao longo da campanha, durante a qual ela retrocedeu em uma proposta de assistência social, optou por não participar de um debate de TV de alto nível com seus oponentes e enfrentou questões sobre seu histórico de segurança após a Grã-Bretanha ter sido atingida por dois ataques militantes islâmicos que mataram 30 pessoas.
"Se a pesquisa for precisa, isso é completamente catastrófico para os conservadores e para a Theresa May", disse à ITV George Osborne, ministro das Finanças conservador de 2010 a 2016, até ser demitido em maio.
Analistas estão tratando a pesquisa com cautela.
Na última eleição, em 2015, pesquisa semelhante previu que o antecessor de May, David Cameron, não obteria a maioria.
Mas à medida que a noite avançou e os resultados foram apurados, ficou claro que, na verdade, ele tinha ganho uma maioria, embora apertada, de apenas 12 assentos.
Esse resultado foi um triunfo para Cameron, pois a previsão era que ele não conseguiria vencer.
Para May, que entrou na campanha esperando ganhar por grande vantagem, mesmo uma estreita vitória durante a noite a deixaria gravemente abalada.
Até que os resultados finais se tornem claros, é difícil prever quem vai formar o próximo governo.
Impasses políticos em Londres podem tirar do rumo asnegociações com outros 27 países da União Europeia para a saída do Reino Unido do bloco.
Um atraso na formação de governo pode adiar o início das conversas sobre o Brexit, atualmente agendadas para 19 de junho, e reduzir o tempo disponível para o que se espera ser as negociações mais complexas da história europeia pós-Segunda Guerra Mundial.
A boca de urna previu que o Partido Nacional Escocês (SNP) ganhará 34 assentos, os Liberais Democratas, de centro-esquerda, 14, o partido nacionalista galês Plaid Cymru três e os Verdes um.
Caso a pesquisa de boca de urna esteja correta, o Partido Trabalhista, liderado pelo socialista veterano Jeremy Corbyn, pode tentar formar um governo com estes partidos menores, que se opõem firmemente à maioria das políticas de May em questões internas, como cortes de gastos públicos.
O fracasso de May em conseguir uma maioria coloca em questão sua posição de líder do Partido Conservador e pode significar uma segunda eleição no Reino Unido neste ano.
May pediu a eleição antecipada para fortalecer seu lado nas negociações do Brexit com os outros 27 países da UE, que devem começar em menos de duas semanas, e afirmar sua posição no Partido Conservador após assumir como primeira-ministra depois do referendo do ano passado sobre a UE.
Caso o Partido Trabalhista, de Corbyn, assuma o poder com o apoio dos nacionalistas escoceses e dos Liberais Democratas, ambos partidos firmemente opostos ao Brexit, o futuro do Reino Unido será muito diferente do que o planejado pelos conservadores e pode até mesmo levantar a possibilidade de um segundo referendo.
May havia prometido buscar um acordo para o Brexit que priorizasse o controle da política de imigração, com o Reino Unido deixando o mercado comum europeu e união aduaneira.
O Partido Trabalhista disse que daria seguimento à saída britânica da UE, mas que descartaria os planos de negociação de May e daria prioridade à manutenção dos benefícios do mercado comum e da união aduaneira.
O partido também propôs aumentar impostos para os 5 por cento mais ricos entre os britânicos, descartar taxas cobradas de estudantes universitários e investir 250 bilhões de libras em planos de infraestrutura.