Atualmente, cerca de um terço da mata atlântica está preservada em fragmentos de até 100 hectares. (.)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.
São Paulo - Depois que sofre fragmentação, a mata atlântica passa a absorver menos carbono da atmosfera. A conclusão é de um estudo feito por brasileiros e alemães que simularam a evolução de fragmentos de florestas por até 400 anos e compararam-na com a de áreas florestais mais extensas.
Atualmente, cerca de um terço da mata atlântica está preservada em fragmentos de até 100 hectares. A distância média entre os fragmentos é de 1,4 quilômetros. Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, o bioma cobria originalmente 1.300.000 quilômetros quadrados, englobando 17 estados brasileiros, mais porções do Paraguai e Argentina. Com a destruição, sobraram cerca de 20% da cobertura original.
A redução da absorção de carbono reflete-se no "peso" da floresta. A mata atlântica intocada contém 250 toneladas de biomassa por hectare (ha). Os pesquisadores descobriram que fragmentos de 100 ha, depois de 100 anos, terão 228 toneladas de biomassa por hectare, 8,8% menos. Já um fragmento de 1 ha tem uma redução de 44%, com apenas 140 toneladas de biomassa por hectare. Fragmentos com biomassa menor também têm menor variedade de espécies, pois possuem menos recursos para alimentar a fauna e menos ambientes onde animais possam habitar.
"A mata fragmentada é como uma criança doente, que não consegue engordar. Se a floresta não está bem, o acúmulo de gás carbônico é incompleto", compara Jean Paul Metzger, professor do Instituto de Biociências (IB) da USP que cooperou com a pesquisa. O estudo foi feito pelo Centro Helmholtz para Pesquisa Ambiental (UFZ), da Alemanha, em parceria com o IB.
<hr> <p class="pagina">A biomassa diminui nas áreas fragmentadas por que elas sofrem mais com as perturbações que acontecem nas bordas da mata. Nessas regiões, chega mais luz e vento e há maior perturbação externa, como pisoteamento pelo gado e entrada de fogo. As árvores maiores acabam morrendo e são substituídas por espécies que conseguem sobreviver nessas condições. Essas plantas, chamadas pioneiras, absorvem menos carbono, têm menor biomassa e morrem mais rápido.<br> <br> Outra causa da diminuição da biomassa é que as partes centrais dos fragmentos podem ficar isoladas. Nesta condição, a população de plantas de maior porte desaparece mais facilmente com doenças e catástrofes naturais, como inundações. A perda de espécies acontece, mas o processo é mais lento do que aquele da borda.<br> <br> <strong>Simulação</strong><br> Para chegar aos resultados, os pesquisadores construíram um programa de computador e simularam como a floresta afetada pela fragmentação se desenvolve durante 100 a 400 anos. Eles alimentaram o programa a partir de um banco de dados da USP com informações sobre árvores em fragmentos de mata atlântica localizados em Ibiúna (SP) e numa área de mata com cerca de 10 mil ha em Cotia (SP), a Reserva Florestal do Morro Grande. O banco de dados detalha as espécies, números de plantas, altura, características ecológicas de mais de 7 mil árvores. O programa consegue determinar a influência de fatores externos e internos na evolução da floresta. </p>