Sua candidatura contava com o respaldo, não só de seu grupo que obteve 29 das 217 cadeiras da Assembleia, mas do movimento islâmico Al Nahda, que tem 89 assentos, e do Atakatol (Fethi Belaid/AFP)
Da Redação
Publicado em 12 de dezembro de 2011 às 18h19.
Túnis - O até então dirigente do partido Conselho Pela República (CPR), Moncef Marzouki, foi eleito nesta segunda-feira o novo presidente da Tunísia com o apoio de 153 parlamentares da Assembleia Nacional Constituinte e se tornou o primeiro líder eleito do país após a queda de Zine el Abidine Ben Ali.
'A confiança é o que distingue a nobreza do ser humano', disse Marzouki em um breve discurso pronunciado após sua eleição para agradecer a confiança dos legisladores.
Dos 202 parlamentares presentes, 44 votaram em branco, três contra e outros dois se abstiveram, em uma eleição secreta na qual Marzouki se apresentava como único candidato depois que outras nove candidaturas foram rechaçadas por não contar com o apoio necessário de 15 parlamentares ou não cumprir os requisitos mínimos.
Além disso, sua candidatura contava com o respaldo, não só de seu grupo que obteve 29 das 217 cadeiras da Assembleia, mas do movimento islâmico Al Nahda, que tem 89 assentos, e do Atakatol, que conseguiu eleger 20 parlamentares nos pleitos do último dia 23 de outubro, os primeiros democráticos.
Estes partidos, que selaram uma aliança parlamentar no dia 21 de novembro, concordaram que a presidência do Estado ficaria com Marzouki, a da Assembleia com Mustafa Ben Yafaar, do Atakatol, e a chefia do Governo com o secretário-geral do partido Al Nahda, Hamadi Jabali.
A expectativa é que Marzouki encarregue Jabali já amanhã da formação de um novo Executivo, que poderia estar pronto até o final desta semana, segundo comentaram à Agência Efe fontes parlamentares.
As atribuições destes três primeiros postos parlamentares, assim como a votação da nova Carta Magna e a convocação de eleições fazem parte de uma 'mini constituição' de 26 artigos aprovada na madrugada do domingo e que abriu as portas para a eleição do presidente e do chefe do Governo.
Neste sentido, o líder do Partido Democrático Progressista (PDP), Najib Chebbi, qualificou de 'mascaradas' as atribuições do presidente que, segundo o dirigente do PDP 'fica submetido à vontade do primeiro-ministro.
As prerrogativas do chefe do Estado incluem a representação do país, a configuração da política externa e a designação do presidente do Governo.
Também assume o comando das Forças Armadas, proclama a guerra ou o fim das hostilidades, e atribui ou revoga funções militares superiores propostas pelo chefe do Governo.
Além disso, pode designar os altos funcionários do Ministério de Relações Exteriores, embaixadores e cônsules, sempre propostos pelo chefe do Governo.
Coincidindo com a reunião parlamentar de hoje, os mais de 200 ativistas acampados na frente da sede do Parlamento, aos quais diariamente se somam centenas de pessoas, anunciaram que continuarão seu protesto até o anúncio da nova Carta Magna.
Segundo disse à Agência Efe um dos organizadores da manifestação, Rami Asgair, fundador do Coletivo 24 de Outubro, a concentração se manterá para 'garantir que não se perca o espírito da revolução e as aspirações do povo por dignidade, trabalho e todas as liberdades'.
Além disso, vários jornalistas tunisianos que cobriram a votação usavam um bracelete vermelho em sinal de protesto contra a decisão da Rádio Nacional Tunisiana de demitir três de seus funcionários.
Os profissionais da informação denunciaram que o ente público já apresentou vários jornalistas ao Conselho de Disciplina, que não é convocado desde 1989, e que consideram o fato 'um assédio à liberdade de expressão'.
A Tunísia se tornou o primeiro país árabe no qual os levantes populares forçaram a renúncia de um presidente e no qual foram realizadas com sucesso as primeiras eleições democráticas não-organizadas pelo Ministério do Interior.
Muitos a consideram o campo de testes das transições árabes em andamento onde as autoridades tiveram que se dobrar, em parte ou totalmente, às exigências populares, como no Egito e na Líbia.