Mundo

Martin Indyk será os EUA nas negociações de paz da Palestina

Diplomata foi o braço direito de Bill Clinton em seu esforço pela paz em 2000 e tem agora o desafio de evitar que o novo diálogo repita os erros daquela cúpula

Secretário de Estados dos EUA, John Kerry, e Martin Indyk deixam a sala de reuniões no Departamento de Estado, em Washington (Yuri Gripas/Reuters)

Secretário de Estados dos EUA, John Kerry, e Martin Indyk deixam a sala de reuniões no Departamento de Estado, em Washington (Yuri Gripas/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 29 de julho de 2013 às 23h11.

Washington - Martin Indyk, nomeado nesta segunda-feira como enviado especial dos Estados Unidos nas conversas entre israelenses e palestinos, foi o braço direito do ex-presidente Bill Clinton em seu esforço pela paz em 2000 e tem agora pela frente o desafio de evitar que o novo diálogo repita os erros daquela cúpula.

Aos 62 anos e após mais de uma década afastado do governo americano, Indyk retoma, nas palavras do secretário de Estado, John Kerry, "à missão de sua vida": apontar o caminho da solução para o conflito entre Israel e os palestinos.

"Ele sabe o que funcionou e o que não funcionou", disse Kerry ao anunciar sua nomeação.

Ex-embaixador em Israel e encarregado do Oriente Médio no Departamento de Estado entre 1997 e 2000, Indyk conta com "uma experiência que lhe deu o respeito de ambas as partes" e uma virtude essencial para o avanço das negociações: "é realista", assegurou Kerry.

Essas qualidades foram postas à prova na cúpula de paz de Camp David, em 2000, quando Indyk coordenou os esforços de Clinton por um acordo de paz entre o então primeiro-ministro israelense, Ehud Barak, e o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Yasser Arafat.

Durante boa parte da última década, Indyk se dedicou a dissecar os motivos daquele fracasso, primeiro como acadêmico do centro de estudos Brookings e mais tarde como vice-presidente dessa instituição.

"O enfoque americano no Oriente Médio demonstrou uma preocupante ingenuidade, que era em parte inocência, em parte ignorância e em parte arrogância", escreveu Indyk em seu livro "Inocentes no Exterior", publicado em 2009.

O diplomata considerou, além disso, que a equipe americana não era firme e "não deixava de voltar atrás", algo que "Barak e Arafat só podiam interpretar como um sinal de fraqueza".

Se escutar seus próprios conselhos, pode-se esperar que Indyk seja nesta ocasião mais firme e procure manter as conversas em segredo, fiel à sua opinião de que "qualquer vazamento alimentará o sistema político israelense" e suas críticas, por isso é necessário deixar "que os resultados falem por si próprios".


Apesar de ter começado sua carreira no grupo de pressão pró Israel Aipac em 1982, Indyk não é considerado especialmente complacente com Israel e rejeita as versões de que a cúpula de Camp David fracassou por culpa de Arafat.

Nascido em Londres em 1951 e educado na Austrália, onde se formou em Economia pela Universidade de Sydney e fez doutorado em Relações Internacionais pela Universidade Nacional Australiana, Indyk obteve a cidadania americana em 1993.

Seu primeiro contato com Israel aconteceu nos anos 1970, quando estudava em Jerusalém e testemunhou "a agonia da Guerra do Yom Kippur de 1973" e "como (o ex-secretário de Estado) Henry Kissinger alcançou um cessar-fogo que acabou com a guerra e abriu o caminho para paz entre Egito e Israel".

"Desde então, e durante 40 anos, estive convencido de que a paz é possível", assegurou o diplomata ao ser nomeado para o cargo.

Após sua chegada a Washington, Indyk foi professor adjunto na Universidade John Hopkins e diretor do Instituto de Washington para Política de Oriente Médio.

Divorciado e com dois filhos, Sarah e Jacob, Indyk começou sua carreira diplomática em 1993, quando se tornou assistente especial de Clinton e diretor para Assuntos do Oriente Médio e o Sul da Ásia no Conselho Nacional de Segurança da Casa Branca.

Em 1995, foi nomeado embaixador dos EUA em Israel, posto que deixou em 1997 para ser o encarregado no Oriente Médio no Departamento de Estado e que retomou em 2000.

Foi no final desse ano que a então secretária de Estado, Madeleine Albright, revogou por um mês sua credencial diplomática Indyk após ter seu nome envolvido com o desaparecimento de um computador portátil com informações secretas da política externa dos EUA.

Mas esse episódio não manchou sua reputação, que o transforma agora em um homem de confiança para o governo americano, convencido, apesar de várias décadas de tropeços, que a paz não é uma "missão impossível".

"Há 15 anos, meu filho Jacob, que tinha 13, desenhou um protetor de tela para meu computador que consistia em uma simples pergunta: Papai, já há paz no Oriente Médio?", lembrou Indyk.

Após anos respondendo com um resignado "ainda não", Indyk parece ter genuína confiança que, desta vez, os mediadores americanos poderão dizer: "conseguimos".

Acompanhe tudo sobre:Conflito árabe-israelenseDiplomaciaEstados Unidos (EUA)Países ricos

Mais de Mundo

Comissão de investigação civil culpa Netanyahu por ignorar indícios de ataques de 7 de outubro

Grupos armados bloqueiam distribuição de ajuda humanitária em Gaza

Assembleia da França decide sobre acordo UE-Mercosul nesta terça em meio a protestos

Israel se pronuncia sobre acordo de cessar-fogo com o Hezbollah