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Marchas contra feminicídio marcam Dia da Mulher na América Latina

No México, onde uma média de 7,5 mulheres são assassinadas diariamente, milhares de pessoas, a maioria mulheres, participou de uma passeata

Protesto no México contra feminicídio (Guadalupe Pardo/Reuters)

Protesto no México contra feminicídio (Guadalupe Pardo/Reuters)

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AFP

Publicado em 9 de março de 2018 às 06h43.

Última atualização em 7 de agosto de 2018 às 14h28.

Espremidas, a passos lentos, milhares de mulheres vestindo camisetas na cor lilás e lenços verdes marcharam nesta quinta-feira (8) em São Paulo, Buenos Aires, México e várias capitais latino-americanas para repudiar a violência de gênero, em um protesto que demonstrou a proporção de um movimento que não para de crescer.

Na Avenida Paulista, o protesto teve uma forte participação sindical e diversos cartazes enalteciam a ex-presidente Dilma Rousseff e atacavam seu vice e sucessor no impeachment, o presidente Michel Temer.

"Não queremos homenagens, não queremos mensagens enquanto houver mulheres morrendo, e no Brasil morrem 15 por dia (vítimas da violência de gênero)", disse à AFP Lays Cristina, uma estudante de 25 anos que participou do protesto na Paulista.

"Mulher bonita é a que luta", dizia um dos cartazes com os quais mulheres de todas as idades e condição social tomaram as ruas do centro de Buenos Aires, a ponto de a marcha pelo Dia Internacional da Mulher praticamente não avançar porque seu trajeto já estava tomado pela multidão antes mesmo de começar.

"É preciso fazer barulho. Todos deveriam estar aqui, não só as mulheres. Este dia teria que ser feriado nacional", disse, perto do Congresso, Claudia Morales, uma enfermeira, acompanhada das duas filhas adolescentes.

Outras levaram bebês nos braços ou em carrinhos e as adolescentes mostraram cartazes que diziam: "minha mãe me ensinou a lutar".

A palavra de ordem geral foi o repúdio à violência contra a mulher, em um país de 42 milhões de habitantes que registrou 292 casos de feminicídio em 2017.

Mas também ganhou força este ano o apoio a uma lei de aborto, que o Congresso argentino discutirá pela primeira vez.

A Argentina foi pioneira no movimento contra a violência contra a mulher, com o coletivo "Ni una menos" (Nem uma a menos), surgido em 2015. Três anos depois, o ativismo se espalhou pelo mundo.

No México, onde uma média de 7,5 mulheres são assassinadas diariamente, milhares de pessoas, a maioria mulheres, participou de uma passeata que começou no icônico Anjo da Independência e percorre o centro Paseo de la Reforma. A principal reivindicação é o fim da violência de gênero.

"Matança deliberada"

"É difícil contar. Eu passei por todos os processos", contou Paula, mãe de cinco filhos, ao se referir aos maus-tratos que sofreu durante dez anos de seu ex-companheiro.

"Eu fiz a denúncia quando ele bateu na minha filha, que tinha nove anos e de quem ele é o pai. Mas é preciso bancar a denúncia (sustentá-la). Tenho cinco filhos com ele, dois são portadores de deficiência", contou esta mulher, ativista da organização Corriente Villera.

De fala pausada, Paula afirmou com firmeza: "foi o primeiro homem que me bateu e também o último. Agora está preso, em junho tenho o julgamento".

Embora tenham sido poucos, os homens também participaram da manifestação. Um deles, Gustavo Melmann, pai de Natália, cujo feminicídio, em 2001, foi um dos primeiros a chocar a Argentina, exigiu em meio à multidão "que este massacre deliberado acabe".

Enquanto isso, três amigos marchavam com "máscaras da vergonha pelo que o patriarcado fez".

Descriminalização do aborto

A descriminalização do aborto também foi a palavra de ordem da manifestação celebrada em El Salvador, país com uma das legislações mais drásticas contra este crime.

À frente da marcha estava Teodora Vásquez, libertada em 15 de fevereiro depois de ter ficado presa por quase 11 anos por causa de um parto de emergência.

"É preciso descriminalizar o aborto porque muitas mulheres enfrentam emergências obstétricas, são acusadas penalmente e estão indo para a prisão, onde se debilitam injustamente", disse Vásquez.

Em Honduras, grupos feministas exigiram justiça pela morte, há dois anos, da ambientalista Berta Cáceres, enquanto começava o julgamento contra um suposto autor intelectual do crime.

Nove pessoas foram detidas pelo caso, inclusive o presidente da empresa Desenvolvimentos Energéticos S.A., Roberto Castillo, militar reformado egresso da escola de oficiais americanos de West Point, capturado na sexta-feira anterior a pedido da promotoria.

A ambientalista tinha medidas cautelares da Comissão Interamericana de Direitos Humanos pelas ameaças que sofria de Castillo e outros executivos da empresa por sua oposição à construção de uma represa em um rio que banha o território indígena.

Chile contra o machismo

No Chile, milhares de mulheres, jovens, adultas e idosas, acompanhadas por homens, marcharam no centro de Santiago. "O machismo mata", gritavam mulheres que lotaram várias quadras da avenida Alameda, no centro da cidade, ao som de tambores e batucadas.

Algumas com os seios à mostra, gritavam em defesa de mais direitos para as mulheres.

"Vivemos em uma sociedade que ensina às mulheres a não serem violentadas e não aos homens a não violentar", reclamou Maria, estudante e 20 anos, que participava da manifestação.

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