Embarcação nas Ilhas Kerkennah, Tunísia: barco de pesca ocupado por 180 imigrantes naufragou, matando 112 pessoas (Zoubeir Souissi/Reuters)
Gabriela Ruic
Publicado em 5 de junho de 2018 às 10h54.
São Paulo – O mar Mediterrâneo registrou um final de semana mortal: ao menos 125 imigrantes morreram tentando realizar a travessia marítima rumo à Europa. O número de fatalidades fez do período entre os dias 1 e 3 de junho o pior em 2018 até o agora.
A constatação foi divulgada na manhã desta terça-feira pela Organização Internacional de Migração (OIM).
Segundo dados compilados nos últimos dias pela agência, o último final de semana é, também, a primeira vez em que incidentes graves foram registrados ao mesmo tempo em lugares diferentes.
Só em 2018, continuou o balanço da OIM, 785 pessoas morreram tentando realizar essa travessia, enquanto 33.192 desembarcaram sãos e salvos no continente europeu.
O naufrágio mais grave foi registrado na costa da Tunísia, no qual 112 pessoas morreram no que a agência considera o incidente mais mortal do ano.
O episódio aconteceu na madrugada de domingo, 3, quando uma embarcação de pesca deixou o arquipélago de Kerkennah, que fica a cerca de 20 km da costa próxima da ilha de Lampedusa (Itália).
Segundo a agência, 180 pessoas estavam a bordo (a capacidade máxima era de 90 pessoas) de diferentes países da África que pagaram entre 700 e 1.000 euros (cerca de 3.000 e 4.800 reais).
Duas horas depois de iniciada a navegação, a embarcação foi tomada por água. Do total de ocupantes, apenas 68 sobreviveram, resgatados por autoridades tunisianas.
Embora os episódios registrados no último final de semana tenham sido mortais, o período não é o mais violento quando comparado com outros momentos da crise migratória no mar Mediterrâneo, que ainda persiste, mas parece estar desacelerando.
Em 2015, entre os dias 13 e 18 de abril, naufrágios mataram ao menos 1.214 pessoas. No ano seguinte, um dos piores da crise, os dias 25 e 29 de abril de 2016 registraram 1.114 mortes em travessias.
Os números de chegadas de imigrantes em solo europeu e mortes no Mediterrâneo são menores hoje ante o que foi visto em 2016, quando o mesmo período registrou 2.512 mortes e 16% mais desembarques.
Essa desaceleração, no entanto, não pode ser vista como um alívio no número de pessoas tentando realizar a travessia ou a melhora nas condições de vida que desestimularia a imigração. Pelo contrário, são reflexos de acordos firmados entre os países europeus e do norte da África que compõem as rotas mais usadas.
No caso específico das travessias do Mediterrâneo, um tratado entre Itália e Líbia, por exemplo, prevê investimentos na Guarda Costeira líbia, para que consiga detectar as embarcações no momento da partida e abrigar os imigrantes que tentam atravessar.
Contudo, entidades de defesa dos direitos humanos que atuam na região discordam das estratégias e criticam as medidas.
Segundo a SOS Mediterranee, organização europeia especializada no resgate na região, a atuação da Guarda Costeira nesse caso é considerada abusiva, uma vez que a remoção dos imigrantes das embarcações pode ser feita com violência.
Quando retornam ao solo, o cenário não deixa de ser violento. Uma investigação da rede de notícias CNN conduzida no ano passado revelou um mercado de escravos acontecendo na Líbia no qual imigrantes africanos são vendidos para fazendeiros locais. Relatos de estupros e violência contra mulheres e meninas também são frequentes.