Gustavo Petro, presidente da Colômbia (Agence France-Presse/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 21 de abril de 2024 às 17h34.
Milhares de pessoas tomaram as ruas de Bogotá, Medellín, Cartagena e outras principais cidades da Colômbia neste domingo em protesto contra o governo de Gustavo Petro, em um momento no qual sua popularidade está no vermelho. Os manifestantes protestam contra seus planos para nacionalizar o serviço de saúde e algumas iniciativas de reforma, além da violência que continua apesar das negociações de paz com grupos armados, parte do plano "Paz Total".
As manifestações foram convocadas pelos grupos da oposição e começaram por volta de 9h da manhã (horário local), registradas em pelo menos 20 cidades colombianas. Os protestos reúnem pessoas de todas as idades, e vários setores marcaram presença, entre eles estão organizações médicas, caminhoneiros e antigos aliados.
— Eu votei pela mudança, por Petro, mas ainda estamos na mesma situação. Estou marchando porque ainda acho que a Colômbia tem alguma esperança e amo meu país — disse à AFP Martha Estrada, uma aposentada de 64 anos, usando um chapéu tricolor em Bogotá.
Na capital, a chuva não deteve os manifestantes e dezenas de milhares que avançaram em direção à Plaza de Bolivar, vizinha à sede presidencial, informou a AFP. O balanço da Secretaria de Governo da capital, citada pelo El Tiempo, afirma que há mais de 70 mil manifestantes, e a polícia destacou mais de 1,2 mil agentes de diversas especialidades.
Em Cali, Medellín, onde circulam mais de 200 mil pessoas segundo a Procuradoria Distrital, Barranquilla, Bucaramanga e outras capitais, os manifestantes se juntaram com bandeiras colombianas, camisetas brancas e um grito uníssono: "Fora Petro!"
Petro chegou ao poder em agosto de 2020 como o primeiro esquerdista a governar um país tradicionalmente administrado por elites conservadoras. Com um índice de desaprovação de 60%, de acordo com o instituto de pesquisas Invamer em pesquisa divulgada neste mês, o líder colombiano vem perdendo o apoio das forças políticas no Congresso e também na praça pública, onde costuma ser muito ativo. A porcentagem é a mesma desde junho do ano passado.
Apesar dos protestos contrários, Petro afirmou na sexta-feira que as marchas são "bem-vindas", afirmando que pediu ao Ministério do Interior e da Defesa "que forneçam todas as garantias para que as pessoas se mobilizem e se expressem livremente."
Um dos projetos de reforme de Petro que dividiu o país foi da saúde, quando o presidente começou a implementar vários de seus eixos centrais por via administrativa, diante das dificuldades de obter apoio no Congresso. O líder colombiano quer reduzir a participação privada na prestação de serviços de saúde e, nos últimos dias, interveio em várias das entidades que servem como intermediárias de recursos entre o Estado e os hospitais, a fim de controlar seus orçamentos.
Os especialistas concordam que o sistema está falido e deve ser reformado, mas alguns questionam a maneira como o governo pretende fazê-lo. Sob o nome de "marcha dos jalecos brancos", os médicos expressaram seu "desacordo com a atual gestão do sistema de saúde pelo governo". A mobilização foi convocada pela Associação Colombiana de Cirurgia e pela Associação Colombiana de Sociedades Científicas, que congrega 69 organizações médicas.
De acordo com o Invamer, 56% dos entrevistados em abril rejeitaram que o governo "esteja intervindo em algumas das EPS (Entidades de Promoção da Saúde) na Colômbia para administrar diretamente o sistema".
— Estou aqui como cidadão, médico e colombiano (...) Como médico, você pode ver a deterioração porque não há medicamentos para dar aos pacientes, porque os pacientes demoram mais para receber atendimento e agora estão esperando ainda mais por uma consulta com um especialista — diz Julio Rivero, 35 anos, em Bogotá.
Manifestantes em diferentes cidades carregavam faixas que faziam alusão à insegurança e à violência das guerrilhas e dos traficantes de drogas no campo. A ambiciosa política de "Paz Total" do governo, que visa desativar seis décadas de conflito armado, está sofrendo reveses, e a Invamer apontou que 70% dos colombianos acreditam que o país está "piorando".
Seus opositores rejeitam as concessões recebidas pelos grupos armados em meio às negociações de paz, apesar das frequentes violações dos acordos firmados nas negociações e dos poucos sinais de disposição para depor as armas. Na última terça, o comandante do Estado-Maior Central (EMC), Iván Mordisco, abandonou as negociações.
As negociações com os rebeldes do Exército de Libertação Nacional (ELN) e os dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) também sofreram várias crises devido a assassinatos, sequestros e ataques às forças de segurança.
Os protestos também ocorrem em meio a uma crise hídrica devido a uma grave seca, efeito do El Niño e das mudanças climáticas. As chuvas voltaram no fim de semana, mas não foram suficientes para aplacar a escassez, de acordo com as autoridades. O presidente foi criticado por ser lento na adoção de medidas como o racionamento.
No último dia 15, Petro ordenou a suspensão das exportações de energia para o Equador, o que levou à suspensão das atividades do setor público e privado por dois dias, segundo decreto do presidente Daniel Noboa. Na sexta-feira, Petro decretou um "dia cívico" com um pedido para economizar água e energia e "sair neste fim de semana para lugares em outras bacias hidrográficas para reduzir a pressão do consumo" em Bogotá.
A medida foi vista por alguns dos críticos do presidente como um golpe contra a convocação de protestos deste domingo.