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Manifestantes desafiam a monarquia na Tailândia com uma placa simbólica

Placa fixada com cimento próximo ao Grande Palácio, em Bangkok, desafia o regime monarquista do país

Placa em Bangkok em protesto contra a monarquia: manifestantes pró-democracia querem uma reforma no regime monarquista do país (AFP/AFP)

Placa em Bangkok em protesto contra a monarquia: manifestantes pró-democracia querem uma reforma no regime monarquista do país (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 20 de setembro de 2020 às 12h36.

Manifestantes tailandeses pró-democracia colocaram neste domingo (20) uma placa perto do antigo palácio real em Bangkok, onde se lê que a Tailândia pertence ao povo e não ao rei, um desafio à monarquia, um tabu no país até os dias de hoje. 

A manifestação começou no sábado, reunindo dezenas de milhares de oponentes. Milhares de pessoas continuaram reunidas neste domingo no centro da capital para exigir mais democracia e a renúncia do primeiro-ministro.

Alguns deles também exigem uma reforma da monarquia. É o protesto mais massivo desde o golpe de 2014 que levou ao poder o chefe de governo Prayut Chan-O-Cha, legitimado em eleições polêmicas.

A placa foi fixada com cimento em Sanam Luang, uma praça próxima ao Grande Palácio. “Neste lugar, o povo expressou sua vontade: que este país pertença ao povo e não seja propriedade do monarca”, diz a frase impressa.

“A nação não pertence a ninguém, mas a todos”, acrescentou Parit Chiwarak, uma das figuras nos protestos. "Abaixo o feudalismo, viva o povo", acrescentou.

"Um desafio imediato"

O gesto é altamente simbólico: uma placa, instalada no centro de Bangkok durante anos para comemorar o fim da monarquia absoluta em 1932, foi removida em condições misteriosas em 2017, logo após a ascensão de Maha Vajiralongkorn ao trono.

Este é um "desafio imediato" para a realeza, diz Paul Chambers, um cientista político da Universidade Tailandesa de Naresuan. "O endurecimento do protesto pode levar à violência estatal contra os manifestantes."

Os opositores seguiram então para os escritórios do poderoso Conselho Privado, que ajuda o soberano em suas funções. Um dos organizadores entregou uma carta contendo uma série de demandas ao chefe da polícia real, descobriram jornalistas da AFP.

"É uma primeira vitória, o povo despertou", disse Napassorn Saengduean, um estudante de 20 anos. O Palácio Real não fez comentários.

Os manifestantes, que marcham quase diariamente desde o verão, enfrentam abertamente a monarquia. Eles exigem a não interferência do rei nos assuntos políticos, a revogação da lei draconiana sobre lesa-majestade e a devolução dos bens da Coroa ao estado.

Algo nunca visto na Tailândia onde, apesar da derrocada sucessiva de regimes (12 golpes desde 1932), a monarquia - defendida pelas elites e pelo Exército - permaneceu intocável até agora.

O poder nas sombras

O rei tailandês, além de seu status de monarca constitucional, tem uma influência considerável que frequentemente exerce nas sombras.

A figrua de Maha Vajiralongkorn, que ascendeu ao trono após a morte de seu pai, o venerado Rei Bhumibol, é controversa.

Em poucos anos, ele fortaleceu a autoridade de uma monarquia já muito poderosa, especialmente assumindo diretamente o controle da fortuna real.

As autoridades consideram as exigências à monarquia inaceitáveis. "A polícia foi instruída a agir com paciência. Os manifestantes podem se reunir, mas de forma pacífica e dentro da lei", reagiu o porta-voz do governo Anucha Burapachaisri no sábado.

Outra manifestação está marcada para quinta-feira diante do Parlamento, onde os deputados debatem possíveis mudanças constitucionais. Os organizadores convocaram uma greve geral para 14 de outubro.

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